#ALDEIA DE LÁGRIMA DOS INSANOS# - III TOMO #UTOPIA DO ASNO NO SERTÃO MINEIRO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: ROMANCE



CAPÍTULO VIII - PARTE II


Não sabendo os maridos que se afastou do arraial, procurou lugar bem escondido, sabendo ninguém ir freqüente, só muito de vez em quando, tomara o banho, pois não estava suportando de tanta coceira, parecia-lhe que a batina contribuía para aumentar mais ainda com o contacto com a pele.


Engraçado ou trágico... Não saberia eu responder com categoria. As histórias que se contam a respeito das famílias residentes em Lágrima dos Insanos na formação de pequeno arraial dizem sempre respeito a traição. Nalguns restaurantes, bares, as mulheres que se sentam à mesa de algum conhecido, amigo, íntimo, dizem com toda a pompa: “Não quero saber quem está torando quem” – olha que são as mulheres de grife e estirpe; os maridos, sedentos de brincadeiras mil, diziam-lhes nos ouvidos “quero torar você, bem gostoso”. Não acontecia com elas.


Pedro Quatro Olhos – não porque usasse óculos, mas via também através dos olhos do bichinho - tinha um papagaio que falava de tudo, sabia conversar sobre coisas de alto nível, se alguém de importância visitasse o seu lar ficariam dia inteiro conversando, atravessando a noite. Andava desconfiado da mulher. Tivera notícias dela pelos lados do “capão moreno”, o que estava fazendo por aquelas bandas é que não soube, não lhe disseram. Tivera de fazer viagem. Voltaria em três dias. Teve Pedro Quatro Olhos conversa séria com o papagaio, pedindo-lhe que ficasse de olho na mulher, qualquer coisa quando chegasse era só contar. Não desconfiaria dele, não estava fazendo intriga. De verdade. Viajou. Retornando, dera beijo na mulher que catava feijão com as pernas abertas, sem calcinha. O louro estava na sua gaiola suspensa num gancho na porta de entrada, de vez em quando dava olhadela naquela paisagem.


- E aí, louro... – nada respondeu; compreendesse que não podia fazê-lo naquele momento, a mulher estava ali, tinha de respeitá-la. Se não o fizesse, a qualquer momento apareceria sem a língua, duro e fedendo, caso houvesse hemorragia.


Tomou o café, comendo algumas broas de fubá feitas naquela manhã, duas horas antes de chegar. Estava curiosíssimo para saber as novidades, o que mesmo havia acontecido, se era verdade que a mulher andava pulando a cerca. A mulher terminou de catar o feijão, iria até ao Rio das Pulgas apanhar água no balde.


- E aí, louro. Tudo bem com você?...


- Tudo bem comigo. Com você é que a coisa anda brava...
- Brava? Como assim? Minha mulher...


- Sim... Você viajou de manhã. À noite, chegou uma visita, homem...


- Você viu alguma coisa, louro?


- Não. Meu pau endureceu, caí de cabeça...


Não precisou o papagaio de dizer mais nada, descrever a cena diante de seu bico. A mulher o havia traído sim.


Com o mesmo Pedro Quatro Olhos... Tinha uma coisinha muito pequena. A mulher vivia reclamando que não fazia nem cócega. Enraivecido com a falação da mulher sobre aquilo, decidira ir até Curvelo para consultar com o médico. Tinha de haver um jeito para o seu problema. Não podia continuar daquele jeito, ninguém sabe o quanto é vergonhoso a mulher dizer que a coisinha não faz cócegas. O médico receitou-lhe um remédio “tiro-e-queda”. Tomasse antes de ter relação com a mulher. Iria crescer devagar. Quando estivesse do tamanho preferido e preferível, interromperia. Sabe-se que a coisa estava se prolongando muito, o resultado fora mínimo. O que fizera Pedro Quatro Olhos, impulsionado pelas constantes reclamações? Mandara o empregado ir até a Curvelo, receita na mão, comprar duas caixas dos comprimidos. Adormecera e acordara de madrugada. Estava desejando a mulher.


Estava dormindo. Aproveitou e tomou de só vez duas cartelas dos comprimidos, quinze em cada. Adormeceu. Quando acordou, tomou susto daqueles. O que era aquilo, fazendo curva no quarto? Cobra? Não o animal, mas a coisinha dele tornou-se gigantesca. O que fazer? Depois de muito pensar, decidiu enrolar, amarrar faixa para segurar. Assim o fez. Disse ao motorista que fossem até Curvelo, andasse devagar porque não havia asfalto, a estrada estava esburacada. Chegando a Curvelo, foi direto para o consultório. Deixou todos os pacientes entrarem na frente até às seis da tarde, para quem chegara às dez da manhã, imagine quantos, o homem lá sentado, a barriga enorme, uma criança perguntara à mãe se o homem estava esperando menino. Por último, entrou na sala do médico.
Manoel Ferreira Neto
(OUTUBRO DE 2005)


#RIODEJANEIRO#, 17 DE SETEMBRO DE 2018)


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