#AFORISMO 126/SER DO VERBO DO NULO SOU# - GRAÇA FONTIS: ESCULTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


#EPÍGRAFE:

[Desejo ordenhar-vos,
Ó vacas das profundezas abismáticas do nada!]


Nenhum segundo, ainda que ínfimo, se passou
Desde a solidão de meus idílios compactos -
Nenhum pingo de chuva, ainda que pequeno, molhou
O chapéu posto de viés na minha cabeça,
A mente sem nenhum pensamento, in totum vazia,
Nenhum vento úmido, nenhum orvalho de ternura e afeição
- uma terra de só ensimesmado dia...
Agora clamo, rogo e peço à minha ignorância, analfabetismo
Que não se tornem inauditos nesse deserto:
Derramai vós mesmos a última gota de tristeza,
Gotejai vosso orvalho nas minhas vestes miseráveis,
Sede vós mesmos garoa para a minha caverna ensombrecida.
Nenhum vento, inda que calmo, soprou poeira
Da amurada da varanda, entre o fim da tarde, princípio da noite,
Enquanto, disperso, fumava o cachimbo,
Vazio de idéias, vazio de pensamentos.


Oh, ser miserável, ainda desconhece
O significado humano, sentido da vida.
Ordinário,
A vida inscreve a passagem do conflito ao sonho
E a paixão dos loucos, os idílios dos marginalizados
E, ainda, an-alisa a pujança dramática
Da alegria, quando a solidão
Se encontra com o sensualismo
Na real-ização do êxtase eterno do belo e do sublime.
Tempo.
Des-cobertas.
Loucuras.
Perdições.
Delírios des-conhecidos.
Divina dedicação da vida com o místico,
E do místico com o exótico,
E do exótico com o erotismo vislumbrado dos loucos.


Ah, besta de insuficiente sucesso, ainda não encontrou
O sentido da existência.
A vida, ao carácter, dialecto do preclaro e do eminente,
É extravagante e fanatismo
Em qualquer cruzada da paragem da alienação,
Da aragem do desvario
Até que a criatura desbarate a causa dos devaneios
Experimentar da chama, o raciocínio das expectativas.
O esto é o apreciar recôndito que traslada a insânia
E a existência
Sem contenda com o amor,
Sem torneios com os preceitos da carnação,
Sem tripúdios com os dogmas da des-carnação
Por acaso, oh infeliz, adrego já confundiu
O encarniçamento e o clímax
No denotado de sua existência, égua da negligência?!


Verbo do não valor de ser... Coração recluso... sossego âmago do mundo... mar claro com ondulação leve dos morros barcos escuros de habitação... os mastros que seguram os barcos... neste caso uma viga de ramos de árvores.... Sou do verbo o vazio de ser... sossego profundo... silêncio equiparado ao do espaço universal.. de astros rodando pelo espaço oco... Nuvens libertam-se rastilhos de neve... que devastam... em vale... a última altivez das coisas... Ser do verbo do nulo sou... frágil recordação de um instante jamais abrangido pelas sensações, de uma veracidade somente memória... sem tempo... Odor real do enigma passado na hora, inúmeras vezes chamado com nostalgia... sou o vácuo do verbo ser e verbo do zero de ser e ser zero do verbo... Com uma estrela branca... portanto, ofusca, não cintilante... aos pés e ao lado... E uma meia lua vermelha... que só pode estar a receber reflexo de algo... contrário à sua natureza... e ao alto... trouxe à tona... enfim entre os astros..., meigo e belo... acasalado ao absoluto dos seus momentos-baliza, regressado à in-provável candura que desconhece em si... Um ser que se sente angustiado e se menospreza... que se sente nauseado e se rejubila... e que acabou por trazer a si mesmo a candura que ele possui... mas que com sua humildade, ou não, diz não reconhecer... Imagem que ilustra os caminhos tortuosos deste pobre ser, onde estão patentes várias cores... local de sossego... e do odor do passado...


Outrora mandei as montanhas
Distanciarem-se o mais possível de minhas sendas perdidas -
Outrora sussurrei aos meus ouvidos
"mais raios de sol, ó sombras!"
Hoje as seduzo, para que se aproximem de mim,
Sentem-se ao meu lado e murmurem palavras de esperança:
fazei luz ao meu redor com vossos úteros de sentidos!


Desejo ordenhar-vos,
Ó vacas das profundezas abismáticas do nada!


Conhecimento morno como leite,
deliciosa garoa do clímax do amor
Estendo eu sobre o tapete silvestre do solo.


(**RIO DE JANEIRO**, 26 DE AGOSTO DE 2017)


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