EPITÁFIO GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA @@@@


A derradeira, última sombra

Que levarei no branco dia,

Momentos níveos das horas

Esvaecendo-se na ampulhera,

Poderá cerrar meus olhos,

Não por efeito dos extremos esforços

Com as vistas,

Não devido à catarata,

Desatar a vadiagem de minh´alma;

Na ribeira do tempo

Deixará a memória

Onde ardiam as mais vivas volúpias,

Nadar sabe minha chama a água gélida..

@@@

Alma a quem um querubim

Prisão tem sido, tem estado

Veias que êxtase e humor

A tanto fogo, faíscas tem dado.

@@@

O céu está in totum desnudo,

À luz das estrelas na fonte

A água brota,

É belo o que ela reproduz,

A glória ombreou-me nalgum momento,

O prazer apertou-me a mão

Nalguma bifurcação da via sinuosa,

Seja o que for, como for,

Sei-o,

Eu, na luz ou no mais insólito breu,

Não verei jamais o que se fora,

Larguei mão de tudo, deixei tudo para trás.

@@@

Ao som do que me exalta,

Ouço o eco que vem dos silvos do vento

Entre montanhas,

Encerrando em si o sono

Tal como um vestígio,

Resquício,

No mundo, no vale remoto e fecundo

Febunda uma planície

Que em minh´alma inda resiste

Ao vislumbre visionário

Do esplendor vário.

@@@

A terra possui ânsias

Que ela própria mantém a sete chaves,

Eu que inda mantenho a herança dos tempos

Eu que sou a visão entre o visível e invisível,

Que, surdo e mudo, leio a profundeza infinda,

Pensar no meu passado,

O que fora, o que não fora, o que deixara de ser,

Faz com que em mim nasça

Uma benção perpétua:

Não aquela graça a quem ela agracia,

Sinto em mim sempre

Aquele oceano sem fim ou início

Que me trouxe aonde me encontro,

Sei que da flor mais simples

Pode gerar profunda meditação,

Enxergo além

E na sabedoria do que vivi.

Paguei juros e correção monetária

Pelo que vivi e careci de obséquios e ajuda

Nada devo a ninguém senão à vida.

RIO DE JANEIRO(RJ), 04 DE FEVEREIRO DE 2021, 17:17 p.m.

 



Comentários