Sonia Gonçalves ESCRITORA POETISA E CRÍTICA LITERÁRIA COMENTA O AFORISMO #NO FRIOZINHO DA ANTÁRTIDA# ***



Querido Manoel, eu confesso que já havia lido, reli novamente porque é de uma beleza tão sublime.Que texto primoroso e delicado, tão delicado que irei recitá-lo, pois confesso que amei.Tua divagação sobre o meu texto idealizador, sonhador, desejoso, realmente os ventos sopram o tempo e o tempo... ah, voa, voa mesmo feito uma ave famélica em busca de frutinhos silvestres, o tempo é aliado durante certo tempo, depois é só nosso aniversário mesmo. Sim é verdade tem dias e dias...Tem dias que não queremos sequer sair da cama, mas em outros tudo é tão urgente, tão imediato, há em nós poetas escritores alguma inquietação que só sossega na ponta dos dedos sobre as letras do teclado, na ponta da caneta sobre o papel em branco. Há em nós tanto encanto em escrever que nos perdemos de nós, somos uma borboleta sem rumo, procurando inspiração pelos campos. Bem eu espero poder recitar se não todo pelo menos parte desse escrito que é muito mais que lindoooooo.Parabéns Manu.Bjos


Sonia Gonçalves
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NO FRIOZINHO DA ANTÁRTIDA**
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
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Con-vexos idílios velados de tempos inestimáveis, remontando às zagaias do caos, tempos de roncos do boi-tempo, vãos ideais da verdade, ocos pensamentos das tonteirices que o vinho eiva nas bordas das quimeras e ilusões. Côn-cavas fantasias escondidas atrás da superfície lisa do espelho, furtivas idéias da plen-itude, quiçá explicite isto à mercê da língua que espreme a míngua da alma inteira que rumina carências.
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Tergi-versados enigmas trancafiados nos cofres da memória, fúteis utopias do perpétuo que re-colhe e a-colhe as luzes do in-finito. Des-conexas fantasias enveladas de éritos das volúpias e ex-tases, hilárias esperanças do ad-vir a-nunciado nas bordas do uni-verso, e nos horizontes alhures a neblina sarapalha os ventos.
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Tempo e vento. Tempo e ser. Ventos e tempos.
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Tem dias que, se se sente como quem idealizou o nada, sonhou o vazio, teve fissuras pelas nonadas, a vida sarapalha de leste a felicidade e amor plenos, resta sentir o sabor do contrário que seduz a língua a criar eruditos vernáculos da decepção para atiçar a alma a re-fletir as sinuosidades da vereda que levam ao ser do efêmero, às energias da psiqué desvairada pelo flúmen do prazer.
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Frágil sentir o friozinho dos ventos contraditórios, chamas da lareira acompanhadas de vinho não aquecem, a alma se embrulha toda no sudário das nostalgias, edredom das saudades místicas.
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Tem dias que, se se sente à beira da eternidade, con-templando as cafuas e abismos, o inaudito das belezas do in-finito, sonhando prazeres e volos do além, a alma pres-ent-ifica as dialéticas da plen-itude e fugacidade dos desejos que preenchem as forclusions do ser.
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Tem dias que se se... Não havendo dias que se se..., olha-se as coisas e objetos com indiferença, observa-se a vida com náuseas, o ser se esvaece nas "grutas das maquinés desoladas", o tempo se esgarça nas cintilâncias lunares, o nada se atira de cabeça no precipício, o cosmos e o caos mergulham no in-audito do genesis... a vida nos auspícios da pureza.
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Mas tem feito frio, hein! Mas, enquanto a esfera da pena desliza no branco da página, mesmo que garatujando nonsenses, sarrabiscando tontices, a mão não precisa de luva para lhe aquecer, a alma não se enchafurda no espírito subterrâneo, desejando as caliências do além, flores de cactus preenchendo vazios, arrematando enigmas e mistérios do inolvidável.
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Vou-me embora para a Antártida, lá a esfera da pena dirá as in-verdades da verdade, o frio intenso é fruto da imaginação fértil.


#RIO DE JANEIRO(RJ), 17 DE JUNHO DE 2020, 11:32 a.m.#

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