#AFORISMO 959/ DEVANEIO INTROSPECTIVO 62# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



PROJECTO #INTERCÂMBIO CULTURAL E INTELECTUAL - CERIMÔNIA DE INTÉ ANO QUE VEM


Epígrafe:


"...na deleitação convulsa de um sentimento triste em que tantas vezes me(sic) eu perdi..."


O ser libertador
O in-divíduo porfia no que andará pelo Espaço
No seu rumo fulgura e exorciza
De justificação ocorrida e não re-digido,
Feito do fortuitamente entre o in-acabado frutífero
Pois tudo que cunha e que des-abrocha
Pois tudo que lavra e que res-plende, fecunda
São embriões em prenhez de índole ou Númen
Vida noturna de Fase e xis que re-cresce,
Personificação do imo alheio e empobrecido...
In-criado dissimula nas tenebrosidades a veracidade
Da possança e brilho ao sulco arado fecundante...
Que espermatiza e abre, sem jactância!
Refulgem ao resplendor a floresta e a meditação,
À obscuridade as estrelas áureas e a deslocação,
A exuberância do ser libertador.


O ser verbo de sonhos literaliza a angústia das im-perfeições, o vazio dos limites. A essência verbal da carne presentifica o vácuo das melancolias, versejando o nada das esperanças, versificando a nonada das utopias, a sétima lâmina dos desejos corta simples em sublimes fatias as buscas do absoluto, a lâmina sete ponto cinco ceifará humildemente outras cercas, street-royal-flash sempre à busca...


Sentindo-me distante, deixe-me vagar pelo deserto, onde não há rumo, destino - exuberância do ser libertador. Sentindo-me disperso, deixe-me cantando a canção onírica das quimeras, no canto quieto, inquietas as sensações dos questionamentos sem respostas, perguntas des-conexas, certezas oblíquas, obtusas, sem sensos e lógicas, sou vazio de id, ego, superego, feito fortuitamente do inacabado frutífero, sou o branco das páginas sem linhas para escrever, sou o "ec" sem "sistência", porfio no que andará pelo espaço, pervago solene pelas nuvens azuis, pelo branco horizonte do infinito, devaneio introspectivo pelas orlas marítimas.


Deixe-me distante, deixe-me disperso - quiça as ad-versidades do absoluto e pleno sejam a tese, antítese, síntese do nada re-verso na imagem projetada no espelho dos rebos rijos, dos etéreos diamantes que trans-literalizam as insolências do inferno, as indolências do purgatório, intolerância do paraíso, o mesmo por sempre, divinas comédias da poesia sem poiésis, tudo que cunha e que desabrocha é embrião em prenhez de índole ou Númen, a arte pura da des-fantasia, a metalinguística inócua das trevas do caminho, o "it" das águas vivas que jorra da fonte a vereda por seguirem, a exegese frígida não me culpe ou censure por minhas investidas pela metafísica das sensações, contemplá-las, desejar que saciem a sede dos sentimentos de gozo, clímax, prazer da verdade.


Deixe-me distante, deixe-me disperso - porventura as razões de haver sido mister transpor pontes, mata-burros, cancelas, porteiras, muros, hajam sido todas compreendidas, entendidas, mas o porquê de ser cerca de arame farpado que me interrompeu, diante dela, rodeava, contornava, e a mais fácil de vencer, suficiente passar por baixo, entre os arames ou pular, e nada disso feito, chega o instante de deixá-la para trás, suas sombras, suas noites, neblinas, orvalhos, seus enigmas. Mistérios e buscas outras, desconhecidos e utopias outras. Os arames farpados ficaram para trás, tudo o mais é lendário, outras terras, outras ruas, outras orlas marítimas, alegrias, conquistas, felicidade, e aquele mistério: "Por que não transpus a cerca de arame farpado antes?", as sombras iluminando as sendas desconhecidas, as esperanças de braços abertos para os sonhos.


Isso mesmo... Deixe-me distante, deixe-me disperso. Não há o aqui-e-agora, não há o limite, há apenas morfemas e palavras no regaço de minh´alma sem linguísticas, tudo ao derredor signos, símbolos, efígies, metafísicas, semiologias, semânticas. Não sou poema, não sou prosa, não sou lírica de música, não sou instrumental de sons, sou o nada antes de quaisquer nadas, sou o vazio antes de qualquer silêncio.


Você que não me entende, compreende, não perde por esperar a floresta e a meditação refulgindo ao esplendor, o incólume do ocaso seivando o crepúsculo pálido da Verdade Absoluta.


Pervago, vagueio, perambulo, deambulo, não corro perigo, não estou exposto a riscos, mistérios não há, não ad-virão enigmas, a verdade não alimenta os sonhos, o absoluto não é fidúcia do eterno, não é felícia do imortal


Agora que me des-cubro vivo, agora que me sinto, percebo-me, penso-me, projeto-me nesta tarde de inverno, tempo ensimesmado, frio agradável, agora que me sei desde uma distância sem limites, infinita, distância longínqua que se re-vela além, re-conheço-me não limitado por nada, não impossível de nada, não de rabo preso a nada, mas presente a mim, sendo a minha presença, como se fosse o próprio mundo que sou eu, como se fosse a cadeira de balanço em que estou sentado e sou eu, agora nada entendo, nada compreendo de minha contingência, imanência. Como poderia pensar, pensar mesmo com seriedade e dignidade, que "eu poderia não ec-sistir"? Quando digo "eu", já estou vivo, já estou no mundo no meio das coisas, dos homens e dos objetos... Agora outra coisa se me re-vela nítida e nula: como entender, com-preender que esta iluminação que sou eu, esta evidência axiomática ou mesmo insofismável que é a minha presença a mim próprio, esta fulguração sem princípio, sem soleiras, arribas e confins, que é eu estar sendo, como entender que pudesse não ec-sistir? Como pensar que é nada, imaginar que é nonada? A minha vida é eterna porque é só a presença dela a si própria, é a sua evidente, inconteste necessidade, é ser eu. EU, esta brutal, absurda iluminação de mim e do mundo, puro ato de me ver em mim, este SER que irradia desde o seu mais distante, longínquo jacto de aparição, este SER-SER que me fascina e às vezes me angustia de surpresa, de espanto, de terror.


Sinto a evidência de que sou eu que me habito, que me está dentro de mim, que me reside os interstícios mais profundos, de que vivo, de que estou vivo, de que sou uma "ent"-idade, uma presença total, uma necessidade do que existe, porque só há eu a ec-sistir, porque eu estou aqui, vixe!, arre!, putz!, estou aqui. Eu, essa catarata sem começo e sem fim, só atividade, só estar sendo, EU, esta obscura, incandescente, fascinante e terrível presença que está atrás de tudo o que digo, faço, invento, crio, re-crio, re-faço e vejo no ser que mais amo, versamos o uno, unimos os verbos - e onde me perco e me realizo. Os atos surgem, a pessoa que sou estabelece-se em mim, e só depois as razões in-versas, re-versas proliferam como as ervas no terreno baldio de alguma rua da cidade, no lote vago de alguma avenida.


Deixe-me disperso, deixe-me disperso - serei casto, serei sóbrio, na deleitação convulsa de um sentimento triste em que tantas vezes me(sic) eu perdi, e a boca liberta das funções poético-existencial-dramáticas, re-colho e a-colho sobre a epiderme das palavras os mistérios roubados ao tempo.


Que me espera ainda, alfim? Que ignorado destino ainda, para o que há ainda em mim a dizer, a criar, a inventar, a re-criar, a fazer? Onde o lugar enfim de meu encontro-limite?


Secreto indício, indizível presença.


(#RIODEJANEIRO#, 15 DE JULHO DE 2018)


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