MISSIVA A UM JOVEM AMIGO POETA GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA @@@@


Re-versas imagens

De por que houvera dado

A vida por que lutei,

Labuta árdua fora – imenso árdua

Afora as tristezas sentidas íntimas;

De por que verti tantas lágrimas

Desoladas, angustiantes;

De por que nos longos espinhos de rosas

Vermelhas, brancas, lilases

Que embelezavam os canteiros do jardim,

Beleza indizível no alvorecer, nascer do sol,

Cujas pétalas brilhavam singularmente,

Minhas mãos sangrei.

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Imagens de luz re-versa

No amor profundo, pulsava de delírios,

Latejava, quando ouvia músicas suaves,

Na ek-sistência calma

Resgatei minh´alma

Do passado a lírica do tempo

Em versos de sonoro estilo e linguagem,

De ontem beijei a terra com sofreguidão,

Pousei meus olhos fundos, brilhantes

Nas perspectivas de outros panoramas,

De paisagens outras,

Vivos, ardentes,

Por não saber em tantas agonias

Abençoar as minhas desventuras,

Evangelizar os meus equívocos,

Cristianizar as condutas, posturas espúrias.

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Re-versas, in-versas luzes

De  imagens longínquas.

Busquei re-colher, acolher com apreço

Nas retinas de meus olhos

Tergiversados para os confins do deserto,

E, desiludido, exausto, ermo, perdido

- sabia-o como o sei agora? –

Esperei vislumbrar,

Aguardando o derradeiro sono,

Sono sem tréguas,

Volver à terra, de que fui nascido,

Em cujo solo palmilhei passos,

Deixando marcas

Vindo as nuvens flamejantes

Encherem o céu de minhas primaveras.

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Luzes de imagens re-versas

Nos re-versos sítios que iluminavam,

Em meus sonhos de moço e jovem poeta,

Contemplei, na ambição inquieta

De visualizar a verdade da vida,

A página sublime da silenciosa noite,

Sem língua que emitisse palavras,

Sem respostas que concebessem outros ideais,

Sem quimeras que remetessem a outros sonhos,

Sem procurar melhor felicidade,

Sem ambicionar prazer mais puro,

Se o amor profundo que por elas nutria

Nos interstícios de minh´alma

Que clamava, rogava pela visita sensível do espírito

Não as captei puras e cristalinas

Que me levassem ao eterno transparente,

Postei as mãos,

Ajoelhado que estava no chão

De terra trincada pelo sol escaldante,

E indaguei das nuvens brancas

Sobre o chapadão íngreme de todo,

De que me serviriam outras esperanças

De re-verter imagens em luzes,

De in-verter luzes em imagens,

Nem palavra única recebi como resposta

Que me acalentasse.

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Aos versos re-versos em luzes

Desvelado olhar fixei,

Ouvindo os cânticos das amorosas brisas

Do meu eu poeta e das imagens,

Auscultando o ritmo da canção

De meu íntimo solitário de tão subjetivos

Desejos do ser e do eterno,

De estrofes que me perpassavam,

Das florestas por onde me levavam

Os sonhos e quimeras.

Eram ilusões, fantasias,

Nada de dons e talentos.

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Oh, jovem amigo poeta, compreende agora

Não me haver feito poeta?

Aprendi a servir-me das palavras

Como passatempo, diversão, capricho,

Aprecio ver-me desenhando as letras,

O esmero, a paciência em delineá-las.

Mesmo agora em que lhe envio

Essa missiva em versos,

Penso que, se me houvesse tornado poeta,

A quem interessaria a leitura,

Teria entregue a vida ao inútil,

Às brancas nuvens,

A vida ter-se-ia tornado sem quaisquer valores.

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Também eu, sonhador,

Artífice de imagens de re-versas luzes,

Que vi correrem meus dias

No silêncio mudo da grande solidão,

Soltei, enterrando as minhas utopias

Cristãs, pagãs, sacrílegas,

O derradeiro suspiro e último cântico,

Buscando adorações de uma plaga a outra plaga,

De um vale mineiro a outro vale mineiro,

Nas perspectivas re-versas das imagens

Que as luzes em uni-sono

Revestiam a natureza

E tudo sorriu de claridade, transparência,

Ao influxo celeste e doce da beleza,

Abrindo as asas luminosas de minhas fantasias

Do ser,

Do não-ser,

Do haveria-de ser,

Do por vir...

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Os tempos são outros, meu jovem amigo poeta!

Jovem, as ilusões, fantasias são tantas,

Incluindo até estas das palavras, da poesia,

Preencher o vazio do mundo com a sensibilidade,

Com o espírito de busca da felicidade,

Eternizar a vida.

Coisas da juventude.

Palavras, versos não saciam a sede, fome,

Sacia-lhes o pão de cada dia

Como o suor escorrendo na face.

Agora, tenho todo o tempo do mundo

Para usufruir do pão que fiz,

Com ele alimento a vida,

O que resta dela,

Arrepender-me dos erros, equívocos,

Sentir os instantes de prazer, alegria, felicidade,

Ao lado de minha amada,

E como dizem: “A terra me seja leve.”

Poeta,  nada disso seria real.

Palav ras no papel, a vida sem quaisquer valores construídos,

Não me foram doados  dons e talentos.

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Seguem os meus sinceros incentivos,

Se os seus desejos são de entregar-se às letras,

O que não é para uns, é para outros.

Para mim, foram elas quimeras da juventude,

Para você, cônscio estou disso, será a vida.

Continuo eu apenas com o passatempo

De desenhar as letras no papel.

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Minha alma se ergueu

E vou às regiões venturosas,

Onde ao meu brando olhar

Reavivei a melodia estranha

Da beleza, do esplendor, da plenitude,

Evoquei a lembrança casta

De imagens re-versas,

Luzes in-versas nos interstícios da alma,

A recordação virgem do espírito

Nos re-versos idílios

De sorrelfas iluminadas

Pelos olmos da montanha

Contemplando a luz, as estrelas,

Sentindo em torno de si a muda natureza,

Respirando, como eu, a saudade e a tristeza.

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Indelével, puríssima imagem

Do amor de um ilusório poeta

A que dera a juventude

Sonhos e esperanças,

Amor eternamente convencido

Que vai além dos contingentes sentimentos,

Terrenas emoções,

Mundanos desejos e vontades,

E que através dos séculos o nome do ser amado,

Que faz de Graça um culto, uma magia, uma lenda,

E tem por sorte reverter as dores e sofrimentos

Em imagens de ardente amor

Que o coração suspira.

A real profissão dera-me apenas

O alimento para o corpo, para a matéria,

E nada mais.

O amor da amada é que preenche todos os vazios.

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Verdade é:

Você ama de paixão a poesia que compõe,

Sinto-o nos versos por mim lidos,

Emocionam-me a sensibilidade e espiritualidade poética,

Todo o seu ser pulsa de felicidade,

No instante da criação,

Mas a poesia não corresponde a este amor tão efusivo,

Fica apenas escrita na folha de papel,

Mesmo que o mundo o glorifique e louve,

De seu pensamento vislumbre outros caminhos do Ser.

Mas, se você entrega seu amor

A alguém, dedique-lhe a vida,

Este alguém irá corresponder,

É a sua felicidade.

Esta é a verdade que a vida me legou.

A juventude é feita de ilusão.

A idade madura, de coisas reais.

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A palavra do sábio traz a calma.

Os versos do poeta verdadeiro,

Não do sonhador de poesias,

Iluminam as luzes reversas de imagens

Que se anunciam, revelam nos sonhos

E esperanças de amor, amizade, compreensão.

O sábio aqui sou eu,

Que, mergulhando profundo na vida

Do espírito das coisas reais,

Busca e deseja a plenitude da contingência.

O poeta aqui nessa missiva

É você, meu jovem amigo,

Que, refletindo no espelho de imagens

Re-versas de luzes,

Teve vontade de saber de mim se

Isto de desenhar palavras no papel

Não é ser poeta,

Uma resposta à sua esperança do eu-poético.

Com ar soberano e tranqüilo

A esta pergunta digo-lhe:

- O coração da poesia

Só é possível pulsar com o seu sim

Ao espírito de ser poeta.

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Oh santa e pura luz do olhar primeiro!

Com amores sonhe, jovem amigo poeta,

Amores em cujas re-versas luzes de imagens,

Suspiram a ternura e o carinho

De um querubim destinado a encher

A vida de perpétuas flores,

Divinos sons, ritmos, acordes

Da música que embala os sonhos;

Destinado a suspirar as ânsias da paixão,

A contemplar a luz e o riso,

Aspire a existência entre flores,

Esquecida pelos rumores de

Mais ampla vida.

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Re-versas imagens de luz!

Sim, cabe ao homem suspirar por elas,

Cabe-lhe, jovem amigo poeta,

Contemplar o sonho que há-de vir,

Há-de ser,

Vislumbrar a alegria no porvir dos horizontes

Distantes ou longínquos,

Reais ou irreais,

Siga as suas veredas,

Entregue-se ao sonho de seu amor

Serem as palavras.

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Ser ou não ser:

Eis a questão.

RIO DE JANEIRO(RJ), 24 DE FEVEREIRO DE 2021, 03:52 a.m.   

 

 

 


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