#DE TABANA-GIRA E ALIÁS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA ***



Epígrafe:
"Dentro do jogo impuro das difusas causalidades
Lúdicos no reverso das vontades.
Digo não ao prisioneiro de mim
Às insuficiências, à fragilidade limitadora
E aos múltiplos perfis exteriores
Circulantes ilimitados da desfaçatez nebulosa
Então... sobejante e empoderado sou nadante
Do mar e sol que cada manhã tudo restitui
Sou "Rio", sou-risos!" (FONTIS, Graça - In: "AZ-VIANDO CAMINHOS", RJ, 2020)
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Até louco, quem sabe?!... Não seria necessário tanto para mostrar que este início é uma continuação do título, se melhor ficar registrado, memorizado, diria com as letras de tabana-gira e aliás. Refiro-me ao ponto de interrogação, exclamação, reticências, chamando a atenção para “de tabana-gira e aliás até louco, quem sabe”.
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Não me seria dado pensar ou sentir que estou louco e, por isso, busco modos e estilos de mostrar que não, aliás, as minhas condições da faculdade mental andam às mil maravilhas, um esplendor, inclusive sendo capaz de criações e recriações as mais engenhosas possíveis, às vezes nada dizendo, sendo apenas uma demonstração de flexibilidade com as palavras, encontrando-as no momento certo, “grudunhando-as”, numa linguagem chula, se assim posso dizer, se depor contra a minha imagem, desejando alcançar um nível um pouco mais alto, não me importando fosse do tamanho de um degrau de escadaria normal.
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Às vezes, ponho-me a lembrar do início desta longa jornada letras adentro, quando desejava com os sorrisos nos lábios e um aperto enorme no coração, quem sabe a dizer-me os méritos seriam muito poucos as criações sem limites e fronteiras, muitas alegrias e prazeres, muitas lutas e sofrimentos, aliás, significando isto a condição humana. Tinha de escrever a respeito deste tema, enfatizando esta ou aquela idéia, mergulhando o mais possível na sensibilidade, desejando o verbo amar. Tinha de fazê-lo a todo custo.
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Não sei se escrevesse sob medida, isto não posso fazê-lo, mas que me impunha as idéias, questionamentos, sonhos, querendo realizar algo de que não me dis-punha a pensar não ser este o caminho. Alguém íntimo dissera: “Se deixar disso, irá produzir muito e de boa qualidade”, embora não me lembre das palavras mesmas, ipsis litteris o que dissera não me lembra de modo algum.
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Tantos caminhos...
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Se me importasse em primeira instância com o título, criar algo que se gerasse à luz de um tema e temática espiritual e contingente, demonstrando, ou desejando, em verdade, o que é isto o clima estar frio, chovera ontem e um pouco durante o dia, a noite está começando, a luz está acesa, encontrando-me aqui, solitário, ah, como amo esta solidão, a garatujar palavras no computador, sem qualquer intenção de idéias, pensamentos, sentimentos e emoções, embrulho tudo e lanço a todos os ventos, rindo até de algo que me disseram a respeito da chuva. Perguntaria: “Por que não se deve fiar em Deus em tempo de chuva”.
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Se estivesse entendendo a sua indagação estava a se referir ao verbo confiar, dizendo o por quê de não se dever confiar em Deus em tempo de chuva. Pode-se usar “fiar” e “confiar” na acepção de dar crédito a. Não saberia dizer o por quê. Imaginei que a resposta fosse uma galhofa das mais interessantes e esplendorosas possíveis. Respondera: “Você não sabe quando Ele a vai mandar”.
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Houvera dito que hoje não sei mais o que escrevo, as idéias, pensamentos, intuições, inspirações, tudo me vem embrulhado em papel de seda, e só me empenho em desembrulhar e conhecer o que vem dentro, e para isto a jornada não deve ter um fim... As letras amam de paixão deixar-me de calça curta, modo delas de me desafiarem a realizar algo. Jamais posso decepcioná-las. Enfio as mãos na cumbuca e vou digitando no computar sob o fluxo das idéias.
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Imagino a primeira vez em que tomei da pena para escrever algo que passava por minha cabeça, dificuldades imensas. As dificuldades hoje não deixaram de existir, creio até que aumentaram e muito, tornaram-se mais complexas e herméticas, sendo necessário esforço e compreensão das limitações da idade e experiência. Imagino o que por último escrever, as últimas letras de minha vida. Se alguém decidir conhecer o que produzira, as trilhas seriam imensas, sem fim, quem sabe até havendo a dúvida se houvera um início, apenas o desenvolvimento, a busca de perfeição e eternidade, coisas que, de viés e antemãos, sei bem que são passíveis de muitíssimas discussões de alto nível, e não sou quem está credenciado a realizar a tarefa de as afirmar com categoria e dis-posição.
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Penso em retornar ao início, apanhando a idéia, mas isto seria uma atitude bastante indecorosa, pois dissera antes que nada mais me importa, importa-me saber que estou registrando palavras, dando-lhes vida, busca, encontro, imperfeições... Dando-lhes sentido. Ademais, não faz muito tive alguns sentimentos muito estranhos, deixaram-me bem esquisito por alguns dias. Nada mais era que deixar as palavras dizerem, ser eu encarregado de as imprimir, registrar, digitar, isto dependendo das circunstâncias e situações.
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Não o faço. Continuo. Não leio uma linha sequer. Disse a mim próprio que deixaria o espírito e alma livres. Só alguns dias depois é que leria e teria um julgamento, ou nem isso pudesse ter. Não o sei.
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Se não se aprende a conviver com as limitações, isto não significando que tudo esteja consumado, não se é possível conviver com as situações e circunstâncias a todo instante se apresentam vivas, exigindo uma posição, um ponto de vista. Assim, quem não aprende, pode ter em mente que as chaves da casa verde estão abertas de cabo a rabo, de fio a pavio, para enfatizar de uma só vez.
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Limites residem na existência. Se não existissem, como seria possível o homem superar a si mesmo, os limites são o impulso, o incentivo. Há um limite jamais o confidenciei a ninguém, a mim apenas dissera, pedindo-me sigilo radical. Por que escrevo? Poderia responder de maneira o mais simples possível: por que almejo ser lido por leitores, por eles ser reconhecido. Não é verdade, é apenas um desculpa. Escrevo porque não sei conversar, entabular assunto com as pessoas, discutir idéias. Só com uma pessoa, valha-me Deus ser espontâneo, as dificuldades são inestimáveis. Se muitas pessoas, num almoço com amigos, num botequim, não sei jogar conversa fora. Então, escrevo porque é o modo que tenho de conversar, converso comigo próprio. Esta é a verdade porque escrevo. Se me lerem, se me reconhecerem, se me atribuírem méritos, agradeço sensivelmente, mas o mais importante para mim é ter a mim para conversar, trocar idéias.
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Se esta espontaneidade que fora adquirindo ao longo da convivência com as letras, dizendo desde já que não as conheço, sou delas enamorado, só reconhecendo o que cá está, embora o desejo de atingir o que lá está, e olhando para trás possa dizer-me com todas as letras que valeu a pena viver, isto valeu.
Em verdade, não sinto que seja necessário esperar ainda longos anos para dizer que a vida vale a pena com as letras. Digo-o desde toda a caminhada, desde as trilhas seguidas e os outros caminhos que eram necessários se anunciarem e representarem as experiências e vivências.
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Creio haver chegado o instante de retomar desde o início, ler, pensar um pouco o que desejei a todo custo dizer, o que não dissera, aliás, de extrema necessidade, mas prefiro não o fazer agora. Quem sabe num futuro próximo?... Sinto necessitar de algumas experiências e vivências para conseguir atingir o nível que as palavras exigem para a compreensão do que significa isto a noite haver chegado, a luz está acesa, encontro-me sozinho, ai que delícia de solidão, registrando algumas palavras, servindo apenas de algumas agilidades que adquiri ao longo de tantos anos.
#RIO DE JANEIRO(RJ), 11 DE JUNHO DE 2020, 12:27 P.M.#

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