#DE RESSACAS E PARADOXOS ÂNSIA DE SER RIO# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA ***



De luzes, sentido e palavras...
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Viver febril. Pensar inaugura tormentos. Desespero, volúpia, medo, ansiedade. Perquirir concebe náuseas, o mundo trafulha os naipes da dignidade e honra. O coração bate forte, descompassado. Taquicardia? Pensamentos rolam aos borbotões na mente, idéias flanam livres nas contingências da existência? Sentimentos à revelia. Indagações da razão de risos de esguelha sob olhares de soslaio para a imagem das virtudes espelhadas nas escrotices da fanfarronice dos comportamentos, hábitos. Tudo, nada. Vazio, caos, abismo. Luz, sentido e palavra. De luzes, sentido e palavras esvoaçantes na íris de suas visões íntimas e singulares, no lince das retinas aquele brilho de ironia, sarcasmo, cinismo, o panorama da colina sob a neblina, Nuvens brancas de esperanças abraçarem os sonhos e mesmo as mazelas mais estapafúridas. Sons, inter-dictos e letras. Silêncio, desejos e utopias. Nada, liberdade e projetos. Solidões, in-versas utopias dentro de re-versos medos e temores inaugura introspecções, introversões.
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"Acabemos com isto e
Tudo mais,
Ah, que ânsia de ser rio
Ou cais..."
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In-ventemos com isto o que mais for, sabor da água salgada, sensações distantes do longínquo, além mar, sintamos o esplendor das ondas marítimas e as corcovas da montanha ao longe, percebamos as gaivotas assentadas nas canoas e barcos balançantes, crepúsculo de inverno; apenas olhemos as coisas do mundo, fiquemos aqui dispersos... devaneando, desvairados à mercê das areias abismáticas de grãos perpassando a ampulheta, o que mais? Re-colher as velas seria o mais aconselhável? Ah, que fissura de ser fonte ou genesis...
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Há-de vires do pensamento e do mundo nas asas de águia que atravessa os céus, o tempo, e segue em direção ao universal, não me é dada qualquer noção do que irei sentir e pensar, aquando os sentir fortes e presentes, contudo estarei seguindo as trilhas de ressacas e paradoxos, começo a trilhar neste instante olhando para o prédio da Faculdade de Filosofia.
Palavra, sentido e luz. Nada, vazio. Espreguiçam-se em ressacas. Vácuo. Subterrâneo frouxo. Eternidade. Fosso chilro. Energizam-se em paradoxos os mais destrambelhados.
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"Quem é sensível sabe,
Ou ao menos já soube,
Onde coube o paradoxo".
Paradoxo dos sonhos. Paradoxo dos ideais. Paradoxo dos desejos. Paradoxo e as coisas efêmeras. O paradoxo pode ser fuga do efêmero. Roda-viva. Pode ser estilo do eterno se re-fazer ao longo da jornada em direção ao universal.
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Pequeno passageiro que fala, gesticula, monologa, goza, ri, gargalha, chora. Forças para amar. Além do medo. Disposição para ouvir as vozes dos tempos, das eras. Liberdade para olhar o bosque e a natureza. Além das resistências, dúvidas. Sensação de sonho. Natureza diferente. Cor-agem para viver. Além das inseguranças, carências, misérias. Êxtase. Razão e raciocínio.
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Segurança para pensar. Além de pensamentos e idéias. O campus cria segunda realidade para habitar. Olhar desviado. Faço de tudo para estimular a antecipação de um problema e um dom para este instante, capturar em pleno voo... A luz rodopia sobre a cabeça. Tudo suspenso. Loucura e insanidade. O professor de Teoria do Conhecimento, está agora estudando conosco os alunos o pensamento de Gaston Bachelard, sobe os degraus da escola, carregando a sua pasta, hora de ensinar a poética do espaço. Sangue no corpo, da cabeça aos pés sempre correndo nas veias. Conheço o som de esquife, oco. Morte... Morte... E tudo termina em morte... Estou inda a pensar o que poderá substituí-la. Quem criar o substituto da morte, hein, o que será dele, mito, deus? Preciso apenas entregar-me à visão de uma angústia real, de uma náusea real, para também estar perdido.
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Sentido e palavra, luz.
Palavra aqui, outra ali. Para que me serve? Para nada. O livro de um erudito reflete sempre uma alma torta, todo ofício deixa tortos os dedos das mãos vazios; sendo ofício, e não vaidade da raça. Reflexos. Contingência. Especulo, medito e reflito.


#RIO DE JANEIRO(RJ), 24 DE JUNHO DE 2020, 12:15 p.m.#

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