#AFORISMO 123/ÀS SARA-PALHAS DE...# - GRAÇA FONTIS: ESCULTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Às sara-palhas da eloquência e erudição a fonte da alegria, prazer é a vida, mas, onde biltres saciam a sede, todas as nascentes estão envenenadas.


Às sara-palhas da eloquência e erudição, se me questionarem o de que mais ojeriza e náusea tenho, creio a resposta será dada sem qualquer interferência do pensamento e da razão, será livre: "focinhos e dentes arreganhados e a sede dos impuros." O que, efetivamente receberei como contra-resposta presentes esgares faciais: "Então, o que mais enleva-o é a pureza".


Às sara-palhas do tempo e dos ventos, digo com empáfia que envenenaram a água sagrada com a concupiscência; quando categorizaram o prazer os sonhos imundos, utopias sujas, envenenaram as palavras.


Às sara-palhas da verdade e das virtudes, morei entre povos de idiomas que me eram, desde a eternidade à eternidade, , estrangeiros, tapando os ouvidos, era até engraçado andar com os dois dedos indicadores tapando-os. Isto com a intenção exclusivíssima para continuarem estrangeiros os idiomas de suas pechinchas, seus poderes de corrupção.


Às sara-palhas da probidade e princípios da honra, não há palavras para conceituarem as quantas vezes não me cansei do espírito, quando observava que o biltre tem espírito.


Às sara-palhas da franqueza e da robustez, voando é que atingi as alturas, fruto de uma intuição: intui lá não haver biltre deitado à sombra de oliveira, castanheira, sentado à beira do poço, num toco de árvore à soleira de sua residência no entardecer, vendo os transeuntes retornarem do trabalho.


Às sara-palhas da consciência e do conhecimento, fui obrigado e obriguei-me a voar para muito além das alturas, ao rés do chão a biltridade fedia, antes de achar de novo a fonte do gozo.


Às sara-palhas da náusea e do vazio, tornei-me surdo, cego e mudo por tempo inestimável, a fim de não viver com o biltre do poder, do escrever e do clímax.


Às sara-palhas de in-verdades e mentiras, o mata-burro que conduz à mais elevada esperança é o homem redimido da inveja, e a ponte que conduz ao arco-íris após longos dias de chuva é o homem redimido da hipocrisia, farsa, falsidade.


Às sara-palhas do silêncio e das solidões, aquele que busca o conhecimento, o saber, deveria aprender a construí-los com montanhas - não é o espírito que remove montanhas?


(**RIO DE JANEIRO**, 25 DE AGOSTO DE 2017)


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