PASSARELA DOS TEMPOS IDOS GRAÇA FONTIS: FOTO(ARQUIVO) Manoel Ferreira Neto: CRÍTICA LITERÁRIA @@@@



POST-SCRIPTUM:
Aquando estivera em Cordisburgo a convite de minha grande amiga D. Ernestina Barbosa, alguns membros da Academia Cordisburguense de Letras Guimarães Rosa doaram-me exemplares de suas obras publicadas. A presente crítica diz respeito ao livro CORAÇÃO DE PEDRA, da escrfitora e membro Clélia Corrêa Leão, que ora tenho o prazer e a alegria de publicar nas minhas páginas do Facebook, uma homenagem à escritora.
Manoel Ferreira Neto
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Caríssima Clélia Corrêa Leão
Começando de ler a sua obra Coração de pedra, iniciando a con-templação de suas letras, a necessidade de saciar a minha fome de conhecimento, de sabedoria, lembrou-me há tempos bem idos, infância, por volta dos oito, nove anos, fora passar as férias em casa de parente, Dirceu Ferreira da Silva, em Cordisburgo, e crianças, meu primo Ewérton Ferreira e eu, apreciávamos sair pelo campo, ele adorava caçar passarinhos, matar calangos com espingardar de chumbinho, sentar à beira de lagoas, não me lembra se de rios também.
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Sigo um princípio, valor, a obra de início deve re-“velar”-me lembranças, recordações, memórias, e nelas a presença da sensibilidade e intimidade das palavras, a espiritualidade, sentimentos, emoções, sonhos e utopias do autor, sem isto nem termino de ler às vezes, devido à linguagem e estilo que desagrada bastante.
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Retornei a Cordisburgo anos mais parte para passar uns dias em casa de outro parente, Hely Ferreira da Silva, e passeamos um pouco no campo. Não conheço ainda o Museu de Rosa, a Academia Cordisburguense de Letras Guimarães Rosa, conheço a Gruta de Maquiné, não conheço ainda nenhum escritor, mas a amiga Ernestina Barbosa enviou-me de presente a antologia Cordisburgo Literária, através do meu editor do tablóide E Agora?, Geraldo Magela de Abreu – tendo ganhado, lera única vez, gostei muito, colocara na estante; agora, depois que Ernestina publicou um epitáfio do saudoso poeta Raimundo Braga Martins, publiquei uma pequena nota no tablóide E agora?, edição fevereiro-março, sou colunista, deste tablóide recebi o título de “embaixador da cultura curvelana”.
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São outras sentimentos, emoções, são outros sonhos e utopias, esperanças e quimeras que hoje me habitam o espírito, são “outras águas” que em mim perpassam as entranhas e o íntimo, mas nas passarelas de todos os meus passos, de encontros e des-encontros, de esperanças e fé, não preteri os tempos idos, quimeras e fantasias, não preter-idas tornei-as outras águas que seguem o “rio sem margens, sem pressa”, contemplei-as e desejei-as límpidas e transparentes, o rio de águas límpidas, na caminhada rumo à nascente, à fonte, nas letras, na vida, no íntimo e na espiritualidade, a eterna pergunta de nosso escritor curvelano,Lúcio Cardoso “Meu Deus? O que é isto a eternidade?”; preferi e escolhi arrastar o “fio, fino e longínquo, (...) que vem do longe e vai dar no longe”, conforme o inesquecível e inestinável Rosa, no conto Sarapalha que mais amo e aprecio de toda a sua obra, o Rosa que nos orgulhou, dignificou, honrou nossa Curvelo como sendo a “capital de sua literatura”, a quem eu, particularmente, serei sempre grato.
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A evolução dos tempos transformou “a ponte” de seu texto Coração de pedra, “num extenso pontilhão” – na passarela dos tempos idos as lembranças e recordações, alegrias e satisfações se metamorfosearam, foram re-criadas, recriaram-se, o que eram quimeras, fantasias, ilusões se tornaram sonhos, utopias, desejos e vontades. Os universos e horizontes se expandiram, estenderam-se ao longo das florestas, dos vales. Na vida, de “ambos os lados”, grades, correntes, algemas, medos, relutâncias e hesitações, resistentes grades, mas a chama da do sol iluminando as manhãs, as tardes, as esperanças de nossas conquistas, de nossas “real”-izações, a pedra de toque de todos os desejos e vontade de saciar a sede e fome de VIDA, COMUNHÃO.
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Na ponte de outrora, na passarela dos tempos idos que do início ao fim o espetáculo de passo a passo cada passo ser um passo, “a mais complicada armação de ferros, que é a sustentação da grande massa de cimento armado”, no pontilhão de agora, de nossa modernidade, o complicado quotidiano de nossos problemas, conflitos, dores, sofrimentos, os homens na contramão dos valores eternos e imortais, da ética e dos princípios; a tecitura presente de nossos medos, resistências, relutâncias. “(...) pode-se calcular que é a mesma que hoje vê sobre si os mais poderosos e superlotados caminhões, controlando com o efeito de uma placa luminosa em grandes letras: “Cuidado! Perigo!”. A ponte, mesmo que tornada pontilhão, resultado da modernidade, vê sobre si o mesmo peso de outrora, as mesmas coisas acontecendo na passagem de um lado a outro.
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Você, caríssima Clélia Corrêa Leão, con-templando a ponte de outrora, a criança, a adolescente, a mulher, sente presente e forte em si que a vida é movimento, é passagem, é caminhada, nada permanece o mesmo, são outras emoções, outros sentimentos, esperanças, fé, outras experiências e vivências, e isto só pode ser real-izado em verdade, em verdade, com o “numinoso” que se a-nuncia na imaginação, no imaginário da escritora e mulher, da amiga, da companheira, da eterna sonhadora, quem sempre reflete e medita o que é isso um Coração de pedra, quando pode seguir as trilhas da vida, dos horizontes e uni-versos, tornando-se coração de diamante, de cristal, de pedra preciosa. Nas ruas, alamedas, becos, avenidas de nossa modernidade, a violência, o desrespeito à vida, a insegurança, o medo, o perigo, e o homem necessitando sempre ter cuidado, cuidar-se, evitar as dores, sofrimentos, perdas, tragédias.
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“Fora humilde passarela dos tempos idos. Uma dúzia de tábuas apenas, sobre si um suporte também em madeira... de vez em quando, um carro de bois dando solavancos... ou os cavaleiros que ao se aproximarem, mudavam de galope ou marcha para troteio vagaroso, num pinote forçado, até que faziam uma pequena parada para o animal beber água”. É difícil, complexa, árdua, complicada, trilhas de dores e sofrimentos, medos, de lágrimas, dúzias de problemas, sobre o corpo do homem a cruz pesada que leva até ao calvário, mas o suporte da esperança, da fé, dos sonhos e das utopias, o suporte do amor, da solidariedade no “coração-de-diamante” da escritora, da poetisa, da “artífice-da-palavra”, da mulher, a pedra de toque para outras conquistas, realizações através, por inter-médio de tudo isso; o carro de nossos bois dão solavancos nas trilhas de pedras, nos buracos de estradas de chão, damos solavancos nas calçadas da vida, de nosso quotidiano. De vez em quando, mudamos de atitudes, de ações, de posturas e condutas, buscamos outros rumos e direções, direções e destinos, em “troteio vagaroso”, “pinote forçado”, até que fazemos uma parada para outras reflexões, meditações, re-(n)-“ov”-ações emocionais, sensíveis, esperanças e fé, para beber água límpida e transparente, saciando nossas sedes, nas lagoas, lagos, “rios sem margens, sem pressa”, como o animal o faz para seguir a sua viagem, levando o cavaleiro pelas trilhas do sertão, do chão esturricado, dos casebres, das arvores sem folhas, já mortas, só galhos, do tropeiro que segue seu destino de vivente e experienciador de histórias, de estórias do matuto, do campesino, do caipira, mas no peito a simplicidade, a humilde, a intuição pura, os sonhos, utopias, quimeras e fantasias...
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“A ponte também passava por deliciosos momentos ao ver que era ali o preferido descanso após o merendar dos viajantes”. Os homens também passamos por deliciosos momentos e instantes, alegrias e prazeres, satisfações e contentamentos, dores e sofrimentos, ainda que efêmeros, mas “nas trilhas do sertão a efemeridade e eternidade se aderem e desta ade-®-ênc-ia o peito se enche de novos tempos, novas auroras e novos crepúsculos, os desejos e vontades feitos conchas nas mãos em conchas se elevam aos céus, e clamam por Amor, pela presença de Deus, de Nosso Senhor Jesus Cristo em nossas vidas” – idéia, pensamento, frase de minha autoria. “Descanso após o merendar dos viajantes”. Descanso, após as meditações, re-“flexões”, do alimento que re-colhemos e a-colhemos da natureza que nos revela suas belezas, o belo que lhe habita a seiva da vida, a semente de todas as plantas, o prosseguimento da jornada em busca da fonte do “rio sem margem, sem pressa”, em busca da Vida, das letras, da poetisa, da artífice-da-palavra, semeando no coração de pedra dos homens sonhos e quimeras, utopias e vontades, desejando tornar-lhe e tornar-lhes de diamante, de cristal, de arrebiques. Qual o solitário do deserto que se alimenta da espiritualidade que o silêncio e a solidão inspira, acende a chama da esperança e da fé, como os monges do deserto, como no Sermão da Montanha da Bíblia. Depois da passagem dos tropeiros, dos cavaleiros solitários, dos homens, mulheres, crianças, velhos, no outro dia, ´”a ponte já se encontrava “aos trancos e barrancos”, era ela a solitária, era ela que relembrava, recordava, lembrava dos tempos idos, do ontem quando os tropeiros passaram. Tudo se desfazia dias depois, ao presenciar em torno de si, uma festa completa de um povo tropeiro!
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A poetisa, a escritora, a mulher, os homens e a humanidade que lhe habitam o espírito, o íntimo, no instante das letras, criações, re-criações, dos novos sonhos, utopias, querências, pre-(s)-enc-ia em torno de si a esperança do amor, da solidariedade, da compaixão, do amor, seguindo sua jornada, na sublimidade, éter-(n)-idade, do desejo do belo e da beleza, da arte e da “pentelhice”, da poesia e da “peraltice”, da poiésis e da fé na passarela de nossa modernidade, de nosso quotidiano, de nossas vidas. A festa completa de uma poetisa-escritora, escritora-poetisa, de uma mulher, de uma companheira, dos debiques dos “tico-ticos”, “na terra ciscada pelas galinhas, e dão carreirinhas tão engraçadas, que a gente nem sabe se êles estão cruzando aos pulinhos ou se é vôo rasteiro só”, conforme Rosa, dos “enfeites e arrebiques”, conforme Goethe, Werther, na “casa interior” que nos habita, que desejamos habitá-la verdadeiramente, e dá saltinhos engraçados, que nem sabe que tudo será real-izado, os sonhos concretizados, as esperanças vividas e experienciadas, mas segue a trilha. “(...) essa ponte que resiste tantos revezamentos na vida, tem de ser mesmo de um coração de pedra”. O cor-ação da poetisa resiste a dores e sofrimentos dos homens e da humanidade, os seus, de seus entes queridos e intimos, os revezamentos da vida, tem de ser mesmo diferente, re-vela-se um coração de musa que na passarela da vida e da espiritualidade des-fila, des-fia, tece, crocheteia novos tempos, novos homens, o homem-Deus que no conhecimento do Amor pelos homens e pela humanidade se adere ao Deus-homem e sua intimidade se a-nuncia “coração-de-diamante”, diferente do Coração de pedra de nossa modernidade. Somos os únicos culpados de nossa história, conforme Walter Benjamim, e somos os únicos responsáveis por trans-formá-la, de lhe dar outros enfeites e arrebiques.
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Caríssima Clélia Corrêa Leão, os meus sinceros desejos e esperanças de que sua vida seja sempre a busca desse Coração-de-diamante, do desejo dos homens de se encontrarem e se alimentarem de VIDA.
RIO DE JANEIRO(RJ), 19 DE FEVEREIRO DE 2021, 12:47 p.m.

 

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