EPITÁFIOS NA BÍBLIA DE MÁRMORE DA MORTE# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: POEMA POIÉTICO



Suave
O nada per-vaga o eterno - travessia de nonadas
Horizonte submerso nas sombras multíplices
Universo engolfado nas trevas sem caminhos
Medo, angústia, des-espero, desolação
Olhos sem luz perdidos na imensidão do inaudito,
Ouvidos sem auscultar, sem ouvir
Os sons da liberdade e do nada.


Suave
A mente desvairada de certezas, convicções ditas princípios e leis da verdade
As visões do bem e do mal alucinadas prescrevem como receita da vida feliz
A entrega absoluta aos dogmas e preceitos, a inconsciência dos valores éticos, estéticos
Alienação, cegueira, psicopatia,
Vida sem sol, sem chuvas, sem ventos, sem/com escuridão
No de-curso, percurso da vida à morte.


Suave
O vazio per-corre o efêmero - peregrinação de esquecimentos
O verso suspenso na superfície lisa do tabernáculo póstumo de ilusões
A estrofe alheia ao tempo re-vela epitáfios na bíblia de mármore da morte
A esperança à mercê do apocalipse desenha no cosmos a efígie do passageiro
O sonho à revelia do solipsismo dorme à soleira do Hades.


Suave
A angústia desfila etern-itudes da solidão composta de quimeras, fantasias
O ser desfia o novelo de linhas do nada nos tempos primevos do sem-limite
A tristeza enovela no sudário de travessias idílios e sorrelfas travestidas
Re-versos e in-versos desejos de plen-itudes mergulham no abismo do sem-tempo.


Suave
A loucura descabida que elenca os despautérios,
Gafes, verborréias e falácias,
Quaisquer noções, visões, sensações,
In-versos pensamentos coagidos de idéias frutíferas,
Puramente trafulhas dos instintos,
As esquinas trans-formam noutro homem,
O tempo conduz à água da fonte
Que goteja e segreda as palavras que crestam
As faces, os rostos
E dissipam na orla do mar.


Suave
O tremor performa inquietudes da alma na passagem da noite, noctívagas utopias da liberdade e entrega,
Pensamentos que romanceiam no tempo as quimeras,
Infinitivos das atitudes e decisões,
Ad-versos, o temor encena as dúvidas na in-vestigação
Das sombras, das brumas, das trevas,
Re-colher e a-colher as a-nunciações e re-presentações,
Tecer o sudário que acalenta as carências e faltas,
Que cobre as ausências e falhas,
Jornada a fora buscas do Ser.


Suave
O silêncio perpassa o espaço de entre serras sibilando Lamúrias e desgraças
A fé vaga no tabernáculo as efígies de
Hóstias maculadas de pecados originais
O espírito sacia a sede de dogmas e princípios obtusos, Glorificando divinas comédias,
Excelsas tragicomédias
Inolvidavéis tragédias
A alma ronda a roda-viva de sofrimentos e dores,
Saudando a morte.


Suave
A náusea, presença do desejo e vontade
Da consciência-estética-ética,
Emula a liberdade, o sonho, as utopias,
Mundo aberto, que abre perspectivas e responsabilidades,
E todo o desejo na noite, de comunicação,
A cada passo nos cobrimos e despimos
E nos mascaramos,
Ao fim de tanto silêncio e oco
Des-cobrimos, auscultando vozes,
O ritmo, a melodia, os acordes
Na lírica poiética,
Re-cobramos, inventamos novos vocábulos, vernáculos
E caminhamos numa estrada
De pó, poeira, sonhos e utopias.


Suave
A solidão deambula eivada de sonhos da compl-etude
A carência perambula sedenta de preencher-se de carinho, ternura
As volúpias da imortalidade, concebida de projetos da beleza,
Do amor, do belo, trilham os labirintos dos desejos, vontades.


Deixo as águas me con-duzirem mar a fora suave e levemente.


#RIODEJANEIRO#, 17 DE SETEMBRO DE 2018)


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