#AFORISMO 1030/ O LONGE É O LUGAR MAIS PERTO DO INFINITO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



Nada é por agora
Inframundo deserto, onde a corola
Noturna des-enrola seu enigma,
Fatal mas trans-cendente, emanações
De infância e de futuro,
Corrige o oblíquo pelo presente
Corrige o obtuso pelo ausente,
A mão sabe a cor da cor
Além-limite do sentimento da tonalidade,
Tudo existe porque pintado à feição de vinha mágica
Não para o sabor do vinho,
Principalmente para despertar o desejo
De voar para Nunca-mais,
A mão in-finita em seu poder de encantação,
Saboreá-lo, sobrevoá-la,
Esforço necessário do Ser no caminho para si mesmo.


Nada é efêmero
Além de horizontes distantes, águias sobrevoam livres,
Aquém de uni-versos próximos, ventos sibilam altissonantes,
Confins de arribas alhures, pássaros gorjeiam felizes,
Longe de in-finitos lá e acolá, águas cristalinas percorrem veredas,
Algures de sonhos e desejos, sons se perpassando,
Sons se entrelaçando, ritmos, melodias,
Ondas se refazendo na passagem do tempo,
Deslizando-se serenas, calmas,
Molhando a areia da praia,
Uma a uma...


Nada é póstumo
O vento balançando as folhas de ipê roxo:
A sombra da árvore sobre a calçada, sobre o chão de pedras,
Parada um instante alongando-se com o sol, dissolvendo-se
Numa sombra maior, raios de sol
Incidindo no beco-sem-saída, a Casa Verde, guarda tesouros
Inestimáveis, na mesma terra o silêncio do universo,
A vida é bastante, o tempo é de bom tamanho,
A trepidação incessante não des-figura a face do homem,
Desenho que se produzirá ao in-finito,
Cada folha é uma diferente,
Falta de recursos para dominar, resistir ao fim,
Sinta-me o cheiro da existência, embriagar-me de suas
Volúpias, êxtases, sublime quotidiano de nada, vazio,
Abismos, silêncios, sibilos, ritmos soam além...


Nada é eterno
Sentimentos de verbos infinitos recolhem de desejos
Esperanças edênicas alumiando pretéritos de futuras utopias
Ao longo de segundos sem fim, amor perpassando arco-íris de desejos
Emoções de intransitivos gerúndios
- o longe é o lugar mais perto do infinito –
A-colhem uni-vers-itudes de querências
Nonadas de transitivos particípios colhem sementes
Do cosmos, velando as sombras de árvores
Nas calçadas de ruas desertas sob os raios numinosos
Do sol, raiando na poeira do tempo, as contingências.


Nada é perene
Qualquer viagem, mesmo sem tapete mágico,
Nas asas de um condor, de uma águia,
É uma ação,
Projecta através da luz da memória uma imaginária
Viagem ao desconhecido, "ímpeto alado do
Caminho para o Ser",
O desejo da luz na mais funda treva
Fardo sutil e pesado,
Vem do mar e vai além do mar,
É frio, é quente, é aconchegante,
E é, sobretudo, inexplicável consolo para
O caminhante.


Nada é perpétuo
É sempre conveniente deixar algo para imaginar,
Assombroso poder intuitivo que caracteriza a existência
Bússola dos sonhos,
As experiências, vivências, sem elas o destino das
Concepções seria o olvidamento,
O talento se curva ao gênio, presença maternal
Das contingências do mundo
Vencer o tempo é a obstinação humana,
A minha é recompensa,
Desejar a imortalidade,
Rosa protegida pelos espinhos,
Ilusão de quem, na impossibilidade de possuir o
Verdadeiro, contenta-se com o falso, a farsa, a aparência,
O circo onde os habilidosos se exibem tanto pode
Ser numa exposição, como num Museu,
Sem falar naqueles que sobem em tambor de gasolina
Microfone em mão e discursa sobre a Liberdade.


Nada é para sempre
Sou a caverna de estalactites, suspendendo a lagoa
De águas nítidas nulas
Sou o deserto de areias frias à luz das estrelas e lua
Seguindo na madrugada desértica o alvorecer dos minutos
E segundos do pendulum que a-nuncia
O a-temporal do destino, saga, sina,
O in-temporal da liberdade, da atitude e da consequência,
A a-temporalidade das ipseidades e facticidades,
A in-temporalidade dos passos, traços, marcas,
Sou a ilha solitária no perder-de-vista do mar
Orquídeas, rosas vermelhas e brancas, begônias, antulhos
Con-templando o longínquo, o artista-plástico faz ornamentos de flores
Na solidão do tempo, no silêncio das inspirações e percepções.
Sou a poeira das estradas para o além
No cata-vento da montanha os efêmeros sublimes perpassam ilusões,
Fantasias, quimeras, sorrelfas, sonhos,
Nos traços feitos à mercê da mão livre,
Aspectos diversos, nuanças,
Rebeldia, intransigência
E o desprezo, embora o fracasso coroe momentaneamente
Os que assim procedem, são qualidades desagradáveis,
Mas dentro dela como são agradáveis e raras!


Nada é longe,
Verbo de ser nada,
Promulgadas as nuances infin-itivas
Do além projetadas e elevadas à etern-idade
Sem quaisquer dimensões da verdade,
Esplende ao acaso do tempo,
Ocaso dos vazios seculares e milenares,
As mentiras incólumes que
Os dogmas e preceitos solidificaram nos alforjes e algibeiras Das redenções e ressurreições, espíritos que realizaram as Suas missões para o bem,
Para a verdade,
No limite-instante do Juízo Final
Rogam o vazio celeste para estarem para sempre,
Nada de éden,
A fé jamais fora tergi-versada para a felicidade,
Após a morte,
Sim para a verbalização da vida
Nas suas dialécticas e contradições da náusea
E sabor divino das contingências.
Fé, esperança,
Sonho, liberdade, dimensões exclusivas do estar-no-mundo Para a continuidade das buscas e desejos dos mistérios e Enigmas da verdade serem unicamente
Pedras de toque para os questionamentos,
Dúvidas, inseguranças...
Quanto mais forem os mistérios e enigmas, quanto mais Preservados e conservados nos cofres do inconsciente Preliminar das angústias, mais serão perfeitos os cânones do Efêmero e etéreo,
Evangelizados os rituais e lendas do ser-tsé das melancolias.


(#RIODEJANEIRO#, 27 DE AGOSTO DE 2018)


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