**AMPULHETA** - Manoel Ferreira


Melífuas dimensões,
Miríades perspectivas
Pingos de chuva na vidraça da janela
Na ampulheta do tempo o efêmero
Cinzas do eterno, pó de pretéritos
Poeiras de outrora metafísico conciliado
Ao jamais inaudito de saudades nostálgicas
Credenciais melancolias preliminam
De melodias ad-nominais de subjuntivos
Sons dissonantes perpassando frinchas
De horizontes por onde as retinas do porvir
Dos espíritos gerundiais das crassas agonias
Das almas infinitivas exasperadas com o fluto
De angústias à luz difusa da leveza
Do ser sobrelevando tristezas e vazios
Linguística do subjuntivo de subjetivas
Inspirações versejando do belo e estesia
Plástica percepção versificada de dúbios
Símbolos dos volos da perfeição
Esperança da verdade eivada do vir-a-ser
De lácias poéticas da alma carente
Inconsciente solitário de genesis
Da anima, animus do sublime
Verbo-espírito, lúdicas imagens do clímax
Ad-nominado aos dogmas do pecado original
E nada de náuseas numinando
Os baldios terrenos da psique
Inóspitos becos sem saídas do não-ser...

Tarde de primavera, ser de leveza
Da chuvinha que cai lenta e silenciosa,
Umedecendo com seus pingos finos,
Frios, os recônditos de interstícios
Vestígios de sendas do inexpugnável
Vestígios de veredas do inolvidável
A mente não cria
O intelecto não recria
A sensibilidade não se inventa
A razão exausta de questionamentos
Desejos, esperanças utópicas da linguística
Do prazer corpóreo do ininteligível
Mergulho abissal, abismático
Além das fronteiras e bordas do sensível
Declino os lácios latinos das emoções,
Declino a última flor latina dos sonhos,
Ser, estar, ficar, permanecer
No sono, a seiva das energias.

A pena não mais desliza livre e espontânea 
No branco silêncio da página,
No silêncio branco das das letras e metáforas.

Manoel Ferreira.


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