FONTE FÉRTIL DAS QUIMERAS GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA @@@@



Entrelaçai o vosso braço ao meu,
Vamos dar uma volta, fazer um passeio.
Vou revelar-vos como me adentrei,
Enfiei-me no inexpressivo,
Indizível, incomunicável,
Que sempre fora o inestimável desejo,
A loucura indomável,
A querência cega, a volúpia secreta.
De como entrei
Naquilo que existe entre o vazio e o completo,
Entre o subjetivo e o objetivo,
Entre o filosófico e o vulgar.
De como vislumbrei a fronteira
De mistério e fogo,
De enigma e água cristalina,
Que é fronteira entre o visível e invisível.
Entre o silêncio e a solidão existe o abismo,
Entre duas notas musicais existe uma nota inaudível,
Entre o alho e o bugalho existe o discernimento deles.
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O bom é que a verdade
Chega pé ante pé como um sentido enigmático das coisas,
Tenho de decifrá-lo com o sentimento
Que sente os enigmas da sensibilidade, do sensível.
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Quero abarcar a vida.
Quero albergar o mundo
Com o dilúvio que o grito antigo causou:
“Vazio, oh vazio, onde se esconde você,
Em que gruta, abismo ou caverna?
Você precede o nada
Ou é o nada que precede você?”
O clímax de minha vida é a solidão.
Quero escrever noções
Colhidas na fonte fértil das quimeras,
Sem o uso nadificado das palavras.
Só me resta desnudar-me
Sair tresloucado pelas ruas
Rasgando as profundas entranhas
De dentro para fora,
Com as gotas de sangue
Pingando, marcando-me os passos.
Nada mais tenho a perder,
Perdi todos os vazios de minha presença,
Perdi o nada de meu ser,
Perdi a coragem do medo,
Perdi a resposta da plenitude,
Perdi os dentes que mordiam
Os ossos do ofício,
Perdi os cabelos que cobriam
Os pensamentos ardentes.
Eis o pecado de meu pensar a dialéctica da imperfeição
E a contradição da verdade perfeita.
RIO DE JANEIRO(RJ), 06 DE FEVEREIRO DE 2021, 12:09 p.m.

 

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