ANA JÚLIA MACHADO ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA ANALISA O AFORISMO 925 /**LILÁS DE VÊNUS**/ PROJECTO #INTERCÂMBIO CULTURAL E INTELECTUAL#





Neste aforismo # LILÁS DE VÊNUS# de Manoel Ferreira Neto, dá a sensação, de existir um conflito com o seu ser, onde verbaliza que pode ser tudo e não pode ser nada…tudo anda atrás do seu ser, diria que existe neste aforismo um “ prisioneiro de um intelecto prostrado”
Ninharia é verídica. Considera ser o que é. Não é afinal aquilo que considera ser… Incessantemente está atrás.
Poderia ele ser meta de um acometimento ético, mas não é isso que de verdade parece estar sucedendo. Seu intelecto motivou um eu planeado.


Eis a contenda… Isso não considera não ser ele. Essa imaginação me causar crer que não passa de um embuste, ou melhor, exibe deveras o que é. Mas, se concebe aquilo que lhe incumbe ser, como saberá que o que não incumbe ser igualmente não passa de um resultado de seu intelecto? Sente-se intranquilo. Como consegue descrever seu ser? Como conhecerá o que é? Que ideia esclarece o que de facto é? Que lei regerá meu comportamento? Encontrando-se do lado interior, ninharia alvitra ser verídico, nem mesmo o verídico.
O Cristianismo (ou o que causaram dele) quiçá apresente-lhe uma resolução. Tal resolução recorda-lhe privação de independência. Meditar na Cristandade conduz ao intelecto um misto de preceitos, normas e determinação que sugerem crueldade o que deve ou não ser.


Para si, isso se estabelece em uma investida impudente à sua individualidade pois experimenta que existir é mais que isso, é algo mais instintivo e inato. Viver não se restringe a (tentar) realizar um intrincado de normas. Existir não abraça um percurso claro.


Cursa a crença, a sabedoria, a psicologia, a antropologia… mas eternamente colide em seu ser, angustiado, arriscado se revelar. Constantemente existe um chamamento íntimo muito pujante, acarretando-o a aprovar, a pensar que existe algo superior, que encontra-se além de sua intelecção, em cujas garras descobre-se o seu ser – Criador. Sua vida alvitra ser um desfecho instintivo de seus entendimentos e percepções. É aí que repousa o superior de seus conflitos. Como possuir que Criador não é uma reflexão inventada por seu intelecto arriscando facultar sentido para sua existência? Como perceber que ele não é uma criação do homem e sim um achamento?
Não escassas ocasiões, cogita em tudo aquilo que não é e, nesse caso, agarra-se ideando em um Deus. A aflição se institui, pois Altíssimo se alvitra muito com a percepção que possui de tudo aquilo que não é. Analisa então que jamais poderá ser independente. Encontra-se enclausurado no interior de si próprio. Afinal, regressa para o momento primitivo.


Existe eternamente uma “tensão” íntima que nos conduz a possuir crença em alguém que meramente não podemos entender como pretendíamos.


Remata seu aforismo com tudo à busca do ser, tudo á busca do entendimento e sentidos, tudo em busca das luzes, percebimentos, alentos. Se tudo isso permanece, nesse caso, ele é, existe….


Concluo a dizer que não faço a mais pálida ideia se enveredei pelo caminho certo, li e reli várias vezes, fiz e desfiz um montão de vezes…estive para não apresentar..pois foi um texto que tive dificuldade…pois posso seguir vários caminhos…mas o certo, não sei qual é…as interrogações constantes da vida…


Ana Júlia Machado


Em verdade, em verdade, antes de publicá-lo oficialmente, li e reli diversas vezes, fiz algumas modificações, para torná-lo mais transparente, a que veio ele, qual a sua mensagem. Atrás do ser, o aforismo veio para ser "atrás do ser", não apenas no sentido do que há atrás dele, o que ele envela, esconde, oculta, mas conhecê-lo, vivê-lo, experienciá-lo, colocá-lo em questão. É uma busca eterna, as respostas são mínimas.
O que desejei, intencionei mostrar é que o artista, seja qual o seu objeto artístico for, pintura, escultura, poesia, literatura e outras, tem a responsabilidade e compromisso de conhecer os seus limites, as suas finitudes, saber isso são inúmeros passos dados para as buscas cada vez mais profundas. Uma das terapias a que me submeti em 2012 versou sobre os limites de meus conhecimentos e de minha arte, sou um ser finito. Esta terapia ajudou-me sobremodo, reconheci a finititude mas abri horizontes para superá-la e suprassumi-la.
Efetivamente, inestimável amiga e companheira das letras Ana Júlia Machado, a sua análise é fidedigna à obra, mostrou-lhe a abertura, que consiste em colocar a liberdade em questão, a liberdade do Pensamento, a entrega aos questionamentos mais profundos.
Abraços nossos, querida!


#AFORISMO 925/


LILÁS DE VÊNUS#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Epígrafe:


"O sol é a tensão mística do silêncio e o místico, o silêncio do sol."(M.F.N.)


Quero um manto tecido com fios de ouro solar. Certas partes de mim vão brilhar. A pulsação, o ôfego, e a maresia do mar de madrugada é o simplesmente mister para continuar. Sonhador. Idealista. A tecitura re-flita as a-nunciações dos verbos espirituais com seu brilho singular e peculiar, de modo que seja composto um espectro de luzes. O sol é a tensão mística do silêncio e o místico, o silêncio do sol.


Nas minhas viagens aos mistérios, dúvidas, in-certezas, ao in-audito, in-olvidável, ouço as vozes carnívoras, os sonhos verbais, que lamentam tempos imemoriais, pret-éritos: e tenho pesadelos in-decentes, in-decorosos, imorais sob ventos doentios, ventos que ziguezagueiam no espaço, moribundos, que oscilam, tremem e tremelicam, que elevam as folhas e pétalas secas, fazem-nas pairar no vazio, que fazem cair o verde, o viscoso, a vida delas, ao longo do deserto seco.


Lilás de Vênus florando na floração do alvorecer; violeta de ganache esplendendo brilhos e perfumes por todos os horizontes; rosa amarela edênica des-abrochando e respingando no solo as gotículas de orvalho da madrugada... Iríasis luminísticas do belo e esplendoroso. Modos de falar, dizer as coisas, cada um possui os seus, não é verdade?


Sinto-me encantado, seduzido, arrebatado por vozes furtivas, efêmeras, na realidade, passageiras, no imaginário fugaz, o eufemismo não está sendo chamado à vida, se está com comichões de enfeiar, convide o eufemismo, a verdade sonha o espiritual. As letras quase ininteligíveis, os sentidos quase indescritíveis – por que não digo os significantes, as significações, as linguísticas, semiologias, semânticas, filologia também?, não o sei – falam de como conceber, inspirar e escrever sobre o elixir do eterno como se alimentasse as luzes de outras querências, desejanças de outras quimeras, como se regasse as águas de outras paragens, pastagens, outras terras, serras... como se podasse as folhas amarelecidas, secas das roseiras, espalhando-as no canteiro, húmus de outras. Não estando aqui, no instante presente, tudo são escuridões.


Atrás do ser – mais atrás ainda do sensível de si – está o teto que trans-cendia através das idéias, pensamentos e sensações, e aí conquistei o desejo, entregou-se ele a mim, que eu olhava com olhos de lince, com intenções de serpente maligna - ou de espírito malígno? -, de cobra ferina. Conquistei muito além de desejo, conquistei a sensibilidade das coisas do mundo, sinto-as fortes e presentes.


De repente, verto algumas lágrimas, inundam-me a face, escorrem espontaneamente. Aprofundei-me em mim e encontrei que eu quero a vida, e o sentido oculto, resultado e conseqüência de minhas ausências e limites de escrever a vida, tem uma intensidade que tem luz. É a luz secreta ou as trevas de passado remoto, meu rito é purificador de imagens e de espírito, de forças sensíveis e transcendentes.


Lilás de Vênus. Estou tão amplo, tão pleno. Sou coerente: meu cântico de vida e verbos é profundo, é abissal, é abismático. Há melodia de amor e eu nada posso senão amar, entregar-me, descobrir o que é nascer e estar dis-ponível para a Vida em todas as suas dimensões, a vida compartilhada, comungada, o verso-uno. Tudo atrás do ser, tudo atrás do pensamento e idéias, tudo atrás das intuições, percepções, inspirações.


Se tudo isso existe, então, eu sou, sou-me.


(#RIODEJANEIRO#, 03 DE JULHO DE 2018)


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