MISSIVA À MARIA ISABEL FERNANDES DA CUNHA


Caríssima Amiga e Crítica Literária, saudações!

 

Uma uva amadurece olhando a outra uva já amadurecida – eis a via por onde estabelecer, instituir as intenções e objetivos dessa presente missiva.

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Na videira das críticas realizadas no concernente às obras de minha autoria, olhei com percuciência e acuidade o amadurecimento de quem tecia a visão que instituiu do pensamento, idéias, intenções presentes no interdito, fundamentados e patenteados com os princípios da Arte da Palavra, delineados conforme a amplitude de minhas intenções. As uvas verdes de meu autoconhecimento do que escrevia amadureceram e estão amadurecendo a cada passo dado, isto não se esgota, é contínuo.

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A lealdade, fidelidade ao pensamento do escritor não tem sentido algum, nada significam, se não estiver presente a Ética. Na ausência desta, lealdade e fidelidade são apenas demonstração de Amizade. Vejamos ipsis verbis o que isto intenciona dizer, significar.

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A obra é a origem do artista e o artista é a origem da obra. Na crítica literária, o crítico incide no espelho a imagem de suas idéias e pensamentos sobre o que desvenda, desnuda no interdito de sua análise. Será que o espelho do artista, suas intenções, corresponde com a origem da obra? Eis o grande problema do crítico. Hermético e complexo. Muitas vezes a imagem que o crítico incide no espelho não é a origem da obra, é apenas o seu ponto de vista subjetivo – as idéias estão aquém ou além das intenções interditas, e, assim sendo, presentifica-se o obscurecimento da obra ou adulteração de seus princípios. A tarefa, missão, responsabilidade do crítico é elucidar o que não aparece nas linhas, o que está escondido no jogo da lingüística, da estilística, da semântica, da metafísica, da metalingüística, nas metáforas, assim des-nudando as origens ideais que a obra em si comporta. Não obscurecer, adulterar tudo isto. Se se fixa num prisma de visão, a língua da amplitude do universo da obra se silencia. Carlos Drummond de Andrade se irritou sobremodo com alguns críticos que queriam fundamentar o horizonte de seu pensamento com o poema “No meio do caminho tinha uma pedra/Tinha uma pedra no meio do caminho”. Isto é, tais críticos estavam reduzindo o seu pensamento, as origens de seus ideais literários, poéticos, humanísticos.

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A ética do crítico em relação à obra criticada funda-se nessa perspectiva: a seriedade com a amplitude de visões que a habitam, buscando comungá-las, sintetizá-las de modo a abri-las mais e mais a outras línguas de investigações e avaliações, torná-las abertas ao “eterno”, assim servindo à Arte e à Humanidade, nelas descobrindo o Novo Homem – como o escritor, seu conterrâneo lusitano, Vergílio Ferreira deixa explícito em toda a sua obra – através da Dialética do Tempo e das Épocas e Gerações Futurais.

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Pois bem, caríssima amiga e crítica literária, Maria Isabel Fernandes da Cunha, não intenciona esta missiva expressar que as críticas elaboradas e patenteadas por si pecaram substancialmente com relação ao meu pensamento, às origens dos ideais que no bojo de si trazem. De modo algum. Ao contrário, elucidaram, esclareceram, fundaram imensas perspectivas que estavam escondidas, omissas no jogo lúdico das palavras, contribuíram sobremaneira no sentido de eu próprio conhecer o que escrevo, com suas críticas cresci.

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No entretanto, há um aspecto presente em algumas críticas que, em nome da honestidade, deixaram-me insatisfeito; para mim, as críticas estavam reduzindo a obra, obscurecendo muitos prismas importantíssimos, de suma relevância, para a sua compreensão e entendimento.

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Trata-se da crítica que faço, fá-lo-ei sempre, à Literatura, à poesia hodiernas, à hipocrisia e à farsa dos escritores/poetas, levando-as ao caos e ao esquecimento. Isto não é o cerne, o núcleo, a essência da obra in totum, se se quiser, da obra reunida. Há outras dimensões muito mais relevantes; fixada ao âmbito da insatisfação com a hodiernidade é reduzir o meu pensamento. Você insistiu e persistiu nisto em muitas ocasiões.

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Lembrou-me que, diante de sua última análise, escrevi-lhe uma resposta – vale dizer e sublinhar: de conteúdo grosseiro, de imediato bloqueando-a. Eis a razão do bloqueio.

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Não quero que pense ter havido algum qüiproquó de origem pessoal consigo – de jeito nenhum. Nem quero que pense que não intenciono mais as suas críticas, serão sempre benvindas. Amizade sempre existiu entre nós. Apesar de que, desde o bloqueio, Graça Fontis vem insistindo comigo para relevar esta instância dos problemas, não a ouvi. Contudo, pensando nas contribuições que as suas análises e interpretações me trouxeram consinto em nova aproximação. Aliás, tenho-as a todas nos meus arquivos do Windows. A amizade existiu sempre, independente das Letras.

Manoel Ferreira Neto

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Abraços cordiais meus e de minha amada Esposa e Companheira das Artes.

RIO DE JANEIRO(RJ), 02 DE FEVEREIRO DE 2021, 08:17 a.m.   

 

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