#BURRO COICEIA E REFUGA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: POEMA



Caminho nos pensamentos,
esbarrando-me remotos dias.
Reagrupo-me às sombras;
retrilho uma cena qualquer,
viajo nos detalhes dos trajes,
cores,
conversas,
a eternidade das mãos troteando o corpo...


Desvairado, rendo-me à ficção da noite,
perdida no irreversível.
Enlouquecido, remedio-me das mentiras
da escuridão à luz dos postes.
Disperso, rendo-me à realidade da aurora
nas entranhas de uni-versos a serem construídos.


Veredas...
Fogo de bala,
travessia,
curiangos,
aves pretas,
flor de pau,
cascalho solto,
faísca de ferradura.


A noite é só tocaia,
um descuido é perdição,
cachorro late-mordendo,
cobra dá bote e esconde,
burro coiceia e refuga:
“Viver é muito perigoso”.
Grito, perdido na morte,
doce riso,
amargo fim,
viver é pré-liminar à cova.
Passo curto, passo certo: Travessia.


O que me pergunto é:
quem em mim é que está fora
do eterno prisioneiro das linhas?
quem em mim é que está fora até de pensar?
Se indago com tanta efusividade é que,
com sorriso nos lábios,
olhos faiscando,
alguém me dissera sou eu a inversão,
melhor ainda,
a inversão sou eu nas
re-versas ad-versidades
das ipseidades e facticidades.


(#RIODEJANEIRO#, 16 DE SETEMBRO DE 2018)


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