OCEANO INSONDÁVEL DO SER GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA @@@



No silêncio de águas cristalinas,
Seguindo as sendas silvestres,
Sinto o abismo com que em meus pensamentos
A ausência de mim se revela tão presente,
A falha de mim se mostra tão evidente,
Sinto-as, não as sei expressar;
Sinto a profundeza com que em meu ser
A idéia da irremediável permanência
Da esperança aproxima a imagem do destino
Ao sonho do espírito do verbo e sublime,
Dos ideais do amor ser a língua
Que emite os sons da felicidade
Ritmada com a alegria versátil do eterno,
Compondo a poesia do divino
No oceano insondável do ser.
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A voz sufocada dos momentos de solidão,
Como uma dor que me ameaçasse o coração,
Angústia que me silenciasse a alma,
É a imagem re-fletida de viés
Na camada mais profunda dos caminhos
Misteriosos da palavra que anuncia
O poema de sendas desérticas à margem
Do tempo transfigurado e metafórico,
Mergulho em todas as palavras,
Penetro-lhes os sentidos,
Ininteligíveis, inconcebíveis,
Visíveis, invisíveis,
Vivo sentimentos outros,
Embora não me sendo dado dizer-lhes,
O que me inspira a ressonar nos braços de Orpheu,
Vivencio desejos outros,
Sabendo serem imaginários,
Frutos do ser-só que em mim reside,
Sinto querências outras
Dentro de única esperança:
Viver vida diferente,
Ser diferente à luz de vertentes lúdicas
Do ridente verdor da primavera
Que exala o perfume da flor do divino
- meu olhar
ressurge como um raio
vindo misteriosamente do subterrâneo do espírito.
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No limiar do agora
Que se tem perdido para sempre
Nas sinuosidades da fé que febunda o silêncio,
Da crença que fecunda a solidão vazia de ausências,
Que se perdeu no sempre do limiar
Insondável dos símbolos e da realidade suprema,
Que no sempre perdeu o limiar
Entre os liames do nada e do ser,
Levado pelo mais brando vento
Que trespassa o espaço de bosques,
Pelo mais inaudível silvo entre montanhas
Banhadas pelas ondas serenas do oceano.
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Respiro uma vida profunda
Revelo sentimentos delicados
Em que os sons do verbo de amar
Regenciam os ritmos do sublime,
Gerenciam a melodia da leveza do ser,
Exprimo emoções diversas, inversas,
Reversas a poemas que versam
Cultivar o espírito
Significa cuidar do Ser,
A poesias que escutam a Palavra
Que ecoa em todas as palavras,
Modelo-me com a facilidade
De máscara de cera:
Tudo o que corresponde a signo interior,
Alegria ou tristeza,
Cólera ou furor,
Ou este poderoso hausto de vida
Que parece, às vezes,
Inflamar-me a alma sensível,
Incendiar-me a intuição
Como chama de puro entusiasmo,
Inocente êxtase,
Ingênuo prazer.
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A vida oblíqua?
Bem sei haver um desencontro entre as coisas,
Elas quase se chocam,
Haver desencontro entre os seres que se perdem
Uns aos outros entre palavras que mais nada dizem.
Mas quase nos entendemos
Não que o quase para completar o absoluto,
Complementar o eterno,
Tenha fracassado,
Tenha se ausentado,
Nesse leve desencontro,
Nesse quase que é a única forma
De suportar a vida em cheio,
Pois um encontro brusco face a face
Com ela, a vida,
Assustar-me-ia
Deixar-me-ia suspenso entre voar alto
Rumo ao infinito do desejo,
Cair e perder a asa dos sonhos.
Sou de esguelha para não compromissar
As perspectivas de meus olhares,
Sou de interditos
Para ampliar a visão lingüística
Entre o verbo e a carne,
O ser e o sangue que percorre as veias...
RIO DE JANEIRO(RJ), 22 DE FEVEREIRO DE 2021, 13:36 p.m.

 

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