#AFORISMO 925/ LILÁS DE VÊNUS# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



Epígrafe:


"O sol é a tensão mística do silêncio e o místico, o silêncio do sol."(M.F.N.)


Quero um manto tecido com fios de ouro solar. Certas partes de mim vão brilhar. A pulsação, o ôfego, e a maresia do mar de madrugada é o simplesmente mister para continuar. Sonhador. Idealista. A tecitura re-flita as a-nunciações dos verbos espirituais com seu brilho singular e peculiar, de modo que seja composto um espectro de luzes. O sol é a tensão mística do silêncio e o místico, o silêncio do sol.


Nas minhas viagens aos mistérios, dúvidas, in-certezas, ao in-audito, in-olvidável, ouço as vozes carnívoras, os sonhos verbais, que lamentam tempos imemoriais, pret-éritos: e tenho pesadelos in-decentes, in-decorosos, imorais sob ventos doentios, ventos que ziguezagueiam no espaço, moribundos, que oscilam, tremem e tremelicam, que elevam as folhas e pétalas secas, fazem-nas pairar no vazio, que fazem cair o verde, o viscoso, a vida delas, ao longo do deserto seco.


Lilás de Vênus florando na floração do alvorecer; violeta de ganache esplendendo brilhos e perfumes por todos os horizontes; rosa amarela edênica des-abrochando e respingando no solo as gotículas de orvalho da madrugada... Iríasis luminísticas do belo e esplendoroso. Modos de falar, dizer as coisas, cada um possui os seus, não é verdade?


Sinto-me encantado, seduzido, arrebatado por vozes furtivas, efêmeras, na realidade, passageiras, no imaginário fugaz, o eufemismo não está sendo chamado à vida, se está com comichões de enfeiar, convide o eufemismo, a verdade sonha o espiritual. As letras quase ininteligíveis, os sentidos quase indescritíveis – por que não digo os significantes, as significações, as linguísticas, semiologias, semânticas, filologia também?, não o sei – falam de como conceber, inspirar e escrever sobre o elixir do eterno como se alimentasse as luzes de outras querências, desejanças de outras quimeras, como se regasse as águas de outras paragens, pastagens, outras terras, serras... como se podasse as folhas amarelecidas, secas das roseiras, espalhando-as no canteiro, húmus de outras. Não estando aqui, no instante presente, tudo são escuridões.


Atrás do ser – mais atrás ainda do sensível de si – está o teto que trans-cendia através das idéias, pensamentos e sensações, e aí conquistei o desejo, entregou-se ele a mim, que eu olhava com olhos de lince, com intenções de serpente maligna - ou de espírito malígno? -, de cobra ferina. Conquistei muito além de desejo, conquistei a sensibilidade das coisas do mundo, sinto-as fortes e presentes.


De repente, verto algumas lágrimas, inundam-me a face, escorrem espontaneamente. Aprofundei-me em mim e encontrei que eu quero a vida, e o sentido oculto, resultado e conseqüência de minhas ausências e limites de escrever a vida, tem uma intensidade que tem luz. É a luz secreta ou as trevas de passado remoto, meu rito é purificador de imagens e de espírito, de forças sensíveis e transcendentes.


Lilás de Vênus. Estou tão amplo, tão pleno. Sou coerente: meu cântico de vida e verbos é profundo, é abissal, é abismático. Há melodia de amor e eu nada posso senão amar, entregar-me, descobrir o que é nascer e estar dis-ponível para a Vida em todas as suas dimensões, a vida compartilhada, comungada, o verso-uno. Tudo atrás do ser, tudo atrás do pensamento e idéias, tudo atrás das intuições, percepções, inspirações.


Se tudo isso existe, então, eu sou, sou-me.


(#RIODEJANEIRO#, 03 DE JULHO DE 2018)


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