#ALDEIA DE LÁGRIMAS DOS INSANOS# - III TOMO #UTOPIA DO ASNO NO SERTÃO MINEIRO#- GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: ROMANCE




CAPÍTULO I - PARTE IV


Não era distância longa, quatro quarteirões de tamanho regular, não parara de falar, Ratto Neves respondia “Sim, senhora, é claro...”. Falou de sua filha, simples, muito afetiva, carinhosa, bom coração, algumas vezes fora rebelde, adolescência, é de se compreender. Estudou, tirava só notas boas. As duas filhas foram bem criadas. A segunda não se casou. Não encontrou o grande amor de sua vida. Quem sabe algum dia!? Casou-se com um homem quem a ama demais, sincero, responsável... Os pais ajudam à medida do possível.


A gravidez de Lair transcorrera normalmente, respeitando as orientações médicas. A outra filha... Quem sabe no futuro encontrar-se-ia com alguém, este alguém tornara tudo possível e aprenderam juntos a linguagem do amor e da busca de unidade, almas gêmeas que são...


Desejo que assim possa compreender o porquê daquela empatia com o rapaz. Os motivos, razões cada um tem as suas, mas o lero-lero é comum aos dois.


A senhora abrira o portão, não queria ter de ouvir a ladainha de Ratto Neves. Se desse cordas, passaria o resto da tarde agradecendo o convite, contando de todas as experiências nas horas do almoço, a mãe que lhe chamava, ele que estava vagando pelas ruas, sem eira e nem beira, aproximando de um e outro, pedindo esmola, recebendo moedinhas pequenas que ajuntava para comprar cocada na padaria, estava doido por uma.


À mesa, tendo terminado de comer a primeira vez, a senhora mandou que se servisse, deixou a colher cair sobre a mesa, tinha restos sobre o forro, não se importando e enfiando no feijão, colher suja. Não trocara única palavra, após levar a comida à boca, mastigava, olhando fixa para a porta de sua alcova, longe. A senhora observou seu comportamento, nada dizendo. Enquanto comia, afastou a panela; tirá-la-ia, tendo saído. Olhando de soslaio, enquanto comia, Ratto Neve viu-a afastar a panela, compreendeu que havia cometido uma das suas. A filha iria chegar da escola, o seu prato preferido é o feijão. Tinha de falar com a cozinheira para fazer outro. O mais depressa possível. Esperava que comesse rápido, saísse correndo.


Ficaria calado. E se começasse com o lero-lero, por haver visto a senhora afastar a panela, antes haver enfiado a colher suja nela, e ela dissesse que, sabendo não poder ter estas atitudes à mesa, poderia ter evitado, era só pedir outra colher. Se a pessoa não sabe, é compreensível; ninguém é obrigado a saber comportar-se à mesa. Se a pessoa sabe, aí é diferente: é falta de educação, para alguns, pais em geral, é motivo de surras e puxões de orelha à mesa. Sabia ou não sabia disto? Qual o sentido teria em
responder, a coisa estava feita, não podia mais voltar atrás.
Manoel Ferreira Neto
(SETEMBRO DE 2005)


(#RIODEJANEIRO#, 08 DE SETEMBRO DE 2018)
                                            

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