INSIGNES RIQUEZAS DO VERBO - Manoel Ferreira



Há o que jamais pude compreender e entender e, aliás, não sei se será possível que  possa fazê-lo em tempos vindouros. Acredito que será muitíssimo difícil que nesta circunstância venha eu a modificar os meus pontos de vistas a respeito, as opiniões concernentes a este fato. Não digo que não o faça, digo que será difícil, mas quanto ao futuro nada posso responder ou afirmar categoricamente. O futuro só a Deus cabe saber.

Há alguns indivíduos que, diante de suas certezas, certezas de haver algo que não fariam ou não farão em hipótese alguma, têm o estilo mui singular de afirmar que se fizerem o algo que afirmaram nunca o fariam, podem ser internados numa Casa Verde, isto para enfatizar com o lugar onde Simão Bacamarte, de O Alienista, de Machado de Assis, internava todos aqueles que em sua concepção estavam loucos, podem ser internados num manicômio, pois estão loucos.

Há sim algumas coisas que nenhum indivíduo em sã consciência faria, pois que denigre as suas imagens, e isto, diante de suas culturas, costumes, hábitos, educação, moral. Em verdade, não fazem mesmo, o que sustenta e bem o caráter e personalidade destes indivíduos, tornando-lhes uma referência. Nem mesmo escondido, na surdina, como se costuma dizer, são capazes de praticar o ato, a atitude, a ação, que, para eles, são o testemunho de indivíduos sem valores e virtudes.

Há, como o disse desde o início, o que não pude compreender e entender, ainda não posso fazê-lo, embora haja uma enorme tentativa de o fazer. Não o posso. O que é tão difícil assim de ser compreendido e entendido por mim?

Há, em verdade, um enorme e eloqüente prazer, aquando tomo em mãos o livro de um autor que realmente sabe escrever, o seu estilo é límpido, há nele uma preocupação de beleza com a sua arte. Os olhos deliciam-se com aquela forma erudita, clássica, e isto torna a sua escrita algo de uma sonoridade sem precedentes. Aliás, torna-se uma leitura em que todos os elementos e dimensões são compreendidos e entendidos, a interpretação surge ao espírito num estilo espontâneo e livre. São autores que têm um dom de comunicar e expressar suas idéias e pensamentos em comunhão, suas intenções e desejos em uníssono.

Há a impossibilidade de compreensão e entendimento é de no mercado literário haver um desfile de mui dignos autores, desfrutando de prestígio e renome, que não sabem escrever num estilo agradável aos ouvidos, cometem erros crassos de toda ordem, não porque as circunstâncias assim o exigem, mas porque não conhecem o objeto específico de seus trabalhos. Se questionados, suas respostas são evasivas de todo, não havendo nem como argumentar. Se disser eu que estes insignes autores influenciam de modo absoluto os seus leitores a se expressarem como eles, não havendo o mínimo cuidado com a língua, não havendo o mínimo apreço com a expressão de seus sentimentos, emoções, idéias, pensamentos, haverá quem diga que isto não se encontra apenas nos livros, não são apenas os autores que influenciam, há toda a mídia que contribui para com que a nação inteira fale errado, não se interesse pelo conhecimento do objeto de expressão, de comunicação.

Há muitos escritores iniciantes que escrevem bem, estilo de causar inveja em Machado de Assis, quem, sem dúvida, é o maior escritor de nossa Literatura Brasileira, em termos de erudição, e esta mesma erudição legou-lhe este privilégio, embora haja muitos quem não apreciam este estilo, e têm a maior dificuldade de publicarem seus trabalhos, pois que as editores recusam estes trabalhos por serem eruditos, por serem clássicos; os leitores não se interessam por uma linguagem, estilo diferente, as obras ficarão encalhadas, os custos de publicação são altíssimos.

Não há nestas palavras o mínimo desejo ou intenção de denegrir a imagem destes insignes escritores, de negligenciar o trabalho de editoras, há aquelas que se interessam por escritores que têm o que dizer e sabem como fazê-lo. O que realmente desejo enfatizar é que os ilustres escritores iniciantes têm muito a contribuir com o interesse pela Língua Portuguesa, mudando o quadro nacional, educando os brasileiros a terem apreço e carinho pela expressão de suas vidas, desejos, sonhos. Por mim, não creio que seja possível haver expressão, se o indivíduo não conhecem o objeto específico desta expressão.

Há, então, a dificuldade de entendimento e compreensão de minha parte no concernente às editoras não investirem nestes ilustres escritores iniciantes, não lhes darem a oportunidade de publicarem seus trabalhos, suas obras. Tudo é o primeiro passo. Dado o primeiro passo, com responsabilidade, com apreço, e, numa linguagem empresarial, se os editores divulgam estes novos trabalhos, estão com efeito trabalhando para a inovação, a renovação das letras nacionais, e isto, sem dúvida, pesa e muito no conceito deles.

Sendo eu um escritor iniciante, tendo dificuldades de publicação de meus trabalhos, devido à linguagem e estilo eruditos, esta reflexão e meditação acerca de no mercado literário os importantes, com algumas exceções proeminentes, como por exemplo, Rubem Alves, Leonardo Boff e outros, serem justamente estes insignes escritores que não têm conhecimento algum do objeto de seus trabalhos, significarem unicamente um modo de chamar a atenção sobre mim, um desabafo por não conseguir ver meus trabalhos publicados. Infelizmente, isto pode ser interpretado deste modo.

O que há realmente neste escrito é uma preocupação com a educação de um povo, de uma nação, e a Literatura é realmente a responsável por isto, não só em termos de ideais, utopias, sonhos, mas também em termos de os indivíduos aprenderem a expressar suas idéias e pensamentos de modo límpido e nítido, e só a Língua Portuguesa pode com isto contribuir e muito. 

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