**E AS LETRAS VOLTARAM DO DESCANSO** - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: POEMA



Dedicados, poema e pintura, à caríssima e queridíssima amiga Ana Júlia Machado e à nossa netinha Aninha Ricardo.(GRAÇA FONTIS/Manoel Ferreira Neto)


Distância...


Palavras re-festelando-se por alguns dias, merecedoras de descanso, árduo o trabalho de significarem a vida, pés na contingência, "iis" no além. Horas já lhes são difíceis não se registrarem nas linhas brancas das páginas, no vazio das folhas, três dias então uma eternidade, crise de melancolia, nostalgia, saudade dos significantes, semânticas.
Amor, carinho, afeição, afetividade - quê abraço forte e apertado. "Eis-nos de volta. Vamos bailar nos desejos e vontades do eterno." Semânticas, linguísticas, sentidos, significados, símbolos, signos, metafísicas, metalínguísticas, son-ísticas e son-emas, imag-ísticas e imagen-ética, rindo de orelhas a orelhas, de queixos às testas, quê delícia as palavras voltaram! As metáforas se olham de esguelha no lince do soslaio - tornaram-se as palavras mais experientes com o descanso de três dias, "Vão nos fazer rebolar, dançando na chapa quente das dialéticas do efêmero e eterno." Contudo, as núpcias da alegria e felicidade.


Então... De início, fonemas de olhos voltados para o infinito do uni-verso à cata do primeiro registro, enfim o namoro com a lua, estrelas no silêncio da noite esvaziou-lhes das a-nunciações do inaudito, esqueceu-lhes os verbos, érisis e iríadas do ser. Tinham o ser na própria contemplação de si mesmas. Nada lhes faltava, não eram carentes. Perfeitas e completas. Podia ter registrado a plen-itude do momento de namoro e casamento nalgum verso e estrofe, num soneto, nalguma prosa, testemunho de que são divinas. Nada de registro. O que vivem, vivenciam só elas sabem e conhecem, a sabedoria outra que atingiram só elas sentem no mais recôndito dos interstícios nas forclusions do nada e ser. Direito delas o silêncio. Dever nosso respeitar-lhes. Não é estranho, esquisito isto de as letras se casarem, contraírem o matrimônio, mas em verdade neste métier tudo se torna possível.


Agora só querem saber de bailar com os significados no rito da balalaika, Ben Harder e Vanessa da Mata, Boa Sorte, revezada com o fado. E o universo cintila de prazer e contentamento. O que de inédito des-cobriram, re-colheram e a-colheram para tanta alegria e arrasta-pés? É aguardar que digam as novidades, que as registrem.


Em verdade, em verdade, estavam precisando de afastar das linhas, curtir a poeira da estrada a perder de vista, bem se sentindo confortadas à soleira da choupana na orla marítima fluminense, carioca, cintilada de brilho das estrelas e lua.


Contaram-lhes que uma escritora deu férias aos verbos e foi passear à beira-mar lusitana em companhia de sua netinha, no crepúsculo sentar-se na praia e con-templar o in-finitivo do além-mar, a-nunciou-lhe o desejo de passeio noturno nas margens esquerdas do Senna, assim que lhe for possível irá à França com a netinha. Os verbos vieram para o Brasil, quê verbos tão bem regenciados, conjugados, pronunciados!, orla marítima do Rio de Janeiro, registram em versos as ondas que se espalham na areia da praia, em prosa o verbo das águas, salgados, intempestivos que se sente, aquando re-colhido e a-colhido. Reencontrando-se, escrita e verbos, aquele grande e inesquecível abraço.Perguntaram elas todas lisonjeadas com um convite para irem à Portugal, rindo de metáforas a metáforas: "Não seria o caso de você vir com sua netinha ao Brasil, ao Rio de Janeiro." Conversariam mais detalhadamente sobre estas cositas. Quiçá a escritora virá visitá-las, e de imediato elas vão visitá-la em Portugal, um intercâmbio cultural, intelectual, sensível, a família luso-brasileira de palavras e escritura.


Estão dizendo eufóricas de tanto êxtase e gulas do nada que após a festança com a balailaka e o fado, estão ansiosas todas por conhecerem a terra-natal do escritor existencialista português Vergílio Ferreira, vão à praia, todas elas, alugar um botequim da orla marítima, e tomando uma capivodka, vão garatujar algumas coisas para iniciarem outro tempo, amam de paixão um botequim, mas em Portugal são as famosas "cantinas", para traçarem no papel as letras, estilo gótico, peculiar a elas e muito, bastante.


A vida está tão aquém das palavras, é carente delas para se sentir no espaço poiético da busca do Ser. Ser as palavras, ser-lhes a semântica, linguística, meta-linguística, metafísica, ser-lhes o verbo e o tempo, ser-lhes o sonho do perpétuo. Homem de palavras, indívíduo de letras, criatura de sentidos, ser de esperanças, quimeras.


E as letras voltaram dos três dias de descanso.


#RIODEJANEIRO#, 17 DE SETEMBRO DE 2018)


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