VERSOS, IN-VERNO E SOLIDÃO - Manoel Ferreira

 

Águas de palavra tênues,

Singelas, cantadas

Pelas vozes sussurradas,

Mostram aos indivíduos,

Que trazem na alma os sofrimentos

E dores dos caminho trilhado e percorrido,

Os sonetos ao som das liras,

Quando a semente reina ao longe,

Fecundando os campos do espírito.

 

Na memória dos crepúsculos e auroras

Ao longo da vida,

De sendas esquecidas

Do universal delírio,

Nos passos secos e duros na terra,

Em cujo solo nasceu e re-nasceu

O esplendor das flores,

Em inauditos versos e verbos que inspiram

Os angélicos sonhos

De quimeras, fantasias,

A melancolia, nostalgia de amplos

Livros

Em cujas páginas as letras

Desfiam os eternos júbilos, mortais orgulhos.

 

A terra patenteia lúgubre aspecto,

Indaga a alma inquieta,

Num perpétuo questionar

As encobertas dores, de tempos perdidos

Na violação do último sono eterno,

As trevas costeiam os muros,

E seguem a ausência.

Toco a lira divina,

A música alteia

Os tristes restos de ossos,

Espalha pela sala sagrada da história

A última nota,

Os sinais funestos de uma melodia simples.

 

Ergo minha alma

Que dorme nas trevas,

Nas brechas entre os galhos e folhas

De árvore solitária

No ermo do deserto,

Sangrando-me na luz a glória

Suprema dos rios gigantes da floresta

Que tingem assustadas águas.

 

Os olhos se perdem,

Lúcidos e extasiados,

No brilho sombrio da sombra

De árvore seca projetada no muro

Secular dos tempos.

 

Irreverência de verbos e versos

Em cujas entre-linhas

Des-lizam as vertentes de

Pronúncias coloridas de branco e verde;

Falta-me a insolência das inauditas palavras

Que, divididas, reúnem as côdeas

De pão sagrado e profano,

Saciando a fome milenar,

No bom sabor de vinho espiscopal;

Falta-me a epígrafe dos sonetos,

O epitáfio das sandices poéticas e prosaicas,

O epíteto dos sibilos de vento

No instante último do crepúsculo.

 

Falta-me a obediência

Aos solenes princípios

Que, das ruínas seculares,

Edificara o tempo de antanho

Às glórias de outrora,
Na soleira do uni-verso
Descansa as esperanças de arriba;

Falta-me a veemência aos deuses
De pedra,
Ás imagens de madeira,
Que, ao olhar sereno e descompromissado,
Desfilam as perspectivas
De outros crepúsculos à luz do sol ameno,
Em cujos descansam os idílios.

Nu, como a consciência,
Despido como a razão,
Abro-me aqui nestes frios rumores
Do crepúsculo.
Vós que correis, como eu, na vereda fatal,
Na senda originária da tragédia,
Em busca do mesmo ideal e do mesmo alvo!
Trajo de luto a folha
Em que deixo escrita a suprema saudade
Da anunciação, da aurora, quando me abre as portas
Desta vista as dores infinitas,
E quando acredito de modo ímpio e obtuso
A alma errante e perdia em faltal
Desterro embacia nalma
O espelho da ilusão. 



 



 

 

 

 

 

 


 

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