#AFORISMO 1019/ TORPE CHATIM DE ESTULTO PALAVRÓRIO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



Dúvidas fragmentam o que silencia as vozes, o que musicaliza sentimentos e emoções, o que ritma as inspirações solitárias da verdade e do belo, o que melodia as intuições peregrinas da liberdade e do amor, o que acorda as percepções a-nunciadoras do pleno e das plen-itudes.


Há íntima nascente do espírito, ó famosos sábios, um bálsamo para as impetuosidades dos ventos que sopram nos auspícios da colina onde os lobos uivam na lua cheia.


Se o chego a conseguir... que júbilo! que dita!
Não precisarei mais, desde essa hora bendita,
Desde este instante sagrado,
após trabalhos mil como esses que frustrei,
dar por certas ao mundo as coisas que não sei,
dar por verdades às filosofias as idéias que não elaborei,
dar por sonemas às quimeras as sensações do além,
Ser-me-á fácil dizer o vínculo profundo
que uniu partes sem conto, e fez do todo um mundo
de um tudo a completude de todas as coisas;
ver a força motriz de tanto movimento,
e consignar-lhe a causa. Ah! desde esse momento
em que o cerrado enigma alfim me for notório,
foi-se o torpe chatim de estulto palavrório.


Há uma vela correndo no mar a sabedoria selvagem que desperta todos os cantos dos que amam, falam a própria linguagem do amor enamorado pela liberdade de ser.


Há clérigos sentados nos degraus da igreja, após a missa matutina, contemplando os canteiros do jardim público, o bem e o mal são apenas sombras inter-postas e áqueas tribulações e nuvens passageiras; seminaristas, estudantes de filosofia, passeando no Largo Ruten, dialogando sobre a Fenomenologia do Espírito.


Aos longínquos campos de algodão...
aos distantes campos de lírios...
à sombra serena do ulmeiro...
verbos regenciais de desejos do belo
conjugam do tempo e do ser a metafísica
gerenciam do vento e das utopias a linguística
dos sonhos que esplende a todos os uni-versos,
a todas as "paisagens e riachos que iluminarão
idéias com novos brilhos,
pensamentos com outras cintilâncias",
metáforas con-cordam de verbais utopias
os sibilos ad-vindos da passagem dos ventos entre as montanhas, o som das águas do rio na sua jornada na madrugada por caminhos sinuosos.


Aos remotos vales de orquídeas... aos afastados pampas de ovelhas... às lonjuras de terrenos de canaviais... à soleira da colina de oliveiras... in-fin-itivos que tematizam a solidão das esperanças, gerúndios que artificiam de linguísticas e semânticas as semiologias das palavras, as sonéticas dos sentimentos e emoções, particípios que nascem e re-nascem das lácias línguas dos pretéritos, águias e condores sobrevoam o deserto, e nalgum sítio do sertão cavaleiro conduz o gado a espaço aberto, sem cancelas, sem porteiras.


Devaneios... Desvarios... Manhã, pós chuvinha fina por toda a madrugada, tempo nublado, friozinho... Ao longe, a neblina envela o mar.


Há fomes seculares, sedes milenares apocalipseando a consumação dos tempos, enfiando a cabeça na areia das coisas celestes.


Há boêmios e vagabundos passeando na praça central, ouvindo músicas nostálgicas, a fonte luminosa ligada, casais sentados nos bancos arrastando todas as coisas vindouras para o instante-limite de suas fantasias do eterno amor.


Há um ad-vérbio entre vírgulas perscrutando o espírito das gravidades temporais, às suas costas há uma eternidade.


Sorrelfas do aquém-tempo elencam,
alumbram venustas gnoses regenciais do vazio.
Centelhas de primavera na floração orquidisíaca
do amanhecer de simples ilusões do eterno
habitando o âmago da liberdade de criar,
re-criar as dimensões do Ser.
Da boêmia e sabedoria o vento do silêncio,
a maresia da solidão...


Há ipseidades, facticidades circunvagando idílios, sorrelfas, quimeras; há forclusions, manque-d´êtres circundando medos, inseguranças, náuseas.


Há um canto de melancolia, salmo de nostalgia artificiando pós regenciais de sonhos que preencham os lapsos de memórias, lembranças, recordações; inda me não fora dada força suficiente para o último ímpeto e audácia da cigarra, até à garganta me sobem o pulsar de meu coração quando a ouço cantar... Cítara de verbos milenares... cítara de sons primevos...


Aragem... brisa... Zéfiros verbais, linguísticos de sonhos primevos que serenavam sendas e veredas a serem trilhadas, e no crepúsculo a imagem lúcida, lúdica...


Há um asilo para escritores indigentes e um hospital para maus poetas.


Há uma canção distante velando o tempo, tempo de solidão desértica da verdade, tempo de silêncio secular das utopias, tempo de ideais efêmeros, tempo de sentimentos e emoções do há-de ser.


Há uma noite que custa a passar, inda o alvorecer distante, mas está por se realizar, micos se divertindo no fio de alta tensão, pássaros cantando... pensamentos, idéias a-nunciam-se, esvaecem-se de imediato.


Tantos entes diversos, desconjuntos, desconexos,
quem os une em convívio harmonioso?
quem transforma paixões em tempestades?
quem acende arrebóis na mente escura?
quem poetiza sons no silêncio - sonemas poéticos?
No caminho da amada quem semeia
as flores mais louçãs da primavera?
Quem de ténues folhinhas entretece
c’roa, que a todo o mérito premeie?
Quem funda Olimpos? quem despacha deuses?
A força do homem, convertida em estro.


Há uma prosa silenciosa re-versando, in-versando palavras às sara-palhas dos ventos de leste, palavras desérticas de signos, símbolos, metáforas, a língua toca os lábios à busca de sabor de prefixos, sufixos, temas e radicais, a alma circunspecta, introspectiva vagueia por florestas, mares, bosques.


Há um verso mudo nas longas ruas que levam para a frente as gélidas névoas.


(#RIODEJANEIRO#, 21 DE AGOSTO DE 2018)


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