#AFORISMO 944/ AREIAS DO TEMPO EM CHAMAS# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



O único louco sou eu. Sou o único eu louco. O eu sou louco único. Homens comuns não podem compreender atitudes em relevo. Podem exilar-me.


“Santa Maria
Mãe de todas as ervas
Rogai por nós os seus admiradores.
Assim no real como nos sonhos, delírios,
Devaneios, desvarios.
Agora e sempre
Amém...”“.


"Ave Maria
Cheia de todas as alucinações,
Declinações,
As verbalizações são convosco,
Bendita sois entre os des-vairados
Bendito é o poema de vosso seio.
O tempo em chamas.


Tanto tempo. Compreendi a consciência determina a liberdade. E antes a realidade determina a consciência. O modo de desvencilhar-me do impasse.


Solidão ao amanhecer
Ao meio dia
À noite.
Na mesa de refeições.
Na rua.
Na cama.
Sozinho.
Na casinha de sapê.
A dois.
Na multidão.
No exílio.
Na expulsão...
Nas heresias...
Nas proscrições...
Nas prevaricações...


O ser pedindo, gritando. Amor. Alguém. O outro preenchendo o vazio. Agora cheio de tudo. Tudo não existente. Porque alguém não chegou. O ouvido, impassível. Os olhos, vendados. O grito. Lusco-fusco. Fusco-lusco.
Inscrita,
Honra arrasta
De ignomínia. Deuses mortais. Pungente coragem, escuta, trespassa os sofrimentos dos imortais. Vazio, o opróbrio reúne tributos com feroz cavalo, sustando o caminhar contrário.


“Gargese”. A terra está escura. Os mais sutis insetos bebem intelecções des-encontradas. Dedos ascendem-se num gesto de indagação. Sou homem. Penso poeiras acumuladas nas orlas do nada. Areias do tempo em chamas.


O raio almíscar, gelatinoso de nada, esvoaçante nas dobras de cortina adocicada: alçar vôo no tudo, nada, imensidão de brisa serena. Bailarina passando no fundo dilacerante de asas e sussurros, de leve brisa de silêncio. Gemido na noite plena.


Os sentidos desempenham papel essencial na produção do conhecimento. Sobre a rosa do alvorecer, igualdade no ser, não-ser, reverência de coração orgulhoso, vaidoso.


Ruído monótono.
Perco-me e reencontro-me em cada aresta de silêncios que se anunciam. Águas. De por baixo das pedras, passados e passos grunhados em únicos segundos. Vácuo. Nadas descendo em enxurrada. Despojamento nas calçadas. Nada.


(**RIO DE JANEIRO**, 10 DE JULHO DE 2018)


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