#AFORISMO 11/ ALÉM DO LOTE VAGO E TERRENOS BALDIOS# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Vomito finalmente o mito repelente, o mito indecente e indecoroso, o
mito refutável e descartável, o mito dogmático e preceituoso: admito ser gente,
con-sinto em ser humano, estar à mercê do tempo, estar sujeito a
trans-formações, estar sujeito a ser o outro de mim, envolvido em todos os
princípios e verdades do final.
Três horas da madrugada: reclamam as asas da alma espaço para voarem
além do corpo e do catre, além do bairro e da praça, além do chapadão e dos
córregos, além do lote vago e terrenos baldios, quer a alma excitada voar além
da cidade, além das florestas silvestres, apesar dos morangos e pêssegos
deliciosos e apetitosos, que tanto aprecio, além dos mares que se perdem no
infinito, confundem-se com as nuvens brancas e azuis, deixam olhos extasiados e
voluptuosos de prazer com a beleza e magia do uni-verso, universo que
des-lumbra o barroco de sua apoteose, o aforismo de seu renascimento das cinzas
e bíguas glórias que a-lumbram o expressionismo dos sofrimentos e dores da
alma, vice-versa-lumbram o realismo dos pensamentos e idéias no per-curso do
tempo e de suas contradições, suas tragédias homéricas e ulisseanas.
Pois que voe a desalmada, voe mais que águia, deixando o corpo em
soluços, dissolvido sonrisal, alka-seltzer num copo de solidão. Sempre uma dose
de angústia sobre o acrílico do medo no Pôr do Sol da periferia onde, amargo,
me exilo, penso e sinto o que me convém, o que está de acordo com a minha alma
e ser, as saudades indescritíveis e indizíveis de minha querida Pitibiriba se
me anunciam todas, sou todo saudades, sou todo ouvidos dos sibilos do vento,
sinto-me sendo o outro de mim, e mando o resto para a
“tonga-da-mironga-do-cabuletê” ou pentear macaco no pálido crepúsculo das
montanhas... ou cantar coquinhos no anoitecer de chuva fina e contínua.
Sonho que vai, sonho por que vem atraindo o toque de ser tocado,
acariciado, sonho das belezas das profundezas espirituais, das buscas profundas
de felicidade e alegria; dormindo, sonhando, sonho das realezas das perfeitas
cordiais de sentir, de tocar, imanizar e curtir sem ser curtido. Sonho que leva
tudo que corre no tempo, no espaço, nos traços entre-volados e opacos sem
corrigir. Sonho de sonhar sem sentir, de interpretar, de impor, de ver e saber
aquilo...
Oh, bela terra não pode ser ingrata nem julgar suas costas cansadas inda
jovem, nem fugir a paz ser sensata, volver com príncipes milharais e no arroz
as espigas em ouro lhe envolvendo e o café... Oh, bela terra que acendeia em
terra própria vida de matéria viva, imagem de sonho, eros oníricos...
Oh, solo trincado pelos raios do sol, por entre o matagal virgem
resplandece.
(**RIO DE JANEIRO**, 05 DE JULHO DE 2017)
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