#AFORISMO 83/TRÊMULO A-NUNCIO FALA NAS ORIGENS DO MEU SER - ADEUS SOLENE A CURVELO, CENTRO-NORTE DE MINAS GERAIS# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


"O homem foi "lançado" pelo próprio Ser na Verdade do Ser, a fim de que, ec-sistindo nesse lançamento, guarde a Verdade do Ser; a fim de que, na luz do Ser, o ente apareça como o ente que é." (HEIDEGGER)


Epígrafe:


"O céu é o limite, quanto possibilidades e concretizações, aferidas ao Ser, na sua tenra originalidade, onde busca e inquere seus sonhos e ideais ao historificar a própria existência." (Graça Fontis)


Ouço-os de novo a esses cânticos anônimos, anômalos de regência, que sobem das regas algures, em parte alguma, como voz da própria terra, sussurros e murmúrios de suas cavernas, buracos e grutas, vulcões e abismos, como lamúrias de suas próprias entranhas rasas e profundas; eu as revejo a essas luas enormes na ascensão majestosa de uma noite quente de Verão, na madrugada, re-tornando a casa, ninguém nas ruas; eu os sinto ainda a esses aromas no vento, degusto essas maresias no tempo nublado, nas ondas marítimas que tocaram as docas no itinerário até a praia, oh, realidade de amanhã, e para sempre, não sou de lugar algum, sou do mundo, e que aspiro ainda de narinas dilatadas para que a sua realidade entre em mim e seja real, que os possa sentir e deliciar-me com eles.


Deixai os cavaleiros cavalgarem por suas estradas,
Ouvindo e escutando os cânticos anônimos,
Pastores e ovelhas dos campos, dos vales
- Estes "vernáculos", mas antigos que a "cidade de Braga",
Que significavam a perfeição da natureza,
A vida simples e bucólica,
Tornaram-se hoje símbolo, metáfora, signo
Do Nada à espreita do "Hades Celestial" -
Sentirem profundo o que é "Silêncio da Verdade"
Por quando o crepúsculo, entardecer.


Deixai o palhaço seguir o seu destino,
Sem tablado, sem picadeiro, sem luzes,
Risos e aplausos,
Há outros modos de fazer rir as crianças, os adultos,
Outras terras,
Sentir profundo o que é "Silêncio da Humanidade de Ser"
Por quando o alvorecer resplandecendo nas ruas, alamedas.
Amanhã partirei,
Deixo o picadeiro para sempre.
Sentar-me-ei no banco junto de Carlos Drummond de Andrade,
Contemplarei as ondas marítimas.


Deixai o escritor dizer o "adeus" solene'
Ao seu lugar de nascimento,
Esquecer-lhe...
Não pertenço a este mundo, não me reside este mundo.
As suas origens são outras, fê-las, construiu-as com outros adubos,
Sangue não são família, parentesco.


E um trêmulo a-núncio fala nas origens do meu ser, de minha obra, de meus pro-jectos, de meus desejos e vontades de realizá-los com perfeição e apreço, no que os trans-cende e assoma no ilimitado de mim.


Voz obscura de alegria enigmática, vértice de um encontro comigo, vertente de uma visão plena do finito das con-tingências, ó realidade perdida, imagem desvanecida no horizonte dos horizontes, voz submersa a todas as vozes, e que fala ainda quando elas se calam e eu ouço com o ouvidos sem ouvir, escuto com o cor-ação sem escutar, e se a-nuncia quando tudo se esgotou, quando tudo se esfumou, e bate obliquamente como pancada leve no ombro, e que se abre além da hora mais longínqua como uma varanda, e que irradia ainda de impossível para além de todos os possíveis, e que recusa todas as razões para ser e é ainda, e que inicia a minha vida onde ainda não há início, memória de um tempo antes do tempo, de um começo antes de seu verdadeiro início na origem dos segundos e milésimos deles, do lugar do meu nascimento verdadeiro, sede e princípio de divindade que ainda não se corroeu, que não foi corroída pelos instintos primevos do homem.


Lâminas de águas in-fin-itivas
Afiando de esplendor e maravilha
As fontes uni-versais do há-de ser a conjugação
Da compl-etude do "nós" e a perfe-ctude da vida e do ser,
Conjugação regenciada de ternura, afeição, afeto,
Gerenciada de reflexões, indagações, questionamentos,
Sin-estesiando o pleno com as cores do arco-iris,
Com as perspectivas das imagens coloridas da peça de pintura,
Linguística e semântica do espírito-metáfora da verdade-amor,
Semiologia e estética com a morte na alma, com a liberdade de Ser.


Estilística da "Epígrafe Régia",
Escrita nas estrelas dos sentimentos e emoções,
Registrada nas constelações das utopias da verdade,
Prescrita contra os ventos da escravidão, alienação.


Eis porque a minha saudade a re-conhece a essa origem absoluta que não é sequer “memória do céu”, porque o próprio céu é já uma explicação desta voz mais antiga do que ele, é já uma concretização, ainda que para lá do mundo, de um apelo que vem de além do mundo, além-mundo, e além de todas as possibilidades de sua ec-sistência, do aquém de todas as alternativas de minha historicidade e historial-idade.


(**RIO DE JANEIRO**, 06 DE AGOSTO DE 2017)


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