#DE PERNAS TORTAS?" - Manoel Ferreira: Texto



Assisti a doutor em Filosofia, em Immanuel Kant, sair de um Seminário em Kant, andando de pernas tortas por haver feito uma análise e interpretação errôneas, verdadeiro despautério, na Universidade Federal de Minas Gerais. Foi o Prof. Erich bombardeado em todos os níveis. Estava eu do lado de meu professor de Teoria do Conhecimento II, dizendo-me ele: "Aprenda com esta experiência a jamais ser categórico com um pensamento, ele existe para ser pesquisado, investigado." Memorizei as suas palavras. Não meto a minha mão em cumbucas quanto a obras alheias, exponho o que sei mas deixo questionamentos expostos.


Advertiram-me inúmeras vezes sobre a exposição de minha obra, efetivamente vão querer adulterá-la em todos os níveis, está aberta. Daí cuidei com todas as possibilidades possuídas com as idéias e pensamentos, aprendi a in-versá-la, re-versá-la, mas sendo isto um mergulho nos interstícios do inconsciente e da alma, deixar cachapreada a minha "marca", linguagem e estilo individuais, próprios, autênticos.


Toda e qualquer obra está aberta a todas as dimensões de análises e interpretações, mesmo sendo autêntica. Não importa o que queiram fazer de minha obra, res-ponderei por ela, o criador tem a obrigação de cuidar de sua criatura com dignidade e honra, o que disserem acerca deste cuidado não importa. Mas para evitar insatisfações com as minhas atitudes e ações, com efeito, efusivas, tenho outro recurso muito mais re-velante para a própria obra: torno-a inda mais complexa, hermética, mergulhar nela com intenções escusas vão encontrar forma ou modo de obstáculos.


Inda me lembra no Seminário sobre Kant na Universidade a fala de um grande amigo, estudante junto comigo, hoje doutor em Foucault: "Se acontecer alguma coisa com a sua obra, faça questionamentos sobre níveis mais elevados, daqueles que só o autor pode saber; se responder, tenha a honra de pedir desculpa." Faço mais que isto, peço perdão à pessoa, retrato-me pessoalmente. Caso contrário, não há o que dizer. Respondo pela obra até a minha morte, não a deixo perder-se através das intenções escusas. Não sou doutor, mestre na minha obra, sou um investigador de minhas idéias e pensamentos.


Jamais sairei de um lugar andando de pernas tortas devido a responder pela integridade de minha obra, tenho sempre um modo de deixar a "marca" que construí e ando a construir inda mais, não peço desculpas, mas apresento a razão das atitudes e ações, isto de as ações e atitudes terem suas consequências, sim, porque a decisão implica em consequências, tenho de andar nesta corda de atos e consequências, apresento a resposta.


(#RIODEJANEIRO#, 25 DE AGOSTO DE 2018)


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