**TU QUEM ÉS? - REVISADO** GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA POÉTICA



Tu – quem és? Quem és – tu?
És tu – quem? Quem tu – és?
Quem és quem– tu?
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O que é isso – ser tu? O que é tu – ser isso?
Tu – quem isso ser? Isso – quem é o ser tu?
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És fome que a ti mesmo comes,
Morres a cada passo dado,
Consemelhas ao fumo preto que tu mascas,
Ponche que tu sorves, sono que tu divertes,
Campeias outro modo de existir sem vida,
Farejas como cão esfomeado outra existência
Não já batida na mesma tecla em insano horizonte,
Não são tragicômicas as horas do homem?
Tu alcanças a estatura para a morte,
Acabando tua edificação sobre ruínas.
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És a esperança de fé que perpassa
Tempos de amanhã, do infinito,
Dos horizontes, do uni-verso,
De confins, do mundo, da terra;
és a fé que suprassume as controvérsias dos desejos e vontades do eterno e imortal, as contradições do efêmero e eterno da desejância do ser sublime;
és a utopia da consciência-estética-ética,
da cristianidade,
da transcendência,
da divinidade,
trans-elevância do absoluto;
és o desejo do belo e da beleza,
de sonhos de encontro do ser,
de ser o verbo do sublime e eterno de ser
a carne do perpétuo, da cáritas,
ossos do manque-d´être,
das ipseidades;
és a consciência-ética-estética que re-cria
e cria outros uni-versos de sonhos e quimeras,
de fantasias e vontades da beleza
resplandecente do amor e da felicidade,
da alegria e da saltitância.
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És tu – quem? Tu - quem és?
Quem és – tu? És – tu, quem?
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És o verbo que perpassa o sonho de esperança do amor que fecunda o desejo de conhecer, concebe a sede de compreender o inaudito do espírito de luz, o desconhecido da alma de crepúsculo e alvorecer; és a poiésis nos interstícios das querências de alegrias que preencham o vazio do ser, a nonada do não-ser; és a vontade que habita o sonho de fecundar o verbo do amor, o verbo do ser e das quimeras, conjugando temas e temáticas nas raízes do tempo, nas sementes dos re-versos, in-versos, avessos das querências, contramãos das tristezas, baldio das desolações e desconsolos; és o amor da esperança de conhecer o que é o divino em ti, em nós, nos homens, o que é a perfeição em nós, nos homens.
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Quem – somos nós? Nós – quem somos?
Somos quem – nós? Nós – quem, somos?
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A ausência de nós, a querência do múltiplo,
o instinto do obtuso, a busca do pleno,
a vontade do absoluto, a perda,
o des-encontro, o vazio,
o vácuo, o nada,
as sorrelfas, os idílios,
as nonadas, travessias,
os olhos voltados para o infinito,
a alma no compasso do quotidiano e do real e
à busca da presença das alegrias, prazeres,
do eterno e imortal, mesmo no vai-e-vem
do efêmero e etéreo,
mesmo na rede do sim e do não,
na gangorra das semânticas do simples,
linguísticas do hermético,
no trapézio do sim que desperta cor-agem e força,
do não que envela as querenças da alegria,
mesmo na dança escalafobética da contradição
e das ambigüidades da consciência do presente
entrelaçada à consciência histórica.
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Somos nós – quem? Somos quem – nós?
Nós quem – somos?
Somos os braços para a-colher, envolver,
afagar e dar o colinho do peito ao outro, aos humildes,
aos pobres, aos simples, aos carentes;
somos o coração para amar,
somos o espírito para sensibilizar,
somos a alma para desejar,
somos a vontade da paz, da felicidade,
de nos encontrarmos, de nos encontrarmos em Deus,
nas emoções verdadeiras, nos sentimentos de compaixão, solidariedade, somos a verdade à busca do Espírito Santo de nossos pecados e culpas.
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Que cantamos – nós? Nós – o que cantamos?
Cantamos o quê – nós?
A graça de sermos vocacionados à felicidade, à paz,
ao conhecimento de sermos quem somos;
o espírito no ritmo das buscas do bem e da compaixão,
nos acordes do tempo e vivências,
da solidariedade e da amizade,
a alma na musicalidade dos desejos de ser, da verdade,
no ritmo da solidão e silêncio,
na melodia do ser-no-mundo e estar-no-mundo.
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De quem cantamos – a graça? A graça de quem - cantamos? Cantamos a graça –, de quem?
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De quem mais soube a poética do Ser,
a poiésis do espírito,
a palavra que entranha e des-entranha
o mistério da fé,
da esperança,
o soneto de rimas que deseja a chave-de-ouro
do verbo que encarna a vida no tempo de viver,
da carne que verbaliza o tempo na vida
de todas as utopias e quimeras,
da regência da solidão que craseia os
objetos in-diretos dos medos, temores, tremores.
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A graça – de quem cantamos? De quem – cantamos a graça? Cantamos – de quem a graça?
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De quem sentiu nos interstícios do espírito "O que é isto – a busca do Ser?" De quem buscou no inconsciente divino a fé que alimenta a vida, a esperança que pro-jeta os sonhos e fantasias, o amor que nos embala no vai-e-vem dos tempos e das utopias. De quem construiu a vida com o suor das lutas e labutas, com a fé das virtudes éticas e morais.
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Que cantaste – tu? Tu – que cantaste? Cantaste tu – o quê?
O conhecimento do ser nas dialéticas da ec-sistência, o vazio do não-ser na profundidade ausente/presente, na superficialidade dos interesses/ideologias, nos desejos forclusivos da psique e mente; a fé no ser que des-vela a floresta silvestre do sentimento, o abismo profundo da alma nas fontes metafísicas do divino, na teologia imanente da transcendência.
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Cantaste o quê – tu? Quê – cantaste tu? Cantaste – tu, o quê?
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O amor que só vive de entrega e doações, o carinho que só ec-siste de toques e re-toques. A ternura que só alimenta o sensível e a sensibilidade de sorrelfas do sentimento e emoções. A compreensão que fecunda o coração dos homens, o entendimento que rega o espírito, a solidariedade que comunga o eu e o outro e condu-los ao desejo da conquista e real-ização. A paz de saber a vida, koinonia do sonho e verbo.
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De que modo - cantastes? Cantastes – de que modo? De quê – cantastes o modo?
Na melodia simples de versos profundos, que ascendem ao numinoso os verbos do eterno, na eternidade da memória, na lembrança do espírito subterrâneo, na re-cordação do inconsciente da alma; na musicalidade ingênua e inocente de estrofes que rogam a intuição pura da vida, a percepção singela das veredas que ao ser da floresta nos envia para con-templarmos a suavidade do uni-verso, a tern-idade do infinito, a sublimidade do horizonte no crepúsculo da sensibilidade, a éter(idade) do cristal-vida na dialética do ser no não-ser da dialética; no ritmo sensível de palavras poiéticas, de poiéticos significados nos significantes do verbo que precede a carne, de poéticos inter-ditos na significância dos sentidos não revelados.
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A quem amastes – tu? Tu – amastes a quem? A quem tu – amastes?
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À doce esposa e companheira, às pestinhas/pentelhos tão lindos e graciosos, aos homens, a quem desejastes a plenitude da fé, o verbo do amor, entre-vírgulas o adjetivo do divino, advérbio do espírito maligno; a Deus amou na divin-idade de seu Ser, no Ser da divin-idade do amor; a Cristo rogou e implorou, contemplando a Salvação, redenção, a liberdade humanística da Vida/Ser, o Ser humanístico da Liberdade/Vida, a Vida humanística do Ser-Liberdade.
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Nobremente sofreste – tu? Sofreste tu – nobremente? Tu – sofreste nobremente?
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Como homem de fé, esperanças, quem com-preendeu, sentiu, viveu, vivenciou, experimentou os atos-falhos, a forclusividade, a ausência, o vazio, mas no espírito, ainda que a alma des-esperançada abisma-se nas cataratas de fontes abissais, cantaste a canção do espírito, os cânticos do amor e do verbo, cantastes a solidariedade, compaixão, num mundo de sofrimento, dores, angústias; sofreste nobremente, a nobreza da esperança da fé, do amor sofrestes em busca do Espírito/Ser.
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Foste tu – homem forte? Homem forte foste – tu? Tu, homem – fostes forte?
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Sinto a tua força nestas palavras, nesta linguagem de meus sentimentos, neste estilo de elaborar as emoções que revelam a tua ausência no mundo, no coração de todos os que receberam tuas lições, teus conselhos, teus desejos de liberdade, fé, esperança; no espírito de tua família que alimentou de tua alma compassiva e solidária o amor de teu verbo-conhecer o simples, os versos, estrofes de sensibilidade, as notas, ritmo, musicalidade. Mas a tua presença sensível e intelectual em todos os séculos e milênios de nossa vida, de todos nós que contigo convivemos, aprendemos a amar o belo, a beleza, a desejar o que liberta, será Estrela Polar que nos guiará, mostrar-nos-á as veredas dos campos silvestres por onde trilhar e querer o amor... A esperança... A fé....
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Voz aberta ao insondável, eis que, porém, reconheço agora que se abre apenas ao insondável de mim. Regresso a mim, ao meu corpo distinto e classificável onde todo o milagre aconteceu. E pergunto-me, suspenso, como foi possível, como é que breve semente abriu assim até essa Voz, até ao silêncio donde essa Voz se re-velou, donde essa Voz falou, donde essa voz gritou a todos os ventos os seus medos e esperanças. Frente ao grande sono dos homens que o esqueceram, na atenção inexorável ao sem limite de mim, a minha vigília arde como um fogo assassino. Lume breve na minha intimidade, na brevidade de um pequeno ser, eu, anônimo e avulso, ocasional e frágil – eu. E todavia, esse lume vibra de vigor, brilha único e intenso contra o assalto da noite, contra o salto do sono ao sonho, contra a travessia do sono à vigília.
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Trago em mim a força monstruosa de interrogar, mais força que a força de uma pergunta. Porque a pergunta é uma interrogação segunda ou acidental e a resposta, a espera para que a vida continue a sua jornada sem limites em busca do “Ser”, em busca de suas águas.
#riodejaneiro, 29 de fevereiro de 2020@

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