VERBOS DO ÚLTIMO LÁCIO GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA @@@@


EPÍGRAFE:

 

“Quem pensa, pouco erra muito,

Quem sente, pouco desvaria muito,

Quem pensa e sente, pouco devaneia muito,

Quem escreve, pouco sonha muito,

Quem reflexiona, pouco idealiza muito...”,

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Rio-me à socapa do mundo, da terra,

Sorriso circunspecto, introspectivo,

Adentro ao hilário das condutas e posturas

Estrangeiras aos princípios do senso e inteligência,

Risível das vaidades e orgulhos, idéias, pensamentos,

Cinismo, sarcasmo, ironia.

O tempo morre sempre que é mensurado

Em crepitações por mínimos mecanismos,

O ser da poesia de contingências

Sarapalha-se de querenças de liberdade,

Em ansiedades por grandes estruturas,

Poetas  não há que lhes dê a rédea,

Ao contrário, tira-lhes a sensibilidade.

É só quando o relógio pára

Que o tempo vive livre de ser mostrado,

O homem é “para-si”

Adentro ao sério das virtudes e valores,

A mangofa, galhofa, escárnio,

Perfeitos palhaços sem quaisquer jaças,

Aliados irreversíveis e irrepreensíveis,

Feito sombras tudo que havia sentido sofrido,

Ganhado forma visível, grotesca

E perversa, zombeteira, sem relevância,

Inerente nelas, as sombras,

A negação do significado que deveriam

Afirmar, pensando eu era eu,

Não era quem não era, não era quem,

Ninguém era-me aos linces do olhar virtuoso.

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Estou preparado para a vida

O “der e vier” estão inscritos no percurso

Dos projectos e suas impossibilidades,

Decisões, conseqüências.

Sinto-me vazio,

Sou aquele que é: o nada.

Gen-{ésios} terrenos baldios,

Na extensão de ruas, alamedas,

Becos e calçadões,

Nas dimensões de bosques e cavernas,

Nos hectares de chapadões e árvores secas,

Nas léguas de estrada de poeira ou de asfalto

- Por que não existe

Rodovia Federal de terra de cascalho, pedra sabão?

Que viagem agradabilíssima

Da fronteira mineira com a Bahia

À Paulicéia Desvairada,

Da Praia da Luz, Bosque das Estrelas,

Vias de buracos, buraquitos, crateras,

Que viagem dose de se imaginar,

O nada “todo-todo” escrachado na cadeira,

Bonachão,

À beira da fogueira sussurra-me:

“Siga-me. Abandone as quimeras.

Mostro-lhe os caminhos.

Sentir-se-á alegre.

Terá os seus prazeres ao meu lado.”

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Isto de in-versar a razão

Para alcançar o verdadeiro verso,

Via-à-vis às estruturas e formas,

Vice-versa às intenções e ideais,

É pura balela, toque de despautério,

E isto de re-versar os verbos

Do último Lácio da flor

Para re-inventar o riso à categoria e pompa,

É testemunho incólume de ausência de sensibilidade.

A hipocrisia é húmus da intimidade da alma humana,

A desgraça dos homens são eles próprios,

Inda mais nos tempos hodiernos,

Quando a galinha-águia dentro de cada um,

O centro e o sol,

A matéria e o espírito,

A transcendência e a imanência,

Nada disso existe.

Isto é mangofa, acinte à virtude caguincha,

Ao valor fútil do ser humano.

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Vejo-lhe andando, devaneando

De chapéu de couro preto, ao estilo moderno,

Bengala na mão esquerda,

Na vereda da floresta,

Solto aos pensamentos e idéias.

Na orla marítima,

Olhando e captando o mar,

A distância, profundidade oceânica,

Os seres que lhe habitam,

De cabeça erguida, senhor de si,

“Borrachon” de bons princípios

Sob os Sinos de Prata de São Jorge.

Há gente de empáfia impertinente, dogmática,

Para si, se lhes pedir o testemunho

De suas importâncias, nada tem a confirmar,

Há outros

Quem não apenas/a penas

Mostra a cobra, mas também o pau que a matou;

Há inda outros

Falsos, de olhos pelo chão,

Representando a digníssima humildade,

Para fazer “a gente”,

Mister a anima e o animus,

Para morrer, basta uma...

A escolher: “anima” ou “animus.”

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Vamos seguir essa trilha

A fé não é questão

Da existência ou não – existência de Deus -,

É acreditar que o nada é,

Isto é a fé íntegra e pura,

Sem volos e sonhos,

Faço-me ou des-faço-me,

É valioso.

O sonho do destino realizado a critério

Ou uma coisa no meio de coisas,

Deixar livremente se revelar por inteiro.

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O existir é pura sabedoria,

A existência, declinações, ruinâncias.

Por que,

Na síntese do gênese e apocalipse,

A rejeição,

A irreverência da redenção,

A refutação, recusa da ressurreição,

A insolência do pecado,

A meiguice das “mea culpa”?

A prospecção de criá-la,

Dimensões do gesto de abrir as asas

No espaço a ser voejado,

Fluindo toques suaves, serenos, frágeis,

Perspectivas da atitude,

Das pedras de toques, angulares,

Palavras lembrando

De que aquelas precedem estas,

Das angulares de carícias das atitudes

O sonho des-velando da entrega a ternura,

Des-enovelando das verdades íntimas o carinho,

Desejando no seu esboço, inda que precário,

A criação das imagens, símbolos,

Signos, arquétipos

Da inconsciência

Nas dificuldades,

Miséria e pobreza,

Tristeza, angústia, liberdade,

No seu croqui,

Traços comedidos,

Irreverência, rebeldia,

Nos tons e pinceladas,

É que se mergulha profundo

Nesta sabedoria:

“Quem pensa, pouco erra muito,

Quem sente, pouco desvaria muito,

Quem pensa e sente, pouco devaneia muito,

Quem escreve, pouco sonha muito,

Quem reflexiona, pouco idealiza muito”,

Assimila-a,

Vive-a, é outro,

O que passou foram

Pedras angulares de aprendizagens,

Pedras de toques de

Desaprender para aprender a liberdade

De pensar,

Para investigar o Ser,

Mister duvidar de todas as coisas.

RIO DE JANEIRO(RJ), 25 DE FEVEREIRO DE 2021, 08:45 a.m.

 

 

 


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