ZÉ SÓ ÓCIOS DE OFÍCIOS DE NÃO SER GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA @@@@



Olho em volta de mim.
Perscruto o que me rodeia.
Todos possuem...
Um amor, um afeto,
Um sorriso ou um abraço.
São completos na completude de si mesmos.
Só para mim as ânsias esvaecem-se
@@@
Roçaga, por mim, a teoria
De ser preciso desejar para alcançar,
Ou aquel´outra:
Nada é possível, se não se crê nas possibilidades.
Só clímaces da cor que eu bramiria
Minh´alma pára, não os sente.
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Quero sentir... Quero sentir...
O que é isto – sentir? Não o sei.
Ou sinto que não sei?
Perco-me por inteiro
Não me é dado afeiçoar-me
Nem ser eu. O mais doído:
Falta-me inveja para subir aos céus,
Falta-me a santa unção
Para me afundar no abismo,
Para mergulhar no nada ou no vazio...
@@@
Não sou amigo de ninguém.
Para o ser...
O que seria mister?
Dependeria de mim em quê?
Antes, possuir quem admirasse,
Antes, possuir afeição,
Possuir não fruo.
Fruir possessão nada é.
É nada no íntimo de ser nada.
@@@
Ai de mim... Ai de mim... Ai de mim...
Crepúsculo a crepúsculo
Nesta dor de mim imirjo.
Seria um estrangeiro de fora do mundo?
Seria um forasteiro de outras plagas da terra?
Que nem nesta dor profunda de mim
Posso des-cobrir-me,
Dar-me o braço
Passear por um vale lindo,
Curtindo a beleza da natureza,
Dizem ser preciso correr sempre
Para onde a natureza leva.
@@@
Tenho medo de mim. Quem sou?
Quem vai de mim para o outro?
Se partilho com o outro o que é de mim,
Roubo de mim o que me é,
Entrego ao ladrão o tesouro de meu ser.
@@@
Perdi-me em mim
Porque eu era abismo.
Acreditei era preciso
Descer ao mais abismático, abissal
Para subir ao mais alto,
Atingir as minhas constelações,
Devanear pelos planetas.
Hoje quando me sinto sentindo,
É com saudades de mim,
Saudades de templos aonde nunca
Ergui estátua de um deus de bronze,
De rios sem margens que não conduzi ao mar,
De quimeras que se foram, não as tendo fixado.
@@@
Falhei em mim. Falhei de mim.
Na vida que haveria de ser e não foi,
Entanto nada fui,
Nada sou,
Nada foi só desencanto,
Pavoneio-me de nada ser
O que de mim é,
O sou de mim que é não me ser,
Grande sonho só desperto em fantasias.
Desonesto-me de ser
Zé só ócios de ofícios de não ser
O que de mim é.
@@@
Se ao menos
Permanecesse eu aquém de outro tempo
À luz que ilumina o que de mim
Não sou nem seria hoje
Um som opaco!
RIO DE JANEIRO(RJ), 01 DE FEVEREIRO DE 2021, 20:18 p.m.

 

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