A EXISTÊNCIA PRECEDE A ESSÊNC IA GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA @@@@


Há homens, quando se fazem de sábios, ninguém é capaz de ombrear-lhes em suas verdades, exalam um odor inestimável, como se proviesse do reino paradisíaco; já ouvi tantos ratos guincharem em seus discursos diante de queijos suíços!

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Tem estes homens origens que nenhum caráter jamais lhes será possível igualar, sobretudo as de orgulho dos princípios éticos e morais, advindos das heranças familiares, pais e mães; não há tramóia, urdume ou tecedura que suas mentes não delineiem com primor e acuidade, até ensinando Deus lições inéditas de valores, virtudes; assim, fazem as meias do espírito. Vivem alegres, confortáveis em suas cátedras, filhos e esposas respondendo à categoria às suas utopias do sublime, álibis e capachos lambendo-lhes as botas, com todo apreço e amor. Ai daqueles que dizem algo ao contrário. Ricos de inventiva nas pequenas intuições do divino, esperam por quem cujo saber caminha capengando – esperam como os escorpiões.

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Houve tempo em que a todo custo tentei relevar as suas vaidades, sentimentos de poder e superioridade, considerando a amizade que por eles nutria, assumindo que mamei em suas tetas, lambi-lhes as botas, para mim superiores a tudo, em nome de consagrar-me alguma alma humana, até calcei luvas de vidro... Diante de minha relevância, não responderam com única palavra de agradecimento pela amizade: amizade para eles significa endossar suas idéias, pensamentos, suas filosofias, não querem saber de alguém caminhando por cima de suas cabeças. Amigos e íntimos lembraram-me de pessoas que habitavam o meu coração, pessoas sinceras, fiéis, leais, esquecia-me eles, e eles mereciam de mim amor e carinho, jogam com sentimentos verdadeiros, estariam de mãos e braços dados comigo em todos os instantes. Seria que não visse eu que tais sábios jogam sempre com dados marcados? Vi-os afervorados no jogo, suavam a cântaros. Tinha eu de considerar esta verdade.

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Não obstante, após o arrependimento de lhes ter considerado, caminho com meus pensamentos sobre suas cabeças, sou nada e vazio, preservando e conservando aquilo de a existência preceder a essência. Mesmo se quisesse caminhar com minhas próprias faltas, falhas, estaria ainda caminhando sobre eles e suas cabeças. O que quero, desejo não tem eles ao menos simples visão, pois que não vivo as razões de minhas opiniões, a fé não me beatifica, a razão não me diviniza, a verdade não me sublimiza.

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Sou de hoje e de outrora, mas reconheço cônscio haver algo em mim que é de amanhã e de depois de amanhã e de algum dia vindouro, sou vida. Cansei-me destes sábios, destes deuses do saber: são eles mares sem profundidade, turvam todas as suas águas para que pareçam mais fundas, se algum Augusto Matraga não lhes seguir a hora e vez, merecem castigo dos mais impiedosos, utopia alguma nascerá que se fará na continuidade do tempo.

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Transformado – amando os amigos que sonham com a Vida plena de desejos e vontades -, penitente do espírito, olho-me voltado para o que sou capaz de fazer de mim. Desaprendi a ter fé nestes sábios: salgados, mentirosos, superficiais. Liberdade é o meu grito por todos os tempos.

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Peço-me perdão por considerar estes sábios. Em torno de novos valores, giro eu, gira o mundo.

RIO DE JANEIRO(RJ), 13 DE FEVEREIRO DE 2021, 13:57 a.m.    

 

 


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