SILÊNCIOS DISTANTES GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA @@@@

 

Lá longe... Silêncios distantes,

Sensação de solidão metafísica,

De um estar-só ontológico,

Lá onde... Estou só, distante,

À hora tardia!

Hora que me regela e me faz tiritar!

Profundo é o mundo.

Para onde foi o tempo?

Que diz a meia-noite em seu bordão?

Alguém revele-me a janela à qual verei
viv´alma cujo fogo me refresque,

cujo silêncio me acenda os pensamentos,

ascenda os ideais, aroma e fragrância da eternidade,

bem-aventurado eflúvio,
e a rota em que, a caminho dela ou retornando,
hei sempre de perder horas preciosas,

de que me não esquecerei jamais!

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O mundo enlanguesce nas praias das vontades e desejos de uma vida vivida na alegria, de um viver sentido na felicidade, de um existir pensado no eterno. Quero o eterno lirismo dos loucos, o eterno lirismo dos solitários, o lirismo difícil e pungente dos bêbados. E o indivíduo? Busca sua consciência no universo do corpo, no corpo e carne do mundo.

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No instante da proximidade comigo, encontro-me distante. Instante distante, proximidade de encontro? Não sei se sei lá neste encontro, nesta proximidade.

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No momento em que me sinto distante, encontro-me o mais próximo da verdade. Eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim próprio, sou mais inexorável do que eu, mais implacável do que minhas atitudes, e o jogo de minha vida maior não se fará. Abaixo os puristas, esteticistas;
todas as palavras, sobretudo os cacófatos  universais,
todas as construções, sobretudo as sintaxes de exceção – o que tem elas a dizer senão conceber e gerar náuseas irreversíveis?!
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis. Há muito que não viso a minha felicidade; viso a minha obra.
Seria isto o elucidar, a explicação das intransigências e radicalismo em transpassar, suprassumir esta escravidão do conhecimento, do saber que esparge luz, a fissura por me abrir, considerando as raízes? A verdade mais próxima não responde a todas as perquirições, mas a sua distância é sine qua non para o desejo de sua presença.

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Esvaecem-se a fumaça, o tempo... que cosita mais furtiva o ser, que coisa mais difícil de ser ouvido, ouvindo-me sendo... ritmo, melodia, arranjo, musicalidade, acorde musicalizam ao som das atitudes, ações... à musicalidade dos sentimentos e emoções, a música tocando no gravador, avenida, ruas, alamedas, a loucura desvairada pelas futilidades serão lembranças de instantes, de idéias, questionamentos entre carícias, beijos, serão recordações de carências, as luzes dos postes iluminando a rua de por baixo das copas das árvores, escuridão, subindo a Espírito Santo, esquina da avenida Augusto de Lima, destino Praça da Liberdade - liberdade: onde estás que não me ouves?

Alhures...

Algures...

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Horizontes espalham-se nas arestas sensíveis de um tempo em que o homem é uma consciência, em que o homem é um sentimento de prazer que se quer a si mesmo, quer eternidade, quer tudo eternamente igual a si mesmo, e de tristeza, de angústia e solidão... - onde o silêncio? onde a solidão do silêncio? onde as artes poéticas, na solidão ou no silêncio?

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Universo esparrama-se nos emocionais ângulos de uma consciência e o amor é sempre uma indagação de sensibilidade, de sentimentos, de autenticidade, perspectiva sensível da entrega e do verbo que a habita, o espírito do amor, a consciência e verdade do silêncio; e o carinho é uma postulação de sensações de busca e procura do Belo, de sentimentos de Beleza e o Homem deseja o Sublime.

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Sinta as emoções infinitas e universais a desligarem-se espontâneas, livres, a revelarem-se simples, saltitantes! Pense as contingências do momento a se estenderem ao infinito!

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Sinta os sentimentos perenes e imortais a processarem-se fáceis, a desenrolarem-se calmos!

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A luz inflama os vitrais coloridos

onde os apóstolos e os santos

ostentavam conquistas, glórias,

onde os querubins e os deuses

corroboravam as vicissitudes,

O silêncio estende-se in totum

Pelos espaços do templo,

Emitindo cochichados sons,

Desejando ser sentido, sensibilizado,

Verbalizado,

Elencando as utopias e ilusões

Em nível vedas do espírito,

Enlevando os sonhos e quimeras

Às esperanças e utopias da alma.

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Os grandes silêncios do campo, os verões crivados de uma luz esmagadora, as tardes brumosas enchem-me de uma perigosa volúpia, o silêncio nesta Praça da Liberdade é inominável, indescritível, no entardecer, por volta das cinco e meia, deixa-me extasiado, ansiedade pelo encontro inestimável da consciência estética, custar-me-á longos e longos anos. O olhar perde-se no céu e na neblina à procura de alguma coisa que não posso encontrar, perscruto com insistência as profundezas azuis para nelas descobrir uma imagem querida, a quem talvez, por um privilégio especial, ser-me-ia permitido manifestar uma vez mais.

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Sinta as sensações verdadeiras e lindas, resvaladas, a desenvolverem-se

tranquilas, a formarem-se suaves!

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Sinta as ideias reais, autênticas a canalizarem

as veredas do tempo, do ser,

a existência a delinear

os mistérios...

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Dormitar as ilusões, dormitar as angústias, dormitar as tristezas; "... amanhã, terei aula de Filosofia, o esplendoroso Heidegger."

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Lá longe, lá onde, na curva, o último vagão do trem sumirá, aos poucos, aos poucos,  visto por quem se encontra sentado no portão de sua residência observando-lhe passar... O que isto era? Quiçá intuição dos conflitos e desejos, e só o tempo seria capaz de consumar, o longínquo era o verbo de querenças, vontade, mister conjugá-lo a critério e rigor, o retardo pretérito ser o lamento noturno, notívago do espírito do subterrâneo - "as manchas que trago no meu "eu-corpóreo" é o que minh´alma faz questão de preservar!..."

RIO DE JANEIRO(RJ), 14 DE FEVEREIRO DE 2021, 19:17 p.m.

 

 


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