**HALO VERDE DA LUA** - Manoel Ferreira


Dedico este texto ao escritor Goes Mariano com os meus sinceros respeitos e reconhecimentos.



Quanta vez, oh, desperto e abandonado, não entro pela noite dentro, aguardando não bem a madrugada nem o meu sono final, mas o vazio absoluto de um nunca mais para o passado e para o futuro! Presente que pres-en-ifica, pres-ent-ificando o aqui e agora.
O luar entra pela janela, transfigura tudo em aparições de espectros. Des-cubro, então, sentado aos pés da minha cama, o meu demônio solitário. Mas já o não temo nem quase reparo nele, tão habituado e quase desejoso da sua presença. Esqueço-o, silencioso, com os olhos fosforescentes no halo verde da Lua. E, tranquilo, soergo-me na cama, rodeado vastamente das coisas do mundo, povoadas de sombras concebidas pelas luminárias dos postes de cimento armado.
Os cães, amendrontados de lua, ladraram ao céu, agora dormem, perdidos na submissão universal. Longo tempo fico suspenso do silêncio. Ouço-o, saborei-o, sinto-o. Caminhos desertos onde, no entanto, parece-me ver as formas ocas e trans-parentes das presenças diurnas. Uma imobilidade nítida mineraliza tudo como em súbitas figuras de grutas, frouxamente iluminadas por um halo vaporoso. Até que, fatigado, mergulho nos cobertores e cerro os olhos, à espera de que qualquer coisa aconteça e tome conta de mim.



Manoel Ferreira Neto.
(07 de abril de 2016)


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