IMAGENS DISTANTES - Manoel Ferreira




Devo estar no mundo, nele encontrar a vida, torná-la real, traçar os passos nas alamedas dos questionamentos, desejos, vontades, nas ruas das necessidades de paz, harmonia entre  as alegrias e tristezas e angústias e felicidades, nos becos das preocupações entre o efêmero e o eterno, nele encontro os sentimentos profundos que me perpassam as dimensões todas da sensibilidade, a dor, alma, despedida, pranto, adeus, partida.
Devo caminhar ao luar, pensar no mar ou na floresta silvestre, sentir presente a luz da lua, das estrelas que iluminam as alamedas da vida, os sonhos que amanheceram comigo e durante o dia me entreguei à busca de tornar-lhes reais, conquistar mais uma alegria que será lembrança do hoje vivido, as poucas realizações que entardeceram comigo, incentivaram-me a passar a noite, esperando a nova manhã que será a continuidade  das realizações de hoje, novos sonhos e novas lutas pela vida e pela eternidade. Devo sentir que ainda posso buscar tudo que é minha vocação do desejo do sublime, da vontade do perene e verdadeiro, querência de amor e verbo.
Meu caminho é meu destino. Encontrar o infinito, o ar, o luar, algo sereno e esplendoroso que me faça sonhar, esquecer as distâncias que me habitam, e que se tornam em mim símbolos de buscas, tentativas de conhecê-las profundamente, de as aproximar de minha alma carente da verdade. Amar. Sei o valor de uma saudade ter sombra de eternidade, mesmo na mais tenra idade, só se faz nesta verdade. Veredas sinuosas por que trilhei, pisando terras de poeira, de grama viçosa, de cascalhos, fazem lembrar que sempre amei a aurora e o crepúsculo, os horizontes e os uni-versos, a lua, as estrelas, iluminando a noite, os raios do sol, os mares, oceanos, florestas, rios, abismos. Amei, às vezes, poder dizer que deixei traços e passos profundos por onde amei. Sou o resto mortal de um sonho irreal. Sou a vontade, o desejo, sou a palavra, sou o ensejo, sou a insistência e persistência em viver conforme o que me perpassa dentro, conforme sou em mim, sou sombras de tudo que faço, sou o caminho por onde passo.
Sei por onde passo. Sei do meu espanto. Sei de cada laço. Sei do meu pranto. Sei onde me caço. Sei de meu recanto, de meu canto. Sei de minha tristeza. Sei da beleza. Sei da frieza. Sei o que é. Sei da realidade. Sei da saudade. Sei que amo. Sou o adormecer com tudo que sei, com o que ainda nem noção tenho. Sou tudo que não consigo esquecer.
Qual o caminho de um sonho em busca da saudade, se ainda tenho direito à vida, se ainda tenho muito a viver, ser vivenciado, experimentado, se ontem aprendi a amar, a sentir em mim dentro as delícias das emoções e sentimentos verdadeiros e sensíveis, a desejar muito mais da vida, de mim, se hoje desaprendi tudo isso, e tudo se torna desejo e vontade de outras realidades. Busco a mim mesmo, inapelavelmente, não me atinjo, lentamente tenho à distância o sol queimando-me o coração. Minha vida são minha realidade, um poema sem estrofes, sem versos, sem rima, uma verdade, um pranto, uma lágrimas, uma eternidade.
Mesmo que o amor fique distante, quero ser sempre eterno, amante, amante, encontrar nalgum lugar uma razão de amar, de sentir as delícias de sentimentos sublimes, emoções serenas. Mesmo que o amor fique distante, seguirei caminho adiante, buscarei o infinito, sem fim, por sentir que posso amar, posso re-fazer o amor que em mim habita com as experiências, vivências, e a cada passo sentir que a verdade dele se mostra transparente, que vivi, que conheci a vida, desconhecendo-a, questionando-a, conheci a verdade por inter-médio das in-verdades, dúvidas, medos, por saber das esperanças que se anunciaram lívidas a cada olhar dirigido ao infinito, aos horizontes e uni-versos distantes. Mesmo que o amor fique distante, tentarei ser feliz a cada instante, esperarei uma eternidade, se mister se fizer, viverei por ser verdade a vida ser verdadeira. Busco a paz dos momentos, procuro sonhos, procuro vidas, como sei meus tormentos são espaços, são feridas, são dores, são sofrimentos.
Amar é bonito, é o instante, o pensamento, de todo um sentimento é o princípio e o fim. Meus olhos escondem lágrimas que se arrastam do fundo da alma para o encontro da incerteza, lavando a dor e o tédio. É noite, o vento sopra como açoite, levando bem longe meu pensamento, viajo sem muita solidão, sem muito desconsolo, em busca de minha razão... passo por caminhos distantes como se já houvesse ali estado. O vento somente transparente como a luz pode fluir discretamente na intimidade do abraço a abraço, sua presença é bem vinda no refúgio do quarto, não incomoda por estar sutilmente soprando penas brancas ao longo do assoalho.
Descerei sozinho ao íntimo ainda hoje antes do amanhecer pela lei da gravidade, quando então aprumarei meus seixos brilhantes na vasta lagoa imersa dos meus instantes.   
À distância, saudades de verbos e versos que iluminem as estrofes dos sonetos de vida, que são o espírito dos desejos de amor, que são a alma das vontades reais de glórias e louvores aos sentimentos, que con-templem as palavras carentes de sentido e significação, que falem de alegrias a trans-cendem as buscas e sonhos de outros universos.

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