#ALDEIA DE LÁGRIMA DOS INSANOS - III TOMO #UTOPIA DO ASNO NO SERTÃO MINEIRO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: ROMANCE



CAPÍTULO III - PARTE I


O que, em verdade, os atenienses ateus nunca admitiram foi justamente isto. Já pensou terem de erguer estátua da carroça e eu em Praça Pública: o asno pensante, o asno que mudou os rumos e destinos de um povo. Crucificam, sacrificam os que escrevem valores novos sobre novas tábuas. Isto é da humanidade desde a eternidade, sê-lo-á até à eternidade. Asno mudar o destino da comunidade ateniense atéia!? Que idéia de jerico é esta!? Asno ser o único pensador da comunidade? Todas estas asnadas próprias de quem tem de assumir que são perfeitos imbecis, inúteis. Isto é uma vergonha!... Para dizer com as mesmas palavras de Ratto Neves.


Leguemos os verdadeiros descontos. O que acontecera comigo nesta cidade poderia acontecer em qualquer uma. Asno mudar as coisas – e os homens, perderiam eles o crédito, a confiança de que pudessem realizar algo de mui grande a favor da comunidade? Eles tinham esta obrigação diante dos olhares do outro. Se me deixassem realizar as transformações culturais e intelectuais, todos da cidade seriam vistos pela humanidade inteira como seres sem qualquer importância humana. Isto é acinte. Tudo bem... Por que, então, aqui na Fazenda dos Bois não acontece assim.


Claro, têm dúvidas de que sou asno intelectual... Se se conscientizarem da realidade disto, não terão qualquer escrúpulo em tratar-me a pão-de-ló. Como sou inocente, às vezes? Jesus Cristo dissera que ninguém faz milagre em sua própria terra. Ouvira dizer que não é bem assim: já há casos de alguém que faz milagre na sua mesma, e as relações são estreitas entre estas pessoas e a sociedade.


Se alguém falasse “Isto é uma vergonha”, com certeza seria em termos de importância, fazer prevalecer as idéias, sustentar os valores de quem faz opinião; não palavras de quem conhece profundo o que é este sentimento, como ele ajuda a corroer o com que as criaturas nascem, a missão da felicidade. Algumas pessoas aqui na fazenda tentam imitar Ratto Neves, mas as palavras perdem toda beleza e sentido. Unicamente palavras nos lábios de imbecis.


Imitar no sentido de repetir tais palavras quando a coisa é absurda, ninguém humano e de bom senso agiria desta ou daquela forma, não concordam com os pontos de vista. “Isto é um absurdo”. Não são originais. Há qualquer coisa que lhes falta para a coisa ter a sustância dada por Ratto Neves. Quem sabe virar os olhos de esguelha, quando pronuncia isto. Provavelmente... Talvez seja este olhar e o típico esgar facial que conferem a importância da questão.
Aqui na Fazenda dos Bois, não será a mesma coisa. É outra realidade. Começa por me chamarem de Incitatus, embora eu saiba que Cavalo é este, sua importância na história da humanidade. Não estou puxando a carroça. Espero a morte chegar comendo o feno. E cada moita que, como penso sempre na última, vou contando até chegar a hora derradeira. Ouvi contar de escritor que fora preso e durante toda a condenação o divertimento e a esperança de sair da prisão era contar as árvores que podia ver da janela do cárcere, contando saberia quantos dias ainda restavam para terminar a pena.


Quem sabe tenha alguma indigestão estomacal? Talvez não. Acabo de comer a última moita, ando de lado para outro, caio duro e fedendo. Adeus, Incitatus... Adeus, Lúcifer... Fui puxador de carroça, tornei-me animal de aprisco, para dizer mais claramente, animal de abegoaria, dotado de “bela alma”.
Manoel Ferreira Neto
(SETEMBRO DE 2005)


(#RIODEJANEIRO#, 09 DE SETEMBRO DE 2018)


Comentários