OBLÍQUAS E OBTUSAS PERSPECTIVAS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO $$$



O que você espera...


Aplausos por suas letras de não, por suas poesias de nada?
Não crie expectativas. Reconhecer requer merecimento.
Louvores por sua cegueira, por sua alienação?
Como irá vislumbrar as coisas do mundo e dos homens?
Odes, In Memoriams, por suas condutas e posturas conservadoras?
Encômios por sua hipocrisia, por sua falsidade?
Busto de mármore em praça pública por sua falta de inteligência, visão de mundo?
Três tapinhas nas costas por suas idéias retrógradas, por seus ideais chinfrins?
O meu sorriso de orelha a orelha por suas trafulhices, por
suas viperinidades?
Compaixão e comiseração por não ouvir as vozes da
carência, da desolação?
Faça-lhe uma dedicatória manuscrita por sua negação e
refutação aos princípios éticos e morais hodiernos?
Teça-lhe um tributo por sua insensibilidade e indiferença
ao sentido da vida e do ser homem?
Glorifique-o por abraçar as seitas mefistofélicas vestidas
de verdades eternas, moral e ética lídimas e probas?
Reverencie-lhe com diplomacia e humanidade do ser por
se haver feito, por ser ovelhinha de rebanho, o rebanho é
o porta-voz da dignidade, honra, traduz os ideais da comunidade?
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Eis-me equivocado... são palavras oblíquas e obtusas: Não espera de mim qualquer atitude ou ação neste âmbito, conhece-me as antemãos e revezes, seria despautério irrepreensível que realizasse isto na íntegra,
inteireza, e perda de tempo rogar-me, ruminar-me,
clamar-me, curvar-se, tomado mesmo pelo espírito de confissão digna.
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Não espera de mim dizer-lhe única palavra no que tange
a estas questões, refutar-me-ia respondê-las por
haverem sido feitas de modo errôneo. Por que não
espremi os miolos poucochito mais e elaborasse o que
mesmo desejava que respondesse?
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Não espera de mim dar-lhe inda que meio voto de
confiança, enfim os homens somos imperfeitos, porque
não é você quem atribui, professa, confessa todas estas
características que habitam a minha alma, sou quem as
digo. O dever de seguir outros rumos é meu, sou
obrigado a fazê-lo, se quero ser chamado de homem, não é seu dever o juízo, o julgamento.
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Poderia não haver se manifestado, dizendo-lhe tudo isso,
silenciar-se teria sido mais inteligente e de bom senso, o
que digo é de responsabilidade minha, não lhe pedi
qualquer explicação. E mesmo que houvesse pedido, o que menos iria desejar seria que entrasse em pormenores de mazelas e picuinhas de minha personalidade.
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Nada disso esperava de mim. Seria que esperasse de
mim todas as virtudes, valores, dignidade, honra, caráter,
personalidade, orgulho por ser portador destas
dimensões assim se manifestando, parabenizando,
louvando, reverenciando, tributando, encomiando,
puxando o saco, paparicando? Estou sendo ingênuo, inocente, tolo por fazer este questionamento, sabendo que, se me atribuo todos os valores, virtudes, honrarias, a responsabilidade é de todo a mim exclusiva, por que você teria de endossar para agradar-me, para se orgulhar de não concordar?
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Eis que estais com toda a razão em responder-me, pois que é veras, não apenas sua. Não tenho o dever e o direito do juízo, do julgamento. Quais forem os juízos, julgamentos, são do indivíduo mesmo. Olho do alto para mim próprio e para as minhas estrelas. Preciso descer o mais fundo do que algum dia já desci. Preciso con-templar com mais percuciência o abismo e o destino que lhe é inerente.


#RIO DE JANEIRO(RJ), 29 DE JUNHO DE 2020, 13:39 p.m.#

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