#ENTREVISTA# MANOEL FERREIRA NETO ENTREVISTA A ESCRITORA, POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA ANA JÚLIA MACHADO - PROJECTO #INTERCÂMBIO CULTURAL E INTELECTUAL# BRASIL/PORTUGUESA




Quê prazer inestimável, minha querida amiga e companheira das letras literárias poéticas, prosaicas, críticas e filosóficas, Ana Júlia Machado, recebermos-la aqui na "Redação" do VEREDAS E VERTENTES para esta Entrevista Intercâmbio com a nossa Nação Irmã, Portugal, falando sobre isto que tremelica e estremece os artistas, a CRÍTICA.
Sinta-se à vontade. Beijos nossos
Manoel Ferreira Neto/Graça Fontis


Manoel Ferreira Neto: Desde o início de sua participação como crítica literária, há cinco anos, você tem se re-velado a crítica literária de nível intelectual, são críticas de nível filosófico, literário e poético. Numa crítica literária, de nível intelectual e filosófico, o que é mais importante: a metodologia crítica ou a sensibilidade? Por que?


Ana Júlia Machado: No meu ponto de vista num texto essencialmente literário, tanto a metodologia crítica utilizada como a sensibilidade é de extrema importância. Penso que não posso dissociá-las a fim de banir equívocos. A observação, afirma-se como um método de erudição da realidade que não é restrita de sabedoria alguma, nem mesmo de filosofia alguma, religião alguma ou arte alguma. Sempre que uma coisa, um parecer, uma equação evidente, uma reflexão, uma sensação, um enigma, etc., é dissecado em suas partes elementares, está-se executando a investigação. Dessa forma, dissecar o físico humano denota subdividi-lo nas unidades que o combinam. De onde a investigação literária resumir-se em desarmar o texto literário com olhar a conhecê-lo nos componentes que o compõem. Quanto a mim, Literatura é a manifestação, pela locução escrita, dos teores da criação, ou ideia. O facto de ser a Literatura dita por via do verbo escrito. Sendo assim, alista-se na espécie de texto literário todo o artigo que expressar criação, ou fantasia. Entretanto, relaciona-se de um parecer vasto, apto de abarcar qualquer folha em que um ser transborde fantasia, ou ideia. Somente se encaram textos literários os textos que se indiquem específicos fins literários, vale dizer, o conto, a novela, o romance, a poesia e o teatro (este, simplesmente enquanto texto, não enquanto cena. A extensão da análise literária. O primeiro canto a abrilhantar é aquele em que a investigação literária defronta com a crítica e a historiografia literária. Em relação à primeira, pode-se dizer que toda crítica literária, seja de que tipo for, subentende análise, ainda quando o analisador não descreva ao leitor a desmontagem que resultou dos textos literários que decifra e julga, ela está existente nas suas análises e discernimentos, como seu alicerce e erudição; ainda quando não a execute com a pena na mão, o crítico delineia-a mentalmente; ainda quando não se faculte conta de que sua atitude defronte do texto é primeiro analítica e depois apreciação, lá está ela no passo de decifrar e desconjuntar, quase que por intuição, o texto em seus fundamentais centros. Em suma: apreciar compromete sempre dissecar. Mas salvemo-nos de arrematar que, inversamente, analisar corresponde a apreciar, muito embora a análise deva transportar à crítica ou compreende – la em embrião. Em rigor, examinar não é reprovar. Eis aqui uma deformação visual de que sofrem muitos que se aplicam ao serviço analítico, olvidados de que a tarefa analítica antecede e apronta a sinopse crítica. Ou, por outra, "o engano repetido tem sido encarar o arte como fim, e que crítico cumpre seu dever ao realizar a análise de uma obra, quando ela elege meramente• uma elaboração a uma segunda leitura atenta e viva, que deve ser uma índole de recriação. Desse modo, nenhuma análise literária, por mais luzente e esmiuçada que seja, vale 'por si, justamente porque lhe está interdito o poder de manusear sensos de valor, que estabelece atributo da crítica literária. Por último, quem não possuir sensibilidade jamais compõe um texto ou analisa outros. É inexequível seja a quem for compor ou analisar textos se não possuir tal factor.


Manoel Ferreira Neto: Nestes cinco anos, o que a crítica literária tem trazido de contribuição para a sua carreira de escritora e poetisa?


Ana Júlia Machado: No que concerne a esta questão, direi que não possuo propriamente uma” carreira” de escritora no sentido lacto da palavra. Mas sem dúvida, que a nível intelectual teve uma grande contribuição, ponto fulcral do escrever, não tirar qualquer partido a nível monetário, jamais foi minha intenção e mesmo que fosse somente chega lá quem as editoras querem…essas sim, pretendem tirar proveito com o suor dos escritores. Mesmo assim, o estilo de escrita que componho não será de grande interesse para muitos. Acham elitista e complicada. Por isso, tudo continua na cegueira… tudo que dê trabalho é para encostar…ganhar pó. Embora, já tivessem tecido vários elogios à minha escrita, mas somente pessoas de nível superior. Mas também, posso verbalizar que para algumas parece que fui um obstáculo, deixaram de falar… mas após se servirem de mim. Mas sinto-me muito bem em ter iniciado este meu “Hobby”…não sinto-me tão ignorante, pois muitos escritores e filósofos já estavam esquecidos, e foi um reviver de muita coisa e acima de tudo uma grande aprendizagem. E só tenho que agradecer à pessoa que deu-me força e alento para o fazer, o grande filósofo e escritor Manoel ferreira Neto. Se não fosse este grande Senhor, ainda hoje, não tinha composto um texto…nem sequer uma linha…o receio foi muito. Pois achava que não era a minha zona de conforto. E veio na era em que encontrava-me muito mau a nível psicológico, visto ter deixado a minha carreira, por motivos de saúde. Com certeza, o maior contributo que a escrita deu-me foi eu querer continuar viva. Esse o maior de todos e o mais importante. E termino com duas citações de uma grande escritora e senhora… Clarice Lispector..que foi outra coisa que a escrita fez-me observar e pensar…
"A existência é sempre a mesma para todos: enredo de cegueiras e desencantos. O panorama é exclusivo, o ornato é que é desigual."
"Tão desgraçados somos que os mesmos verbos nos ajudam para expressar a falsidade e a realidade."
"Não se inquiete em “compreender “. Existir supera todo perceber…"


Manoel Ferreira Neto: Para você, a crítica literária ilumina a filosofia da Arte ou a filosofia do Pensamento do Escritor?


Ana Júlia Machado: No que diz respeito a esta questão penso que ambas não podem ser dissociadas e vou fazer a análise apoiando-me em dois filósofos da contemporaneidade, Sartre e Deleuze: Sartre motiva uma literatura competente de desembaraçar dos homens suas condições memoráveis, desobstruindo-lhes um mundo de oportunidades. Para ele, a literatura, através dos expoentes, deve intitular os factos e desmascara -las. O método literário é sempre um sistema de genuíno empenho cônscio dividido tanto por quem redige, quanto por quem decifra. Esse correlato lógico de cristalina gratuidade e bondade é o momento supremo no deparo de duas autonomias particulares, a mais benevolente das correspondências que se pode determinar entre dois indivíduos independentes. A prosa, ao intitular o autêntico, abre as passagens exequíveis, faz com que o individuo tome noção de sua era, encontrando-se conhecedor de si próprio. No concernente a Deleuze, podemos entrevir uma atuação literária que impele a língua a suceder outra, obriga -a a cortejar com o inenarrável. Ou seja, liga-se de um perspicaz alento auferido do dinamismo literário, dos sistemas de produção e da inspiradora artística, e em tudo a união do pensamento deleuziano com a literatura difere de um estilo somente documental, ou seja, de uma elementar simplicidade de coordenar a literatura a serviço da filosofia. O que une a filosofia à literatura e às artes em geral, é a probabilidade de uma ligação existente de produção conceitual; ele descobre nelas (nas artes) um princípio integrante da mente. Se encararmos que o pensamento deve ser “ativado”, e estimulado forçosamente pelo descubro com o extra, será o acontecimento íntimo de autenticar na literatura um real realizador transcendental na inteligência que o leva a considerar pelo deparo com o exterior. Além, como o próprio Deleuze asseverará na obra A Imagem-Tempo (1985), a filosofia é altamente pluralista, sem nenhum género de superioridade qualificativa ou hierárquica entre os conhecimentos: (...) a teoria racional é um saber, tanto quanto seu tema. É uma experiência dos pareceres, e é preciso apreciá-la em cargo das outras experiências com as quais ela intervém. Uma conjetura do cinema não é “sobre” o cinema, mas sobre os juízos que o cinema origina, e que estão igualmente em ligação com outros pareceres relativos a outras rotinas, a experiência dos conceitos em geral não visando nenhum apanágio sobre as outras, do mesmo modo que um objeto também não tem sobre os outros. É no nível da interferência de muitas rotinas que as coisas se compõem, os seres, as representações, as ideias, todos os espécimes de ocorrências. Não obstativo, na disparidade de ambas as filosofias, é preciso pactuar com uma coisa: tanto Deleuze quanto Sartre praticam o deparo da filosofia com a literatura a partir de uma carência superior de entendimento das atividades humanas, entrevendo a particularidade e a consideração da literatura nessa empreitada. Literatura e filosofia dispõem, cada qual com sua démarche inerente, a superação do homem pelo homem, reforçam as virtualidades essenciais da existência humana no deparo com o inteiramente novo. Sobremodo, ao entalharmos a vasta obra desses dois autores em questão para a realização deste texto, descobrimos, deslumbrados, as débeis raias entre aquilo que carece ou pode ser dito e o inenarrável, nos encaramos com as próprias teias da existência. idéias, ou a obra nasce espontaneamente? 5) A erudição da crítica literária é fundamental para o mergulho no "eidos" da Arte?


Manoel Ferreira Neto: Você mesma, quando escreve, pensa na profundidade do pensamento. Nestes cinco anos, o que a crítica literária tem trazido de contribuição para a sua carreira de escritora e poetisa?


Ana Júlia Machado: Quando escrevo é espontâneo, posteriormente faço alguns arranjos e penso em mais profundidade…mas quando tenho qualquer coisa em mente tem que ser de imediato escrita…mas penso que a profundidade estará lá…depende sempre de quem escreve e o que escreve. Pois há escritos que não possuem qualquer pensamento profundo…. A erudição da crítica literária é fundamental para o mergulho no "eidos" da Arte? Nesta questão importa salientar sentido de “eidos” a nível filosófico…. Autenticada a questão modelar, a ideia geral, o tema do entendimento, o episódio seguinte é sua “diminuição eidética”, redução à ideia (do grego eidos, que significa ideia ou essência)). Resume-se na sua investigação para descobrir a sua real interpretação. Isto porque não podemos nos indultar da individualidade e contemplar as realidades "como são" – o que é o autêntico, uma vez que em todo ensaio de conhecimento encontra-se abrangido o que é comunicado pelos sentidos e igualmente o jeito como o intelecto dá destaque, cuida, aquilo que é comunicado. Portanto, facultar-se importância dos assuntos aspiração, uma veracidade parida no conhecimento, não é razoável - ao inverso: os variados exames do conhecimento carecem ser falados nas suas naturezas, aquelas naturezas que a prática de conhecimento de um sujeito deverá possuir de modo coletivo com práticas parecidas nos distintos. Por isso, o saber da crítica literária é imprescindível para a imersão no “eidos “ da arte. Pois o conhecimento colectivo é que nos faz mergulhar nos eidos da arte. Só obtemos erudição uns com os outros. Cada um tem o seu próprio pensamento, mas para isso, é necessário ter conhecimento das artes no seu todo. Se não estudasse ou lesse era uma simples ignorante. Por exemplo a sabedoria é a investigação, mas não o domínio da verdade, pois compor sabedoria é encontrar-se na vereda; as interrogações em sabedoria são mais substanciais que as refutações e cada réplica, converte-se numa outra interrogação…e assim é a vida, sempre à procura de respostas…jamais estamos satisfeitos com as respostas. E, ainda bem…só assim a vida faz algum sentido. Pois se soubéssemos tudo, não andaríamos cá a fazer coisa alguma. Temos que possuir estímulos…sendo a erudição da crítica literária de extrema importância e relevância, para os nossos mergulhos nos eidos da arte.


Ana Júlia Machado Nota: Espero ter correspondido às expectativas nas respostas…como sempre tudo que faz ou questiona faz pensar muito e não de fácil argumentação.


Desculpe-me, minha inestimável amiga, mas aprecio sobremodo o que faz arrancar tufos de cabelo, enfiar a mão na cumbuca, o que é profundo me extasia. Sei que não foram perguntas fáceis de responder, exigiam bastante, mas tenho o péssimo de dar o cobertor conforme o frio, nada além disso. E respondeu com dignidade, honra, e enquanto lia pensava e sentia comigo não sabia estava sendo analisado e interpretado há tantos anos em todas estas perspectivas, e todas as críticas contribuíram para conhecer um pouco a minha escritura, desenvolver a sensibilidade e visão-de-mundo, visão-das-coisas-do-mundo, empreender esta viagem da busca de conhecimento, de sabedoria, uma vereda que não tem fim, aberta sempre a todos os horizontes. Uma grande lição. Sabe que por vezes me ponho a pensar que em verdade somos mestres um do outro.
Precisamos de outras oportunidades de uma troca de dedos de prosa sobre as Cositas da Boa Erudição. O nosso agradecimento cordial e sensível por nos haver legado um tempinho para esta conversa.
Beijos nossos.
Manoel Ferreira Neto/Graça Fontis


(#RIODEJANEIRO#, 04 DE JULHO DE 2018)


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