#AFORISMO 995/ CANTATA PROSAICA NO SILÊNCIO DA MADRUGADA** - PROJECTO #OS 22 QUE ANTECEDEM O MILÉSIMO# - TÍTULO E PINTURA: Graça Fontis/LÍRICA PROSAICA: Manoel Ferreira Neto



Epígrafe:


Lentamente constrói-se a felicidade num tecer de tempo sintetizando o "eu" e o "outro".(Graça Fontis)


À minha inestimável, amada, amante, companheira das Artes, cúmplice da vida e dos sonhos, Graça Fontis, esposa muito paparicada, esta "Cantata" com muito amor.


Cantos travessados de opostos, invés, "des-similares", "aliásis" de re-versos, in-versos alteiam na sensação de in-auditos, in-terditos, a cantiga do ressuscitar, balada do redimir, canção do eternescer, re-trans-cender elegante melodia, suave ritmo, pulsando no ente, desprende-se na insensibilidade, isenta-se na extensão.


Aqui se esvaece a brisa noctívaga, e de re-cord-ar não há re-cord-ação, de lembrar não há lembrança, de devanear não há devaneios, de idealizar melancolias não há resplandecer de sentimentos, emoções olvidadas, de artificiar utopias nostálgicas não há o esvaecimento das buscas e desejâncias, over and over again. O espectro, submarino, à luz da ampulheta do ser, vai apontando/despontando, e já noctívagos, rotos, des-ossados, os abraços doem para além da matéria esparsa em senos, tangentes, co-senos e co-tangentes, em números.


Atravessados avessos de opostos po-emas, po-esias, conquistam ensejos de infelizes gemidos e tempestades asquerosas, esfarrapadas e esculpidas nos repositórios do intelecto, nos depósitos da razão e dos sensos, nos cofres dos instintos e dos nonsenses.


Recíprocos de oblíquos cantos res-avessados emporcalham a fólio despojada e cã com pigmentações da ânima, descortinam a semblante retirada, propalando em labaredas vivas gotas pequenas análogas às freichas sumidas. De exílio, imaginação atada aos corvos da própria ceva. Das línguas in-finitas que falava, das outras línguas desejadas para expressarem o inexpressível, o caprichoso som une formas vivas, entre ramagens de sentidos e signos, entre folhagens de verdades e símbolos. Liberte-me o coração. COMO É POÉTICO VISLUMBRAR OS ESGARES DE FACES TRISTES! Entre cantares de amantes, de amados, pairam na renda fina e singela da entrega inda mais aconchegante, para além dos instantes-limites, aquis-e-agoras, a rosa aberta da liberdade de criar e recriar o sentimento in-transitivo do verbo de amar, a dádiva de pétalas des-perfumadas no crepúsculo cristão.


De poemas avessos, recíprocos re-vessos arruínam a erma de pesquisas, in-vestigações, debuxam caminho alvo, límpido, cristalino, senda diáfana, e sem desculpas redigem proposições pronunciando, de querença, tocatas de lua, serenatas de estrelas, rasteiro de fadários e balalaikas, quimeras áureas que a agitação, restituída aos delírios, pressagia vultos amados (proscênio de um aposento: o palco ficou vazio para caber a forma ondulante que progride, esmagando palavras, a-nunciando gestos, criando e re-criando risos, gargalhadas soltas e livres, desenhando e pintando no espelho do tempo imagens de olhos vislumbrando o in-finito, horizontes e universos).


Não é longo mentar orquídeas lilases de metáforas e in-versões, e permitido deambular por cima do estreito rio presente, construir de pálido crepúsculo o arco-íris, metafísicas entre dois mares. Que presságios circulam pelo éter, que signos de paixão e volúpias, que suspirália hesita em con-sumar-se, suprassumir-se, como flúor, COMO SÃO LÍRICOS OS CLAROS GESTOS DE ENTREGA! E como são prosaicos e eruditos os desejos, desejâncias, querenças nas vias da travessia para a criação, re-criação na imagem e nas contingências de um verbo intransitivo de amar a liberdade do Verso-Uno.


Os prazeres criaram raízes, e o que é ensimesmado no olhar encontra explicação, explicitação. Música breve, noite longa. Palavras no chão, memória nos autos. Toda história são angústias, tristezas. Um homem se con-templa sem amor, e se desnuda sem qualquer curiosidade. Da colina do silêncio às avenidas da solidão a presença omnipotente e omnisciente da con-templação do espaço. É um anúncio, um chamado, uma esperança embora frágil, pranto de criança no berço, janela aberta, ventozinho suave refrescando o quarto, cigarras cantando em uníssono. Ec-sistiriam outras fantasias, desvarios? Haveria outras carências e outras fomes?
No fundamento do ser as horas fulguram, desejo de ainda não desejar, sonho de ainda não sonhar, cada sentimento tem o seu cintilar, cada emoção tem o seu brilho e cada brilho o seu pro-jeto para além das con-tingências, presença de relógio insinuada nas palavras que como carros percorrem as ruas, carroças atravessando mata-burros. Ponho-me a correr na praia, venham as ondas a encobrirem-me, venha o mar, fluxos de sensações, fluxos de sublimes vontades, abro-os a todos, mas de todos eu salto, verbo in-trans-itivo, fin-itivo inner de amar a liberdade do Uno-Verso.


Oh, mitos que cultuamos, sentidos re-versos do lúdico e do erótico, falsos, flores incolores, anjos desleais, adúlteros... arquejos poéticos eruditos, querubins... Suspirar suave, comedido, no silêncio da noite, na passagem solitária por entre as paisagens do in-finito e confins, palavras e imagens se invadem, aproximam-se, amantes se entregam plenamente, ouvindo distante tocar A Whiter Shade of Pale, compreendem-se, entendem-se, perdem-se em si mesmos, dormindo profundamente na noite, pés entrelaçados, nos sonhos vozes embalando sentimentos, ecos de esperanças, nos poemas de sons metafísicos ninando sonhos no secreto semblante da verdade.


Nos mares mais exíguos, enigma que distrai ou con-centra, dis-persa ou con-verge princípios, re-{n}-ova ou matiza, pro-longando-lhes no tecer do tempo, os princípios do con-sentimento da síntese "eu" e outro", o "nós". O espelho de-volvendo di-versa imagem, sempre evocativa, rogativa, in-vocativa, re-clamativa, do primeiro retrato, avant-premier da imagem que compõe e artificia de si mesma almas pre-destinadas à síntese do viver a vida e a arte no quotidiano das contingências e da relação íntima. Tipo de vocação cotidiana. Depois das memórias vem o tempo trazer novo sentimento de memórias à busca de pupila que as re-flita.


Som sonante, poemas sonados do previamente sentido ou ruídos escutados de um planger, retratados de futuros, vires-a-ser, tudo, no coração, é ceia da meia-noite, hão-de ser ou auroras mal adormecidas nas dobras do travesseiro de plumas que versejam atravessados avessos invés, exibindo o pretérito, ou claros estoques de manhãs que con-templam, sabem, conhecem a flora que aí se delineia, que cada um traz no sangue, no vento.


(**RIO DE JANEIRO**, 08 DE AGOSTO DE 2018)


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