#SENÁCULO DE PANGARÉS - II TOMO #UTOPIA DO ASNO NO SERTÃO MINEIRO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: ROMANCE



CAPÍTULO XIII - CENÁCULO DE NÓS GÓRDIOS E PRIMAVERAS - PARTE II


A esfinge é sempre lembrada por ser a que colocou para Édipo um enigma: qual era o ser que de início se arrastava no chão, depois caminhava com duas pernas, na velhice andava de três. Édipo de imediato decifrou o enigma, dizendo ser o homem: na infância, engatinhava, depois andava normal, na velhice andava com bengalas. Fora então livrado de ser jogado no abismo, como fizera inúmeras vezes a Esfinge com os viajantes que não decifravam seus enigmas. Fora ela, então, a Esfinge, quem se lançou ao abismo, como era proposto: se o enigma fosse decifrado, seria ela a se jogar, caso não fosse, seria o viajante. Na Grécia antiga, monstro com rosto e busto de mulher, corpo leonino, asas e cauda de dragão, que propunha um enigma aos viajantes.


Não entendais desse modo, estaríeis com certeza deturpando as minhas palavras.


Antes de criar este título, tive a curiosidade de consultar o dicionário, no sentido de in-vestigar se não havia um outro além deste que é o mais conhecido de todos, como é sobremodo comum as pessoas só conhecerem um sentido para as palavras. Conheci um sentido figurado, isto é, pessoa calada, misteriosa, enigmática. Aliás, Machado de Assis, em sua universal obra Dom Casmurro, adverte: “Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo”. O sentido dicionarizado de Casmurro: “Que, ou aquele que é teimoso, implicante, cabeçudo; 2. Que, ou aquele que é ensimesmado, sorumbático, triste”. Machado de Assis não usara este, valendo até ressaltar que não há um sentido figurado para esta palavra “Casmurro”. Antes mesmo de intitular oficialmente, tendo sido escrito até certo ponto como Crepúsculo de esfinge e primaveras
.
Intitulando o artigo de CENÁCULO DE NÓS GÓRDIOS E PRIMAVERAS, desejei significar que não uso “Esfinge” em termos da Mitologia Grega, mas no sentido figurado, misterioso, enigmático. Consultando o dicionário o termo Primavera, descubro “2. Fig. Época primeira; aurora. 3. Fig. A juventude”. Não era este que se encontra dicionarizado a minha intenção, e sim no que as pessoas costumam usar, também figurado, no meu entender, o das primaveras, referindo-se aos anos de vida: “As primaveras vão chegando e nós vamos adquirindo mais experiências, mais senso, mais conhecimento”. Fora o que imaginei antes mesmo de registrar o título.
É de práxis tão logo intitulado, não sei escrever sem antes intitular, iniciar a escrever, mas desta vez não o fiz, pois que não me surgira nenhuma idéia, esperdiçar um título sugestivo assim, que suscita um sem-número de interpretações e pontos de vista, é algo bem lastimável, possuindo até uma ponta de ironia: posso gastar títulos à vontade, outros surgirão. Uma atitude irônica para quem não sabe intitular.


O fato é que deixei o titulo escrito por três dias não me preocupando com o que iria escrever. Durante este tempo, lembrava-me da obra de Nietzsche “Crepúsculo dos Ídolos”, onde ele aborda quase todos os problemas estudados em suas obras anteriores, desde “o problema de Sócrates” – já tratado em “O nascimento da Tragédia” – até a crítica da ética antinatural e da filosofia racionalista explanada em “Além do Bem e do Mal”.


Eram informações que se revelavam em minha mente com o titulo que registrara para um possível artigo. Nada surgia. Pensei até em deixá-lo de lado, nada escrevendo, ou seja, deletá-lo no computador. Insisti.


Lembrou-me nosso primeiro encontro, quando alguém de vós dissera: “temos então um filósofo dos instintos pangaréticos, filósofo dos asnos, os humanos têm um especialista na conduta e postura da raça pangarética". Não me esqueço destas palavras que me pareceram bem verdadeira e sempre que estou escrevendo os discursos, quotidianamente, tirei uns dias de férias de serviço para me dedicar somente a satisfazer os vossos instintos com os conhecimentos humanos deles, profundos, valendo ressaltar, quem cuida é o gerente de vendas, passei-lhe a responsabilidade em mãos, mas quero que quando terminar possa caminhar tranqüilo e sereno, sabendo que o sonho que sempre me habitara o espírito, enfim minha cadeira no Pantheon dos maiores discursadores de toda a história, oratória finíssima e delicadeza, ornada de arrebiques e ornamentos, eterno.


Discursei para um grupo de pangarés num senáculo particular e original, senáculo de pangarés. Quem me dera não chegasse aos meus ouvidos o convite para receber o Premio Nobel da Paz, com tais discursos que mudaram a concepção e conceito das coisas no início do século XXI, jamais os homens e os pangarés foram os mesmos, há sempre criações e recriações.
Manoel Ferreira Neto
(JUNHO DE 2005)


(#RIODEJANEIRO#, 06 DE SETEMBRO DE 2018)


Comentários