#ENGATANDO A NETE DO SABO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA ***



Por que pensar a mente sob o fluxo das idéias à mercê de instantes de leveza d´alma? A maestria da mente é picotear clivagens, seguir-lhes os passos de sentidos ambíguos, tecendo de intenções de veredas a abrirem as travessias em nada elucida as carências, lapsos de solidão, silêncios olvidados, e tudo são devaneios, desvarios homéricos, gozos de Safo.
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Por que imaginar com presença e força a tranquilidade de um passeio no campo "az-viando" sonhos e verbos que preenchem as lacunas de defectivas regências, só mesmo engatando os despautérios das dimensões sensíveis para alcançar a ilusão desejada, se por fim vazios mostram aqui e acolá os limites do tempo, o desejo das veras é chão para trilhar continuamente? Sumariando as circunstâncias do perpétuo e fugaz, a alma esvoaça no deserto da solidão incólume, nos chapadões silenciosos da seca.
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Por que engatar a nete do sabo no instante de lavar o corpo exausto das labutas diárias pela sobrevivência, alívio momentâneo, proporcionando sono e sonhos cuja profundidade revela as águas correntes dos volos do ser? Qual é o sinal da liberdade alcançada? Não se envergonhar, vexar-se da nudez do corpo no momento do banho. Cinismo, ironia, sarcasmo? O que isto pode suscitar interesse em sabê-lo? Pouco importa isto. O que mesmo suscita investigação criteriosa é tornar-se naquilo que é: cárcere da alma.
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Por que vitrais vitrescendo virentes vidas, áureos trigais, vibrando, librando vorazes luzes, se a descrição pormenorizada revela nuances dos instantes-limites da observação, e qualquer tentativa de recitar, tal se faz com a poesia no salões de saraus, os sentimentos neles contidos pecam pela ausência do real? Tagarelice a partir de gosto interior pelo turbilhão das percepções.
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Por que - indagação? Por que - questionamento? Há porquês que os quês nada esclarecem por mais relativos sejam, apenas viagem infrutífera no âmago das orações, modo de engabelar inseguranças e medos do nada, a existência haver sido pura futilidade.
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Por que ajoelhar aos pés das contingências, rogando por conquistas, clamando alegria e felicidade, sentir a vida jorrando prazeres? O homem que se ajoelha é meio homem. Enfrentar as intempéries edifica valores e virtudes.
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Por que sustentar a mentira preenche os vácuos da alma, se o que a complementa é a dis-posição em labutar o saber que é na continuidade das investigações dos desejos que se artificia o Ser?


#RIO DE JANEIRO(RJ), 21 DE JUNHO DE 2020, 12:47 p.m.#

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