CREPÚSCULO DE IDÍLIOS E SORRELFAS - Manoel Ferreira




Sede luz

De esperança vivaz,
Ilusões floridas.
Amar é o crepúsculo,
Sonho, vida.
Amar é bonito,
É o instante,
O momento,
O pensamento,
De todo um sentimento
É o princípio e o fim.

Ideal de beber no estio
As lágrimas da aurora.
Nesta fome de amor,
De sublimidade,
Do etéreo e do efêmero,
Do diamante que risca o éter,
Corro à estrela,
Leio o que nela está escrito,
Sua mensagem, à brisa, ao mar, à flor.
Viverei por ser verdade a Vida,
Esperarei uma eternidade,
Tentarei ser feliz a cada momento,
Mesmo que o amor fique distante.
Quero ver a luz nas luzes das estrelas
E das palavras nela escritas;
Quero ver a luz nas entre-linhas das luzes do sentido
E significado da vida,
No além-linhas das luzes da
Contingência e transcendência.
Quero sentir na rosa da campina o cheiro esquecido do sono
E da vigília, aspirar o prazer secreto do porvir.
Na brisa, quero o doce alento, sem culto
Nem reverência.
Quero ouvir a voz na voz das ondas
Na roda-viva das melodias de sereias e
Corujas ao longe,
Nas praias esquecidas da terra.
Amo o sonho
Como se fosse minha poesia.
Amo o silêncio, a vida,
A saudade de entes queridos,
A lembrança, a esperança,
A certeza de ter a poesia.
Amo o sonho
Como se fosse em mim
Doce espaço para sentir a Vida.

Ao invés da luz,
Do aroma,
Ou do alento ou da voz,
Encontro a fonte de todo o ser
E fonte de toda verdade,
Verdade que vivo e experiencio
Ao longo dos dias de minha existência,
Verdade que há-de vir,
Resultado e conseqüências de outras
Que apenas delineei na alma e espírito.
Hei-de passar o tempo
À procura de uma flor,
Hei-de de me fazer feliz
Como se fosse raiz:
Dar frutos, ser sombra,
Colher a última folha
Que a primavera deixou;
Hei-de ser a arte,
Meu verso que afaga muitas vidas;
Hei-de ser vida,
Hei-de de ser ponto de partida.

Toda a ardente ebriedade
De meus reais pensamentos,
Verdadeiras idéias,
Férteis imaginações,
Tudo gozei nas noites de amor,
Nas noites de idílios e sorrelfas,
Nas letras de incólume vazio,
Nas palavras de efusivas esperanças.

Vaga nas linhas curvas,
Nas entre-linhas sinuosas,
De letras e frases curtas,
De pensamentos e idéias profundos,
Que não tenho medo de mostrar
Incertas palavras,
Inquietas letras, espalhando-se
Pelo papel esbranquiçado,
Liso,
Como um peito que deseja
Abrigo com o coração em êxtase,
Num só pulsar que relampeja,
E me traspassa os nervos de flor,
De pedra, de prazer... e amor.
Na límpida transparência das águas,
Nas asas cristalinas das emoções,
Às vezes que o amor
É apenas reflexo da dor
É um sentimento que esmaga o peito
Devorando o corpo e a carne
Como enchente num leito de rio
Tragando vagarosamente a vida,
Arrastando consigo o homem
À procura do mar
Que o infinito alcança.
Quero ter um mundo sem porteiras e fronteiras,
Sem muros, cercas, barreiras,
Sem ódios, vícios,
Dores e sofreimentos.
Onde todos plantem e colhem,
Onde todo faminto coma,
Na justiça, na paz e o amor.
Onde as aves tenham seus próprios ninhos,
Onde todos tenham carinho, amor, ternura,
Onde ninguém gema de dor,
Sofra com os problemas e conflitos.

O horizonte é meu infinito,
O mar, meu refúgio.
O crepúsculo é meu uni-verso.
O sol arde,
O vento sopra,
Velas se abrem
Num abraço à liberdade.
Imagino tudo,
Existo,
O amor me faz caminhar,
Ir em busca de mim mesmo,
E me encontrar com as sorrelfas
De meus idílios

Rompe a luz da tarde serena.
Em vão, encho de aroma
O ar da tarde;
Em vão,
Abro o seio úmido e fresco do sol
Nascente aos beijos amorosos;
Em vão, orno a fronte à meiga virgem;
Em vão, como o penhor de puro afeto,
Como um elo das almas,
Passo do seio amante ao seio amado.

Horas e instantes de pura fantasia,
Quimera, momentos de idílios,
Gestos, atitudes,
Palavras e ações
Que re-fletem amor e ternura.
Veredas do sertão longínquo,
Onde supus o meu ser, “restícios” de feto e flor. 

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