#AFORISMO 143/SIBILO DE VENTO PARA ALÉM DE ENTRE AS MONTANHAS# - GRAÇA FONTIS: ESCULTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Sorriso trigueiro, alma circunspecta, introvertida
Aforismaria uma balada do bosque de mistérios,
Nos olhos a a-nunciação da alma à busca de uni-versos
De místicos hieróglifos de pretensas utopias e ideais,
O ritmo, ah o ritmo... balalaika nos lotes vagos de San Petersburgo
A in-vestigação sombria e nostálgica da alma à cata de seu destino...
Aforismaria o quê,
Além desta investigação?


Qualquer demônio diferente, qualquer demônio fracassado numa missão específica só consegue se libertar da severa e verdadeira punição a lhe ser imposta, se porventura compense o fracasso multiplicando sua tarefa por inúmeras vezes. Difícil isto de não se compreender a presença de instantes de cinismos, ironias, galhofas, de não se entender que de imediato surge algo vindo de muito profundo, atabalhoa as idéias, os pensamentos, é quase necessário ir à busca de reuni-las a todas, correndo o risco de as ter perdido.


Tenha aquilatado a dimensão do dilema sugere um destes instantes, alguém muito íntimo a indagar se já experimentei os dilemas comigo próprio, e a petulância de colocar em mãos de quem se digne a isto, viver os próprios dilemas, a escolherem as letras com que irá tecer os seus valores, a sua capacidade de idealizar coisas e lhes dar proporções morais. Contudo, toque de sutilezas e perspicácias, quase não perceptível a olhos nus.


Árias de sons d´água, ritmo e melodia serenos
Que me enternecem - sentimentos da canção e acorde sussurrados -
Líricas notas dedilhadas na harpa, que, por pré-cântico, des-cântico,
Se me toca dimensões profundas, dimensões íntimas, jamais sonhara,
O que, cochichando, sibilando,
Inspira-me o vento perpassando os silvos silvestres,
Pelo vôo da entrega plena, inteira, nua e eterna,
O "harpítico" - que nome mais estranho, quiçá escalafóbetico -
Das nonadas, hiatos, nadas, vazios, náuseas suspende o sonho
No instante das notas de angústias, tristezas, saudades,
Miríades de luzes entre lâminas de águas,
Vozes murmuradas nas alcovas, nos quartos, cubículos,
O olhar...
Como um sibilo de vento para além de entre as montanhas, as emoções vão alegres e felizes. O caminho passa fora da grade do portão. Antes de me tornar um homem esclarecido, as margens do rio já não eram margens do rio e as luzes que iluminavam as ruas e avenidas já não eram luzes que iluminavam as ruas e avenidas. Palavras um poucochinho agressivas, se não as entender como uma mensagem, algo a ser tornado uma verdade, mesmo que as controvérsias existam, se revelem fortes, dominadoras, opiniões em contrário, um sonho de multiplicar os desejos de uma expressão verdadeira, um estilo de vida, algo que revele orgulho: “... qualquer demônio fracassado numa missão específica só consegue se libertar da severa e verdadeira punição a lhe ser imposta, se porventura compense o fracasso multiplicando sua tarefa por inúmeras vezes”.


O olhar de esguelha ao cinismo, ironia, sarcasmo, mexendo e remexendo dentro, a necessidade é que revelem o véu de mistérios e enigmas, algo seja capaz de livrar das teias irônicas, sarcásticas, não há possibilidade de compreensão dos limites de suas nobrezas e de suas vulgaridades, de suas burguesias e viperinidades.


O canto considerado perfeito parece serem vozes uníssonas nascidas de uma única garganta. Com efeito, o sublime coro de vozes se destaca como fonte sonora inesgotável, a atravessar paredes, frestas de janelas fechadas, de portas fechadas, a ascenderem, e de repente são os homens que os ouve, buscam inspirações, como fonte sonora inesgotável, dotada de afinação admirável.


As súbitas pretensões, não sinto quaisquer impedimentos, recusas, renúncias de as incluir nos itinerários das estradas a serem cruzadas, se não andar, não sou é nada, surgem sob um certo nervosismo, originadas da visão da deliciosa amostra grátis das impossibilidades de as realizar, é-se necessário dons e talentos para qualquer empresa; originadas, repito com malícia e perspicácia, originadas da visão da deliciosa amostra, cujos trejeitos indicam a facilidade de atingirem a perfeição, nesta matéria de interpretações divinas. Indubitavelmente é a esperança que perpassa as dimensões humanas, esta que é o passaporte para a arte de viver, arte e vida se confundem, interessante é quando criam raízes. Diria até para enfatizar bem o que porventura esteja a revelar. Tem de as regar cotidianamente, tem que ser como a vida, dia a dia.


Os sentimentos vêem do fundo do coração, e só tenho, como guia, como mentora, a consciência.


(**RIO DE JANEIRO**, 30 DE AGOSTO DE 2017)


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