#SENÁCULO DE PANGARÉS - II TOMO #UTOPIA DO ASNO NO SERTÃO MINEIRO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: ROMANCE



CAPÍTULO XIII - CENÁCULO DE NÓS GÓRDIOS E PRIMAVERAS - PARTE I


Com efeito – confesso não ser assim um estilo de início, pois que o desejo é de convencer e persuadir, do que ser conversa de pangarés, de homem para pangarés, ou conversa-para-pangaré dormir, quando a intenção é apenas a de chamar a atenção para a existência de uma dúvida, desconfiança, indefinição até, e não a de fechar um conceito, uma definição -, posso dizer, a partir de uma experiência pessoa e íntima, que a coisa mais certa e verídica deste mundo, perdoe-me, senhores, se quero mostrar que ela é o afeto, somente o afeto torna o homem necessário e insubstituível.


Convidado a professar as mesmas idéias ou visar um mesmo fim, neste encontro de asnos de todos os níveis, personalidades da ciência pangarética, do conhecimento filosófico, teológicos, literário dos pangarés, membros de academias e outras “cositas”, que nada deixam a desejar, tudo é perfeitamente sublime, divino, todos somos homens dignos de merecimentos, louvores, mas, em verdade, sinto que todos ficariam tristes se me perdesse em considerações acerca dos merecimentos e louvores, analisando, perscrutando a condição existencial e íntima de cada, incluindo-me sem nenhum pejo, sem nenhuma vergonha.


Em tomando em relação o afeto, não me cabe em hipótese alguma analisar, considerar os pontos de vista, e sim demonstrar este afeto que torna o homem necessário, o afeto que alimento e nutro por cada um de vós. Riem todos vós, quando usando de uma linguagem ao mesmo tempo convencional, tradicional, clássica, e de, imediato, parecendo até inerente à vontade, deixo-me resvalar num cacófato, este de “por cada um vós”, a reunião, então, é de porcos ou de asnos – será que a minha jeguice já extrapolou os limites de todos os absurdos, de todas as cretinices, mas foi assim, caríssimos senhores, que pude contemplar em todos estes cinqüenta e dois anos de vida, olhando, observando as condutas humanas e as instintivas do pangaré, até que em mim se rasgou o véu da decência e deiscências, tornei-me um homem-pangarético, os louvores e indecências de toda a caminhada, como posso vos dizer de outra modo, noutro estilo, não se há possibilidade de negar a instintividade humana, podendo vos dizer com conhecimento de causa e conhecimento que, muitas vezes, bem superior às vossas, e aí gosto de mergulhar bem profundo, lugar propício para as intuições intuitivas habitando as pré-fundas de nossa alma, lá onde só Deus mesmo para poder dizer com clareza e transparência.


Desculpe-me, se introduzo esta demonstração de conhecimento das figuras de linguagem, o cacófato é uma delas, apenas uma digressão no sentido de dar continuidade às idéias e pensamentos que perpassam a alma e o espírito, mas é verdade que não desejo afinar o cravo de quem quer que esteja aqui, não pretendo retratar-me, demonstrando que não havia possibilidade de não deixar surgir o cacófato, não os chamo de porcos, de porqueiras. Confundir alho com bugalho não é aconselhável não só no vosso mundo, mas sobretudo no dos humanos, daqueles só comparáveis aos porcos, as auréolas, quando na verdade deveria dizer aos pangarés, seus bonés personalizados.


Pedem com bilhetinhos que considere a linguagem, que cuide para não deixar nela uma ambigüidade e duplicidade de sentido e significado, enfim estou aqui para destilar os meus afetos e considerações, arrogâncias e desconsiderações á natureza e condição humanas, descendo-lhes o pau sem qualquer piedade, elogiando os pangarés, não só para vós ouvirdes, para experimentar no couro peludo as moscas com todas as suas categorias, desfrutando seus prazeres e alegrias várias. Mostre o espírito elevado e sensível que sou, a alma misericordiosa e solidária que revelo em cada gesto e atitude meus. Pede de um conto de fadas, e, por fim, sou eu mesmo quem lhes roga e clama que atendam ao pedido do conto de fadas, conte-me um para que me sinta de novo em absoluto em harmonia e paz com todos os instintos e razões que me habitam, seguindo a vida com os meus próprios passos, a minha identidade própria sempre reveladas nestas letras que escrevera para mais um encontro nosso, senhores.


De algum modo, é como se eu me tornasse um Deus pela plenitude de emoções que transbordam de mim, pela imensidão de sentimentos de agradecimento, de louvor e glória das atitudes mais dignas e gloriosas que cada um de vós sois capazes de sentir com o mais profundo do espírito e da alma. As magníficas imagens do mundo infinito, da existência eterna, agitando-me na alma, enchem-me de uma nova vida, de um ponto de vista outro que deixam os meus olhos castanhos claros rasos dágua, as emoções são imensas sobretudo quando estou ouvindo algumas canções para escrever-vos o novo discurso nesta pangarética casa de todos talentos e dons reconhecidos em todos os cantos do mundo.


As magníficas imagens do mundo infinito, da existência eterna, agitando-me na alma, enchem-me de uma nova vida, de um ponto de vista outro que deixam os olhos castanhos claros rasos dágua. Por muito pouco, não consigo dizer o que sinto sem haver terminado a pronúncia da palavra, deixando-a pela metade, “met” e “ade”, a sensibilidade mostra que são letras miúdas em cada divisão, consigo revelar o ápice de minha consideração e reconhecimento pela virtude e valor de cada um de vós.
Sonhara que estava diante de um imenso abismo, imenso de largura, imaginais então a profundidade da visão do vazio eterno após a capacidade de nossos olhos de visão, havia um cabo de aço, alguém iria atravessá-lo, segurando com as duas mãos e os pés, enquanto anda, se titubear um só instante adeus, até jamais, diria para enfatizar a idéia que me passa de repente, quase não a percebo, intuo presente.


Vejo-me cercado de montanhas gigantescas, aquela sensação e sentimento reais de que me encontro de todo separado do mundo, o resto do mundo encontra-se além das montanhas, de onde os meus olhos apenas contemplam e sonham; diante de mim abrem-se abismos onde se precipitam as torrentes formadas pelas chuvas das tempestades, pela garoa provocada pelo frio montanhoso.
Manoel Ferreira Neto
(JUNHO DE 2005)


(#RIODEJANEIRO#, 06 DE SETEMBRO DE 2018)


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