AFORISMO 1033/ SONS QUE SE ENCONTRAM NO ESPAÇO, FEITOS ORQUESTRA SIDERAL# - PROJECTO #VERSO-UNO LITERÁRIO# - GRAÇA FONTIS: ESCULTURA/GRAÇA FONTIS/Manoel Ferreira Neto: POEMA PROSAICO-POETICO



E como doce orvalho a pingar do coração rumo a todos os mares na escura selva do mundo; por quanto um reger harmônico quase celeste de todos os sons que se encontram no espaço, feitos orquestra sideral, trans-cendentalizando em plenitude a Sinfonia Cromática dos tantos desejos aos presságios nos lívidos relâmpagos de corações assustados e que a mão num derradeiro afago no rosto cansado e olhos de compaixão, mais bocas de sinistros gritos a ecoarem nos precipícios ondas de misérias e angústias aos arquivos lacrados desta corte-mundo na largura de todas as dores e o ranger das almas ao ansiarem a eternidade antes de serem reduzidas a pó, assim acocoradas na claridade turbada da meia-noite.


Eis que nada sou,
No verbo de ser do nada
Reergo o desejo,
Vontade,
As esperanças,
Sonhos e utopias.


Eis que sou - nada!
Se gritasse altissonante de por baixo
Das vozes nada há de sons inéditos,
Ritmos futuristas, melodias imortais,
Tudo é justamente o mesmo,
Justificaria e explicaria a ausência de criatividade,
Se gemesse a dor incessante de não atingir a palavra
Que emite a musicalidade do nada,
Frustrar-me nesta dimensão seria doloroso,
Se tocasse valsa vienense no violino no leito dos sentidos,
Significados, significantes, no sonema do silêncio do bosque,
Pontes móveis, "associações de idéias" da memória,
A escuridão não elimina o sucedâneo de estrela nas mãos...


Veio e foi-se o crepúsculo – Veio e não trouxe
A noite enluarada, sem estrelas, a lua escondida;
E os homens esqueceram as paixões, nas tremedeiras
Dessa desolação; e os corações esfriaram
Numa prece egoísta que implorava luz:


Que sou - eis nada!
Abluções visam por inter-médio
Da purificação à eliminação do pecado,
Pecadilho, moléstia psíquica,
A eliminar a própria memória do tempo
Em favor de uma temporalidade mística,
Ritualística, pura lenda,
O pecado-queda dera origem ao tempo,
Há sempre uma passagem da treva à luz,
Superar o tempo pela etern-idade,
Suprassumir os ventos que levaram sonhos
Pela imortalidade das utopias,
Liberdade posta em questão,
Através da dialéctica da existência dialética,
Verso antes do canto, re-verso pós o cântico,
Vozes uníssonas,
Do verso in-verso, uni-verso, latejante
No silêncio da imagem re-fletida na superfície lisa
Do espelho, na passagem infinita das notas,
Compondo a música,
Encontro de mim:
Silêncio...


Nada - eis que sou!
Expelir a fumaça do cigarro
Assistir o seu esvaecimento no ar,
Iluminura de manuscritos e vitrais,
A eternidade tem sua coroa de ouro,
Certos mortos estão mais vivos
Do que quando habitavam o mundo
Marginal às ambições dos homens comuns,
Acalentar sonhos in-compactíveis
O belo raramente é algo ao alcance
Da época em que surge.
A morte não vence a arte.
O tempo flexibilizando-se
E emprestando à figura forma de
Acentuada sinuosidade.
A morte e o eterno estão
Demasiadamente ligados,
Pela representação e pela realização,
Ao conjunto da construção para dele
Poderem ser separados.


Se a liberdade não re-colhe e a-colhe os mistérios e enigmas dos sofrimentos e dores, jamais será capaz de deixar suas asas flanarem no ar à mercê dos ventos vazios ad-vindos das percuciências mais íntimas do abismo que vai muito além da ausência de seu fim, onde as inspirações e intuições são fontes da verdade nas ad-jacências do inaudito e desconhecido, onde bebem a cristalina e límpida água das glórias supremas, elucubrando os ápices da perfeição.


Quê nada!... - eis-me!
Sou-me auscultando longínquos ritmos, melodias
Sou-me ouvindo distante notas se des-fazendo,
Criando outras dentro de outras,
Sonoplastia, efeitos acústicos da palavra recitando
Declamando as dores e sofrimentos d´alma
Engaiolada nas intempéries do quotidiano


O verbo amar dos sonhos
Só ipsis-literaliza o sublime,
Quando a liberdade se re-vela
De con-sentir a vida nas suas "litteras"
Do absurdo e meiguices das
Palavras silenciosas que o espírito concebe,
Cria, dá a luz, joga espontânea e levemente
Os ases da ternura, nos seus liames brilha,
Os naipes do pôquer, nos seus jogos de perspicácia,
O encontro espiritual do sublime e etéreo
Dos efêmeros da beleza e maravilha
Do que trans-cende,
Trans-eleva,
Trans-substancia o nada grávido do vazio,
Que será a miríade desértica
Da perpetuidade além das nadificadas
Sorrelfas des-sublimes do ser
Que há de eterizar as verdades
Do cântico apocalíptico de arribas
E nenhures se comungarem,
Serem versos-unos do amor
Intransitivo do sujeito que se esplende
Ao longínquo dos confetes
Que carnavalizam prazeres, êxtase,
Gozos, clímax,
E são o divino de todas as buscas
E querências de a vida ser vida,
O ser-{da}-vida
O uivo noctívago das silenc-itudes,
De algures e alhures se entre-laçarem,
Serem sem palavra, sem filtro, sem opala:
há um som, uma imagem, luzes, contra-luzes,
Sombras, artifícios, sabemos-lhes nos olhos,
Contemplamos-lhes, saciamos a sede de saber,
Reter na chuva, na neve, na neblina, no espelho,
Na memória, e todavia perdemo-la no ziguezague
De estradas, campos, vales, curvas e aclives,
Fazendo roda, viagem pelo tempo,
Imagens se conversam, palavras floram livres,
E tudo se resolve numa efusão de entrega e recepção,
Poder das cores e imagens, das palavras e sons,
Ao fim de um silêncio, a boca aberta
Em ira justa, questão de semântica unicamente,
Ditas noutros tons e sons, noutras melodias e metafísicas,
Noutros ritmos e sonemas,
Crispação do ser humano
Nas trilhas de pós e poeiras,
De pós e utopias da
Liberdade...


Quanto maior o aclive terrível é o declive em que
O coração sente as vertigens
Nas dúplices vontades!


(#RIODEJANEIRO#, 29 DE AGOSTO DE 2018)


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