**ORVALHO DE AQUÉM E CONFINS** - Manoel Ferreira


Nenhum segundo, ainda que ínfimo, minuto ainda que exiguo, se passou desde a solidão de meus idílios compactos, sorrelfas múltiplas e diversificadas, desde o silêncio da alma que refletiu no espelho a imagem da razão/vida, desde o verbo dos desejos da verdade e felicidade
e as vontades do prazer e saltitância. Nenhum pingo de chuva, ainda que pequeno, molhou o chapéu posto de viés na minha cabeça, a mente sem nenhum pensamento, in totum vazia - toda mente busca ser, ser é viver, viver é compreender, a compreensão alimenta-se da beleza e da verdade. Nenhum vento úmido, nenhum orvalho de ternura e afeição, nenhum redemoinho de poeira a embaciar a contemplação do outro lado do além e confins - uma terra de só ensimesmado dia... 
Sonho de esperanças - manhã de desejos

Esperanças de amor - presença, toques, carícias
Sentimentos fluem, sentimentos de carinho, ternura
Verbos de entrega, doação - Uno/Verso do espírito
Voando livre por vales, florestas
O horizonte distante será presença eterna
Alegria, prazer, felicidade feliz de sentir a felícia
O universo festeja de emoções plenas
A magia da alma encarnada no tempo 
De outras canções dedilhadas no ritmo do sublime.

Agora clamo, rogo e peço à minha ignorância, analfabetismo que não se tornem inauditos nesse deserto: derramai vós mesmos a última gota de tristeza, gotejai vosso orvalho nas minhas vestes miseráveis, sede vós mesmos garoa para a minha caverna ensombrecida.
Outrora mandei as montanhas distanciarem-se o mais possível de minhas sendas perdidas - outrora sussurrei aos meus ouvidos "mais raios de sol, ó sombras!" Hoje as seduzo, para que se aproximem de mim, sentem-se ao meu lado e murmurem palavras de esperança: fazei luz ao meu redor com vossos úteros de sentidos!
Desejo ordenhar-vos, ó vacas das profundezas abismáticas do nada! Conhecimento morno como leite, deliciosa garoa do clímax do amor estendo eu sobre o tapete silvestre do solo.

Verbos de amor, de amar, de doação
As essências da vida re-presentadas no soneto
De dois corpos numa vida única
De dois corações pulsando o absoluto da verdade
Infinitos gestos verbalizando o silêncio 
Só a vida em sua plen-itude é capaz de sussurrar
No ouvido da felicidade a brisa serena do perpétuo,
O orvalho suave do perene a cobrir as folhas verdes 
No campo de todas as belezas, magias
Ritos, mitos, mística.

Fora, fora, absolutas verdades abertas que insistem perpassar-me as entranhas da alma! Não quero enxergar em meus picos verdades íngremes e insolentes. Diamantizada de sorrisos e gargalhadas chegue hoje a mim a verdade, pelos raios do sol melada, pelo sentimento de êxtase e volúpia, uma verdade madura colho apenas do pé de maça, uma verdade "de vez" que ainda o sabor da pera não seja nada, colho-a nas uvas colhidas no pomar das hipocrisias e aparências.
Hoje estendo os braços para as samambaias do ocaso, para as orquídeas do acaso, para os crisântemos das coincidências, prudente apenas para tripudiar, para enganar o inaudito como um moleque de rua deserta, para tripudiar o indizível como faz um vagabundo nos becos distantes, desérticos, sem viv´alma pelas imediações, nada de baldio no terreno da alma. Hoje desejo ser solidário com o que me dá náuseas, com o próprio destino não quero ser avarento, com as próprias sagas não quero ser individualista, com as próprias sinas não quero ser egoísta. Só existe uma única sabedoria com um poder infinito: a divina sabedoria da criação.

Irrompendo, no horizonte, a fraca luz da aurora,
O sol volta a brilhar,
Surge um novo dia!
Rompe a luz o denso véu da noite:
A treva se desfaz,
A vida se agita...
A terra, em torno do sol, se movimenta,
sem parar,
Em rotação,
Em translação!

Minha alma sedenta do ininteligível, desconhecido, com língua insaciável de nonsenses e vulgaridades, já lambeu em todas as coisas insossas e ingustáveis, em todas as pre-fundidades já mergulhou, mas sempre nada de novo para as nuvens brancas do céu, por causa dessa alma chamam-me Pobre de Fé.
Manoel Ferreira.

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