#PROSA DIRETA E INTER-DITA DE METÁFORAS E CINISMOS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: ÉGLOGA ***



Recordações, sempre recordações, como se não fossem mesmo recordações. O evocá-las é mágico. E ausência. Magia e ausência que exercem atração inominável atração que puxa para o pulo no abismo só para sentir que não tem ele fim. Recordações e seus in-finitos elos des-recordados. Revolve o coração, prosa reta e inter-dita, traz de lá o de que não tenho qualquer noção, o que não sinto presente, o que não sabe a mente enovelada em si mesma, envelada em seus interstícios de mistérios, empazinando de idéias, pensamentos, memórias, planos, projetos - revolve o coração, prosa reta e inter-dita, dá-me o prazer, legue-me a volúpia e êxtase, dá-me o que em mim é verdadeiramente, é plenamente, é eternamente, é completamente. Para que tanta ênfase com o adjunto adverbial de modo? E tudo retorna, como retorno do meu pretérito sono em cujo desconhecido deslizava imagens, do nome que um dia tive, re-criei-o com os fonemas sonorosos das ondas do mar tocando as docas, do que fui no tempo ignorado, do que não fui no instante-limite sabido - como retorna informe desfacelado, círculo mágico, chamas ardentes na lareira.
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"Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição"
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Em mim, outro homem nasceu e este homem agora sou eu, novos horizontes me habitam, sonhos e esperanças outros perpassam-me os abissais recônditos da alma. Onde estão aqueles mitos daquele homem passado? Onde estão aquelas idéias e ideais daquele homem que desejava a verdade perfeita? Onde estão aqueles mestres e sábios, filósofos e literatos, que ensinavam àquele homem a poética do espaço?
A solidão me cerca, fico em silêncio como um poeta que mora ao lado de minha casa que na madrugada se senta à soleira da porta de sua casa , ouve o latido dos cães, o canto dos galos. Sozinho, in totum só. Ninguém por si, ele por ninguém. Mais nada do que fora na existência, nela, era visto passar nas ruas.
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"Libido de amplos significados
Hipostasia-se nas forças anímicas
Até o estalar os ossos ao revolver-me o prosaico
Das tragicidades aos de comedianidades
Neste meu jeitado molejar de careta facetada
Porquantos seja audível essa musicalidade poética
Itinerantes dentro dos mais medíocres reinos."
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Só, autopalhaço, faço tamanha alacridade que nem ouço as palmas que não batem para mim nem para a representação do ingênuo, inocente. Espectador de mim mesmo, cerro as cortinas e com um toque (mágico), (inaudito) de dedos faço surgir milhares de espectadores a ovacionar-me. Apago a luz. Fecho os olhos. Conto carneirinhos para dormir o sono idílico da esperança.
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O que vejo não é real e o que sinto apenas circunstâncias. As verdades amoldam-se às variações climáticas - agora é inverno, estou sensível, a sensibilidade é a verdade deste instante-limite, os pensamentos convergem num só ponto, mas atravessam coordenadas diferentes. A consciência é um trapézio tripudiando o equilibrista.
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A prosa me cumpre e eu com ela me redimo das solidões e amplos apelos. Não há verdades nos meus olhos nem destino nos meus passos. Só o agora-já, inda que mais-que-perfeito, tão perto na distância, tão distante no espelho.


#RIO DE JANEIRO(RJ), 12 DE JUNHO DE 2020, 14:19 p.m.#

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