AFORISMO 937/ DA MORTE DA IDADE MÉDIA PÓS-MODERNA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



A morte dispôs poltronas ao Império Francês
Para o conforto da espera
Instante final e é como
Se vivesse há muitos anos
Antes e depois de hoje,
Já não é apenas o fim particular e limitado,
Nem ave nem mito
Em conforto e solidão e calma e nada.


Deus lhe pague por esse sofrimento seco,
Sem quaisquer lágrimas de cáritas e amor,
Deus lhe pague por esse sentimento de homens juntos,
Que se comunicam sem gesto, sem performance, atitude,
E sem palavras se folgam, se invadem, se apossam
E se silenciam sem lisonja
Deus lhe pague pela inefável poesia, ferindo as almas,
Sob a aparência do recife, dormindo profundamente,
Alguma coisa encoberta de nós ressoe para consolo
E esperança de todos,
Que nem os olhos traíram
Nem as mãos apalparam,
Sopro quente dos mundos.
Deus lhe pague...
Por ser quem me extraio do nada
A que aspiro com volúpia:
O ódio, a repugnância de existir
São outras tantas maneiras de me fazer existir,
De me embrenhar na existência.


Cinzas dos princípios primevos - anteriores a quaisquer genesis -,
Re-nascidas nos umbrais da amoralidade,
Re-feitas no éden da libertinagem.
Que seduzem os dogmas da indecência,
Que bolinam os preceitos da sem-vergonhice,
Que atraem os mandamentos das tramóias e trapulhices,
Res-tauradas nos limbos fétidos da niilidade
Que encanta os interesses da raça, estirpe, laia
Corações perenecidos de utopias, ideologias espúrias,
Viperinos da alienação,
Ausência da fé,
Falta e falha dos sonhos,
Manque-d´être de esperanças
Forclusions de utopias,
Bem-aventuranças salvarem o eidos do sublime,
Res-gatarem a essência da con-tingência,
Re-cuperarem o núcleo dos instintos e natureza,
Insensibilizando as dimensões trans-cendentais,
Razão Pura, Razão Prática,
Fenomenologia do Espírito,
Ser e Tempo, O Ser e o Nada,
Considerações Intempestivas,
Esboço de uma Teoria das Emoções,
A Náusea,
Não seja mister declinar a Poética do Espaço,
Desejos de liberdade, vontade da divinidade, sonhos da estesia.


Ossos, cinzas, nada,
Des-carne das ilusões
In-verbos das fantasias,
Que, nas fontes do uni-verso, além das imanências,
Alimentam-se de a-nunciações do gozo, manifestações do prazer
De serem sementes de gerúndios do sonho no ínterim dos sonos,
Indicativo presente do ser-com a Vida, ser-para-a-morte.


Inda que me encolha em silêncio num canto,
Não me esquecerei de mim,
Como as coisas existem com intensidade,
Sou porque penso que não quero ser.


Palavras, versos, re-versos, in-versos, estrofes,
Acorrentados de signos, símbolos, metáforas
Ao secular, milenar clímax do abismo inaudito,
Indizível, "Ad Perpetuum Nihil"
Fals-itudes plenas e divinas
Fars-itudes absolutas e perpétuas
Versos, re-versos da morte, fim-contingente do corpo,
Recitando evangelhos do sem-verdade de ovelhas,
Declamando as paráclises de Mefistófeles à beira
Do Cócito do Hades, refestelando-se nas chamas da lareira,
Em rebanhos da ausência de fé,
Implorando o des-paraíso terreno, o baldio dos becos sem saídas,
Nos tabernáculos de templos edificados às glórias chifrudas
Da fidelidade ornamentada de prazeres, saltitâncias,
Da lealdade de arrebiques de línguas tocando o éden dos instintos,
Perecendo da alma as quimeras da felicidade,
Fantasias do amor, sorrelfas da cáritas.


O medo tanto produz,
Escritores, este poema,
Até a balada medrosa se parte, se transe
E cala-se.
Estátuas sábias, adeus!...


Estrofes in-versas, inter-ditos re-versos
- do pós-cinzas as moléculas de nonadas, paradigmas do nada -,
Vazio do espírito ad-stringente ao frio milenar,
Cons-tringente ao vácuo secular, ao buraco negro uni-versal
Da des-ética, des-moral, in-Miguilin dos causos da Vida,
Vivenciados nos mata-burros da não-travessia
Das pontes perfeitas de margens e extensão,
Da morte da Idade Média Pós-Moderna
Aos raios de sol que versejam as vers-itudes
Lusitanas da esperança - glória e poder eternos,
Estrofes-itudes do sonho - utopias e sabedoria perenes.


As luzes da ribalta mundial com que os palhaços
Brincam, divertem-se, riem de angústias e tristezas
- "doce criança, com o tempo/você verá a linha,/
A linha em que está dividido o bem e o mal" -
Sonhando o camarim das alegrias
Idealizando a imagem refletida
No espelho do ser-com-os-verbos-do-infinito.


(#RIODEJANEIRO#, 06 DE JUNHO DE 2018)


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