#AFORISMO 951/ ESFINGE... MUSA... SEREIA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



Vocifero sons que vibram solenes e agudos
O sol vem nascendo.
O primeiro raio espreguiça-se inda pelo céu anilado.
Apenas a luz branda e suave da manhã
Esclarece a terra,
Surpreende as sombras indolentes
Que dormem sob as copas das árvores.
É a hora em que o cactus, a flor da noite,
Fecha o seu cálice cheio das gotas do orvalho
Com que destila o seu perfume,
Temendo que o sol creste a alvura
Diáfana de suas pétalas
Lágrimas da noite que tremem como brilhantes
Das folhas das palmeiras...


Quiçá me não reste qualquer propósito de ritmo
Falha-me falta-me ímpeto de ritmo,
Isenta-me e ausenta-me ousadia,
Fluidez de água sentida respingando nas cordas do violino,
Olvidar-me de ribeiro em que as ondas se misturem,
As idéias, as imagens, trêmulas de expressão,
Passam por mim em cortejos sonoros de sedas.


Sou a esfinge... Da esperança abstrata que vagueia solene no espaço celeste abstraindo-me na passagem dos pássaros, condores, águias. Sou a musa... Das cores preenchendo os espaços e traços em harmonia com a inspiração e o sentimento, em sincronia com a visão do há-de vir e a alma. Sou a sereia... Dos mares cujas ondas deslizam na superfície das águas, delineando os interstícios das dimensões sensíveis.


O centro do desejo é cintilante. Desde que me conheço como sendo aquilo a que chamo eu, lembra-me precisar mentalmente em figura, movimentos, caráter e história. O mundo surge enorme, infinito. ... iluminado e tão ininteligivelmente silencioso, vibrante na sua essência, que é afigurado fácil extinguir-se num abrir e fechar de olhos, unicamente afundando-se um pouco no eterno, mergulhando-se um poucochito no absoluto, apenas jubilando-se.


Miríades ondulantes de sêmen.
Resvala o instinto na linha da iniquidade.
Rumina a voz esganiçada da falsidade, da farsa.
Bem-aventurados aqueles que agradam as Musas,
De seus lábios brotam inflexões suaves...
Que signos de paixão em círculo de luz
São gestos, são toques de amor, liberdade?


(#RIODEJANEIRO#, 12 DE JULHO DE 2018)


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