#RECRIANDO DA MEMÓRIA O MOVIMENTO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: POEMA



Deixai a imagem ser delineada pelo espírito
Com sensibilidade e inteligência,
Inter-médio dos traços que dais na tela da alma,
Inter-médio dos vazios que deixais nos papéis
Que assumistes e não cumpristes,
Aliás, nem soubestes performá-los, dar-lhes vida
Não é tão simples, ad-vem da dignidade e honra.


Deixai a balada nascer dentro de vós como rumor
de águas cristalinas,
nascer o cântico do amor
como um vento despertando as folhagens...
Não vem de supetão, vem de longe e de muito tempo.


Como é que tendes de súbito esta serenidade
de quem recebesse uma hóstia sagrada em plena desgraça?
Deve ser de versos que lestes e nem vos lembrais,
de telas que vistes, de músicas que ouvistes,
de esculturas que tocais, de peças a que assististes,
de sorrisos que percebestes nos lábios de uma criança,
de brilho que vistes nos olhos de um homem
que vos contemplou com sinceridade e amor


Às vezes,
No chão do rumoroso deserto em que pisais,
brota o milagre da canção
no fundo da solidão inquietante
em que vós debateis
nalguns instantes
de vossa vida
nasce a verdade do Ser.


Águas re-fletindo imagens
Sob raios numinosos do sol
Lírios brancos à mercê de vento suave,
Pintassilgo pousado no arame farpado
Da cerca, trinando seu canto,
Nuvens brancas deslizando no azul celeste
Pétala perdida de rosa vermelha sendo
Levada a esmo pelo rio sem pressa de sua jornada.


Sentimentos leves perpassando o íntimo,
Carinho,
Ternura,
Afeição,
Meiguices,
Entrega,
Ouço o pulsar do coração, extasiado de emoção,
No que em mim trago dentro, as volúpias da alma
Transcendem as elegias do instante de sonho,
Trans-elevam as sorrelfas compactas do momento de vigília,
Em mim sentindo íntimo, a alegria conjuga versos
A felicidade recita de rimas as fantasias
do amor correspondido,
do amor sentido profundo,
do amor saboreado,
do amor entre-laçado de corpos
em busca do clímax absoluto e pleno
No que em mim deseja de Verdades
As regências verbais tecem de erudição
A estética do estilo sensível, espiritual
As metáforas conjugam de imagens
A linguística do eterno, a estilística do fugaz,
As regências nominais desenham
No horizonte as perspectivas
Da linguagem do Ser e Tempo,
Do estilo dos Ventos e Náuseas,
E nos interstícios da alma de verbos alucinados,
Esperanças delineiam de perspectivas
Cânticos solenes em uni-versos líricos
Plen-itude de êxtases compõem de estesias
Alhures de sentimentos à busca
De subjetivas verdades
Algures de desejos de felicidade à busca
do espírito de con-templar o absoluto
sentido efêmero,
sentido volátil,
sentido nítido nulo,
sentido susceptível,
sentido volúvel,
sentido estrela cadente,
sentido sol poente,
sentido lua adjacente,
sentido vazio
Sonhos do belo, beleza de re-fazendas conjugam
imagens e intuições,
perspectivas e inspirações,
criatividade e percepções,
re-criando da memória o movimento,
literalizando da recordação os instantes,
no poema do espírito a presença viva
do eterno feito amor,
do efêmero feito desejo


do há-de ser feito querência
do simples feito grandeza
do nada feito travessia para o além...


Estou aqui onde me crio, re-crio,
Onde me invento, faço-me,
Sonho de mim os sonhos meus,
De tinta são os meus traços, caracteres,
De gótica caligrafia são os sentimentos e buscas
Nos mistérios e matagais das contingências.


A folha é de papel, linhas, margens,
As letras são cursivas, in-cursivas, des-cursivas.
Esboço um sentimento que retiro de mim dentro,
Garatujo uma emoção que me perpassa o íntimo
Delineio uma idéia que se me a-nuncia,
Burilo um pensamento que se me re-vela
Ornamento um arrebique que se me utensiliou:
Ainda não são os originais, não é a verdade minha,
Não é a verdade inda por vir, tenho vergonha, rio-me,
Re-crio-lhes as bordas e ad-jacências,
Recomponho-lhes a imagem, re-faço a face.
Evoco o abstrato, invoco o transcendente,
Faço das perspectivas a minha raiz,
Faço dos ângulos o meu ser,
Das linhas a alma, das entre-linhas o espírito,
Dos interditos o corpo,
Farto de mim, distancio-me, fico à espreita,
Constato: na vida ou na arte,
Em carne, osso, caneta ou lápis
Onde estou-sendo não é quem sou,
Onde sou não é quem estou sendo,
Onde estou não é sempre, não é eterno,
Onde sou não é absoluto, não é para sempre...


O que sou é por um lince do olhar.


(#RIODEJANEIRO#, 14 DE SETEMBRO DE 2018)


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